Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Há 'diálogo no fim do túnel' com ministra-pastora, diz presidente da Aliança LGBTI

Para Toni Reis, Damares Alves fez acenos à população LGBTI, como falar 'as travestis', e não 'os'

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São Paulo

Futura ministra de Mulher, Família e Direitos Humanos, a pastora evangélica Damares Alves pode até ter posições indigestas, na ótica progressista, sobre aborto (é contra), feminismo (já disse que “mulher nasce para ser mãe”) e liberação das drogas (usuários ficam “abestados” e viram “massa de manobra”).

Mas ela não é tão ruim assim quando o assunto é direitos LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e intersexuais), na opinião de Toni Reis, uma das principais lideranças brasileiras dessa comunidade.

Com Damares “há, no final do túnel, uma possibilidade de diálogo”, diz ele, presidente da Aliança Nacional LGBTI+. “Não é uma pessoa que falou que não existimos”.

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves, em entrevista a jornalistas em Brasília - Pedro Ladeira - 6.dez.2018/Folhapress

Ele destaca à Folha que, logo após o anúncio de que integraria a Esplanada de Jair Bolsonaro, a pastora usou, em entrevista a jornalistas, a flexão feminina ao falar “as travestis” e disse “orientação sexual”, e não “opção sexual”, já que o grupo não vê a sexualidade como uma questão optativa do ser humano.

Damares afirmou que, se precisar, estará “nas ruas com as travestis, nas portas das escolas com as crianças que são discriminadas por sua orientação sexual”, o que agradou Toni e desagradou lideranças evangélicas.

Os dois já debateram antes, e o fato de Damares, uma advogada que por anos presta assessoria jurídica a causas caras à bancada evangélica, saber o que é Constituição, Código Penal e Civil lhe dá certo alívio. “E ela também falou sobre o mercado de trabalho para pessoas trans, o que é um problema sério para nós”, afirma Reis

É a última entrevista que dá como Toni Reis, avisa. Neste sábado (8), com um sapato de solado nas cores do arco-íris (símbolo LGBTI), ele se casa na Igreja Anglicana com o parceiro de 29 anos e pega o sobrenome dele: vira Toni Harrad.

Conta que estava satisfeito com a união estável deles, mas achou melhor casar logo após a vitória de Bolsonaro, que já declarou preferir um filho morto em acidente a um que seja homossexual.

Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça aprovou uma resolução que obriga todos os cartórios a celebrar o casamento homoafetivo. Há receio, na comunidade, de que o próximo governo, com inclinação conservadora tanto no Executivo quanto no Legislativo, reverta o jogo.

"Se ameaça nossa existência, nós seremos resistência. Se houver recuo de direitos, aí vamos apelar ao Ministério Público, à OEA, à ONU. Temos que sobreviver, né?”, afirma.

A nomeação de Damares, nesse contexto, não foi o apocalipse que frentes LGBTI previam para a pasta. O senador e também pastor Magno Malta (PR-ES) era um dos cotados para a área, mas foi preterido por Bolsonaro e também não se reelegeu.

“O bom barqueiro é aquele que não reclama do vento, e sim ajeita as velas”, diz Reis, futuro sr. Harrad. “Vamos ajeitar as velas, né?”
 

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