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Eleições 2018

Quando pimenta é refresco

Comunidade internacional que condena Bolsonaro não tem de escolher entre protofascista e candidatos que ninguém acredita

Porto

A pimenta para uns é o refresco dos outros quando se fala em sofrimento alheio. É verdade. Somos muito rápidos a julgar os outros, mas só quando os problemas não são nossos. Se fosse conosco era outra coisa. Mas assim como não é...

Neste domingo (7), o Brasil vai a votos, e a comunidade internacional, através de notícias publicadas nos media internacionais, mostra-se muito preocupada com o que pode acontecer se Jair Bolsonaro sair vencedor.

Só que a maior parte deles não vive, nem conhece o Brasil real.

Bolsonaro é uma personagem truculenta, primária e radical. É favorável à instauração da pena de morte, à castração de violadores e defende a posse armas de fogo pelos cidadãos. É contra a homossexualidade, o casamento de pessoas do mesmo sexo, o aborto e os direitos das minorias afro-americanas. O seu perfil político é de um populista de extrema direita. Por isso é fácil diabolizá-lo. Qualquer democrata que se preze preferia qualquer outro presidente para o Brasil.

Mas então por que é que as sondagens lhe dão a maioria? É aqui que entra a pimenta.

Tenho muitos amigos brasileiros. Artistas, políticos, jornalistas e empresários. Gente cosmopolita, culta e com vidas relativamente confortáveis. Sempre que falávamos de política e vinha à baila o problema da corrupção, eles logo lavavam as mãos e punham a culpa nos políticos do PT. 

Disse-lhes muitas vezes que a culpa do que estava a acontecer era sobretudo deles, porque no meio do terramoto Lava Jato ninguém decente e com a reputação intacta se chegou à frente para ser o próximo presidente, e que um popular juiz justiceiro não chegava para impedir males maiores.

Durante décadas abandonado pelos seus melhores cidadãos, o Brasil chega ao dia das eleições no pior estado de sempre. Violência, medo, desinformação e notícias falsas –ao melhor estilo Trump– fazem a narrativa dos dias negros que antecedem uma das escolhas mais difíceis que os nossos irmãos brasileiros já tiveram de fazer. 

Nem sequer faltam especialistas em democracia e humanismo a condenar aqueles que dizem que vão votar Bolsonaro.

Só que nenhum deles está entre a espada e a parede, a ter de escolher entre um protofascista que promete ordem, e meia dúzia de outros candidatos que ninguém acredita que tragam progresso. 
 

José Manuel Diogo
especialista em media intelligence e colunista do Jornal de Notícias, de Portugal

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