Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Após 7 horas, cirurgia de Bolsonaro termina com êxito, diz Presidência

Porta-voz diz que aderências em intestino exigiram do corpo médico 'uma obra de arte'

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São Paulo

Após sete horas, a cirurgia para retirada da bolsa de colostomia​ do presidente Jair Bolsonaro foi encerrada na tarde desta segunda-feira (28) no hospital Albert Einstein, em São Paulo. 

O procedimento —iniciado às 8h30 e encerrado às 15h30— ocorreu "com êxito", segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, e acabou durando mais do que a previsão inicial, que era de três horas.

Internado para cirurgia, presidente Jair Bolsonaro grava vídeo no hospital antes do procedimento e agradece orações
Internado para cirurgia, presidente Jair Bolsonaro grava vídeo no hospital antes do procedimento e agradece orações - Reprodução

A grande quantidade de aderências (partes do intestino que ficam coladas) levou a equipe médica a executar um procedimento mais complexo e demorado do que se esperava.

A opção mais simples era religar as duas pontas do intestino grosso, que estavam separadas, para que o trânsito intestinal voltasse ao normal.

A outra, que teve de ser adotada, exigia a união de uma alça do grosso com o delgado. Para que isso acontecesse, a parte do intestino grosso que estava conectada à bolsa de colostomia foi removida.

Essa intervenção seria adotada se os médicos constatassem que havia muitas aderências e lesões em razão da facada sofrida pelo presidente durante ato da campanha eleitoral, além das duas cirurgias a que ele foi submetido anteriormente. 

“Foi realizada anastomose do íleo com o cólon transverso, que é a união do intestino delgado com o intestino grosso”, informou o boletim médico do Einstein.

"O procedimento ocorreu sem intercorrências e sem necessidade de transfusão de sangue", diz boletim do hospital. Bolsonaro foi encaminhado para a UTI (unidade de terapia intensiva) depois da cirurgia em situação "clinicamente estável, consciente, sem dor, recebendo medidas de suporte clínico, prevenção de infecção e de trombose venosa profunda", afirma a nota.

O porta-voz da Presidência da República, general Rêgo Barros, disse que as aderências no intestino exigiram uma "obra de arte" por parte dos médicos. 

Ele também corrigiu nesta tarde a hora de início da cirurgia, de 6h30, como divulgado inicialmente pela Presidência, para 8h30. Ele justificou a demora pela quantidade de aderências no intestino.

“[Havia] Quantidade muito grande de aderências, em decorrência das duas cirurgias anteriores, e essas aderências exigiram do corpo médico uma verdadeira obra de arte”, afirmou. Em nome do Planalto, ele agradeceu ao hospital Albert Einstein e à equipe médica.

Uma hora depois do fim da cirurgia, o perfil do presidente Jair Bolsonaro no Twitter fez um post com três emojis: uma sequência com a bandeira do Brasil, um sinal de ‘joinha’ e duas palmas de mãos unidas que simbolizam oração. 

Esta é a terceira cirurgia a que ele é submetido desde que sofreu uma facada, em setembro de 2018, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).

Bolsonaro foi internado na manhã de domingo (27) para a realização de exames pré-operatórios e permanecerá no hospital pelos próximos dez dias. 

A primeira-dama, Michelle, e 3 dos 5  filhos do presidente —Jair Renan, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)—, estão no Einstein.

Carlos, o mais próximo ao pai, permaneceu o tempo todo no centro cirúrgico. O senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) e a caçula Laura não vieram.

A Presidência foi assumida na manhã desta segunda pelo vice, general Hamilton Mourão, que ficará no cargo nas primeiras 48 horas seguintes à operação.

Apesar de a cirurgia ter sido mais longa e delicada do que se imaginava, foram mantidos os prazos de retorno às atividades e de recuperação.

 
Bolsonaro deve voltar a despachar na manhã de quarta (30) e contará com um gabinete provisório em uma sala no Einstein, no mesmo andar de seu quarto.
 
Ele deve permanecer na UTI durante todo o período de internação. A previsão de alta está mantida para daqui a dez dias, mas a evolução do quadro será analisada pelos médicos.
 
Bolsonaro não poderá receber visitas nesta terça-feira (29), à exceção dos familiares.
 
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional), sob o comando do general Augusto Heleno, montou uma estrutura para que o presidente possa manter a rotina de despachos. 

O Palácio do Planalto levou à capital paulista auxiliares técnicos e que dão suporte jurídico para a tomada de decisões do chefe do Executivo.

O escritório improvisado contará com um computador com internet, uma impressora e um telefone fixo. O espaço permitirá ainda que Bolsonaro se comunique com ministros e outros auxiliares que estejam fora de São Paulo por meio de videoconferência. 

O governo trouxe também assessores de comunicação, como o porta-voz da Presidência, para a transmissão diária de informações sobre a saúde do presidente e atos do Executivo.

Ao final da cirurgia, Augusto Heleno disse à Folha que a demora se deu pela retirada de aderências do intestino.

“Não é uma cirurgia simples, não é só retirar a bolsa. Tem que abrir de novo e os médicos fizeram isso com o maior cuidado e delicadeza”, disse.

Questionado sobre os custos e o pagamento da cirurgia de Bolsonaro, o porta-voz da Presidência informou que não tinha os dados disponíveis, mas que iria verificá-los.
 

Próximos passos

Com quatro a cinco dias, espera-se que o trânsito intestinal esteja restabelecido e que o presidente comece a evacuar. O maior risco, porém, pode ocorrer nas semanas seguintes à cirurgia. Pelo fato de o intestino grosso ter pouca vascularização, não são infrequentes problemas de cicatrização. O mais temível é a fístula, ou seja, uma abertura no local suturado. É o popular “o ponto abriu”.

Os riscos variam de 5% (em pacientes com boas condições de saúde, como as de Bolsonaro) a 20% (diabéticos e desnutridos, por exemplo).Segundo Carlos Walter Sobrado, professor de coloprotoctologia da Faculdade de Medicina da USP, o risco maior ocorre na primeira semana após a cirurgia, quando o paciente começar a evacuar. 

Mas também pode acontecer um pouco mais tardiamente, a depender das condições do paciente. Um idoso, diabético ou fumante tendem a ter pouca vascularização nos tecidos, o que favorece uma má cicatrização.

“Já tive paciente que fez fistula com 21 dias após a cirurgia. Isso não é culpa do cirurgião ou do material utilizado. É um risco intrínseco a uma cirurgia de intestino grosso”, afirma Diego Adão Fanti Silva, cirurgião do aparelho digestivo da Unifesp. 

Se houver rompimento da sutura e vazamento de fezes na cavidade abdominal, é preciso abrir novamente o paciente. “Aí a gente perde tudo o que foi foi feito. É preciso refazer a colostomia", explica Sobrado.

Nos próximos seis meses após a cirurgia, também há riscos de surgimento de hérnia incisional na parede abdominal. Segundo o cirurgião Wagner Marcondes, que participou da cirurgia de Bolsonaro, o risco de hérnia é consequência do tecido fragilizado em razão de três operações seguidas no mesmo lugar. Por isso é altamente recomendável que o paciente não faça esforço físico no primeiro mês após o procedimento.

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