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Eleições 2018

Preferência partidária, mais do que IDH, moldou voto nos municípios

Votações do PT em 2006 e em 2014 têm mais peso que as condições de emprego, renda e educação

Vinicius Torres Freire
São Paulo

Os eleitores mais pobres votariam mais em Fernando Haddad (PT) do que em Jair Bolsonaro (PSL), registrava a pesquisa Datafolha de intenção de voto à véspera do primeiro turno. Era o caso dos entrevistados com renda familiar inferior a dois salários mínimos.

Uma análise estatística dos resultados da eleição em mais de 5.000 dos 5.564 municípios brasileiros indica que a votação dos dois candidatos variou de modo significativo de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano de cada cidade.

No entanto, os resultados da eleição de 2014 parecem uma pista ainda mais forte do que as condições sociais e econômicas de cada município. Preferências partidárias ou eleitorais anteriores parecem pesar mais do que condições de vida, ao menos no agregado dos votos das cidades.

Quanto maior a votação de 2014 de Dilma Rousseff (PT) em uma cidade, maior a votação de Haddad, menor a de Bolsonaro. Quanto maior a votação de Aécio Neves (PSDB), maior a preferência por Bolsonaro.

Não é lá grande surpresa. No entanto, as diferenças do Índice de Desenvolvimento Humano “explicam” cerca de 50% dos votos da cada cidade em Bolsonaro ou em Haddad.

A votação na eleição presidencial de 2014 “explica” mais de 80%.Trata-se aqui do conjunto dos votos dos candidatos nos municípios. Daí não é possível inferir o comportamento individual dos eleitores, claro, mas é possível ter pistas da influência dos ambientes econômico, social e político locais sobre o voto nas cidades.

Preferência política parece uma pista mais forte do que apenas a pobreza em geral, medida por um IDH. Ainda que exista relação entre os dois fatores, claro, de bem-estar e preferência partidária, fica evidente que há algo mais do que a relação simples entre pobres/ricos e voto Haddad/Bolsonaro.

O índice de desenvolvimento utilizado foi o Índice de Desenvolvimento dos Municípios, elaborado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, a Firjan, assemelhado ao Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. O índice da Firjan, porém, tem a vantagem de ser anual, mais atualizado (o mais recente tem dados de 2016). Agrega informações de várias estatísticas públicas oficiais que ajudam a medir a evolução de emprego e renda, educação e saúde.

Os indicadores da Firjan entre os anos de 2005 e 2016 não permitem dizer que a variação da qualidade de vida nesse período influenciou o voto agregado nas cidades. Isto é, as melhoras de 2005 a 2013 e as pioras de 2013 a 2016 não parecem associadas a variação nas preferências municipais pelo voto em Bolsonaro ou Haddad, pelo menos segundo os dados que existem para municípios.

Mas cidades que deram proporcionalmente mais votos a Lula da Silva em 2006 tendem a dar relativamente mais votos a Haddad, o que outra vez não é grande surpresa, mas a variável Lula 2006 tem mais peso que o Índice de Desenvolvimento Humano.

Foi avaliado tanto o peso da influência de variáveis tomadas individualmente como sua influência conjunta, indicadores que expressam variações nas condições econômicas em geral, no emprego, na saúde, na educação e preferências políticas (pelas votações anteriores de cada cidade).

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