Maia fecha acordo com partido de Bolsonaro e se fortalece para reeleição

Atual presidente da Câmara, deputado promete ao PSL o comando da principal comissão e deve pautar projetos do novo governo na Casa

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Brasília

Um dia após Jair Bolsonaro tomar posse, o PSL, partido do presidente, anunciou nesta quarta-feira (2) apoio à reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em troca de espaços no comando da Casa.

O presidente da legenda, Luciano Bivar (PSL-PE), disse à Folha que Maia prometeu a presidência da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), a mais prestigiada e disputada da Casa, por onde passam todas as matérias para análise constitucional.

O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante cerimônia de posse do ministro da Economia, Paulo Guedes, em Brasília
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante cerimônia de posse do ministro da Economia, Paulo Guedes, em Brasília - Eduardo Anizelli/Folhapress

A negociação envolveu também a promessa de o PSL ficar com a segunda vice-presidência da Câmara e a presidência da Comissão de Finanças e Tributação.

O nome de Maia já era defendido internamente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como mostrou a Folha em dezembro. O chefe da equipe econômica vê no deputado um fiador da agenda de reformas que o governo pretende implementar.

“O Rodrigo Maia se comprometeu a pautar todas as coisas da nossa campanha”, afirmou Bivar ao confirmar o acordo.

A deputada eleita Joice Hasselmann (SP), que, logo após a eleição, criticou a possibilidade de reeleição de Maia, já havia mudado de discurso e nesta quarta-feira chegou a discutir com internautas que criticaram a decisão do PSL.

“Qual seria a opção? Afundar o governo? Não ter bloco para aprovar nada? Fazer beicinho de criança birrenta e prejudicar milhões de brasileiros por isso?”, escreveu ela, que diz que o apoio é “aliança pela agenda econômica e governabilidade”.

Em outubro, ela havia afirmado à Folha que manter Maia “passaria a mensagem errada” aos eleitores, que desejavam mudança.

O PSL tem a segunda maior bancada da Casa, com 52 de 513 deputados, e pretende chegar à primeira após a janela partidária.

A sigla se junta agora a um grupo maior de apoiadores que já vinha sendo costurado por Rodrigo Maia.

No dia 20 de dezembro, último dia de trabalhos na Câmara, Maia reuniu na residência oficial representantes de PSDB, PR, PP, PRB, PSD, PSB, PDT, PC do B, SD, PPS e Podemos, além de siglas menores que pretendem apoiar a candidatura de Maia.

Líderes destas legendas já começaram a fazer rascunhos da ocupação de espaços na Mesa Diretora e no comando ou relatoria de comissões. Um desenho mais acabado da distribuição dos postos já deve acontecer nos próximos dias.

Alguns dos partidos que apoiarão Maia tinham candidatos próprios. O PRB vai retirar a candidatura do deputado João Campos (GO), nome que mais preocupava o atual presidente da Câmara por ter uma boa interlocução com a bancada evangélica, que atualmente tem 202 integrantes.

Ele desejava se lançar como o escolhido de Bolsonaro, mas isso não se concretizou porque o governo temia apoiar uma candidatura que poderia sair derrotada e viver o mesmo drama que Dilma Rousseff (PT) protagonizou com o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ).

Sem apoio de seu partido, o deputado Capitão Augusto (PR-SP) pretende disputar com uma candidatura avulsa.

Aliados de Maia esperam que o MDB force o atual primeiro vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (MG), a retirar sua candidatura ou ao menos não o apoie na disputa.

Lideranças favoráveis à reeleição também estão na expectativa de que o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) desista de concorrer, já que fica enfraquecido com a adesão do PSL a Maia.

O atual presidente da Câmara deve contar ainda com o apoio do PT, já que é visto como o único candidato capaz de dialogar tanto com a esquerda como com a direita.

“Não temos ilusão de que vamos ter uma Mesa de oposição. Somos o maior partido, mas somos minoritários na Câmara. O que queremos é ter a representação que o povo nos deu, através do voto”, disse o deputado Carlos Zarattini (PT-SP).

O apoio não é consensual no partido. “Devemos insistir com PSB, PCdoB, PDT e PSOL para fazermos um movimento conjunto. Esse bloco popular pode ter um papel decisivo. O discurso da posse do Bolsonaro e os primeiros movimentos do governo reforçam essa necessidade da unidade em defesa da democracia”, disse o líder da sigla na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS).

A presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que se elegeu deputada na última eleição, foi às redes sociais criticar o apoio a Maia em troca de cargos.

“Não durou 24 horas o discurso de Bolsonaro de rompimento com a velha política. Hoje foi selado pelo PSL um acordão envolvendo cargos com os partidos políticos que ele tanto criticou para apoiar reeleição de Rodrigo Maia para a Câmara dos Deputados”, escreveu a petista no Twitter.

SENADO

Além da Câmara, Bivar disse estar preocupado com a sucessão da presidência do Senado e defendeu o lançamento de candidatura própria do partido, do senador eleito Major Olímpio (SP). 

Segundo Olímpio, a decisão ainda não está tomada. "Desde ontem quando ele me deu uma intimada eu ainda estou bambeando o joelho, fiquei de examinar", disse. 

Ele afirma que há a intenção na Casa de construir um bloco de oposição à candidatura de Renan Calheiros (MDB-AL) e que chegou a conversar com pré-candidatos como Tasso Jereissati (PSDB-CE), Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Esperidião Amin (PP-SC) sobre a possibilidade de uma candidatura unificada. 

"Nenhum deles se mostrou intransigente", diz o senador eleito. 

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