Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Ministério cita KGB e diz que jornalista foi treinado pelo Partido Comunista Soviético

MEC reagiu a reportagem sobre censura a conteúdo considerado 'de esquerda' em TV pública para surdos

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São Paulo

O Ministério da Educação divulgou uma nota na noite de quarta-feira (30) na qual acusa o jornalista Ancelmo Góis, do jornal O Globo, de "ser treinado em marxismo e leninismo" pelo Partido Comunista Soviético. O ministério afirmou também que o chefe da pasta, Ricardo Vélez, se recusa a "adotar métodos de manipulação da informação, desaparecimento de pessoas e de objetos que eram próprios de organizações como a KGB", o serviço secreto da antiga União Soviética.

A manifestação foi em reação a uma reportagem do jornal —e confirmada pela Folha— sobre uma lista de "programas proibidos" que começou a circular entre os funcionários da TV Ines.

Menu de vídeos no site da TV Ines, que funciona com verba pública
Menu de vídeos no site da TV Ines, que funciona com verba pública - Reprodução

Vinculada ao Instituto Nacional de Educação de Surdos, a TV Ines exibe conteúdo para a população surda na internet e é mantido com verba do MEC. A produção de conteúdo é feita pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, a mesma que produz a TV Escola.

A lista apontava programas que deveriam ser retirados do site por abordarem autores “de esquerda”, “socialistas”, de conteúdo “relacionado à ditadura militar” e que de alguma maneira mostravam um olhar crítico, segundo o censor, à religião.

Entre as biografias retiradas do ar da TV Ines estão as dos filósofos e acadêmicos Antônio Gramsci, Walter Benjamin, Karl Marx, Emile Durkheim, Friederich Nieztsche e Jean Jacques Rousseau. Filmes e documentários que abordam a ditadura militar —como “Bye Bye Brasil”, de Cacá Diegues e “Uma longa viagem”, de Lúcia Murat— também constam da lista censora.

Também foi retirada do ar uma entrevista com o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), campeã de audiência do canal e que voltou a ser acessada com a notícia de que o parlamentar está deixando o Brasil e desistirá do mandato após sofrer ameaças.

Segundo uma pessoa ligada às instituições, a lista de censura teria sido apenas uma das que foram produzidas pelo diretor-geral da Roquette Pinto, Fernando Veloso, em associação com o diretor de programação, Cláudio Jardim.

Ambos negam que tenham confeccionado a lista, mas Veloso admite que a decisão de retirar o conteúdo do ar partiu dos dois, porque "[o conteúdo] já veiculou demais e não tem porque continuar".  Veloso, no entanto, não soube citar, algum conteúdo excluído que tratava de autores que não os considerados de esquerda.

Ricardo Vélez chegou ao MEC por uma indicação do escritor Olavo de Carvalho, considerado ideólogo do governo Bolsonaro e crítico de um suposto predomínio do pensamento de esquerda na academia. O ministério e as instituições ligadas à TV Ines negam que o pedido para exclusão dos vídeos tenha partido do ministro.

Após a repercussão, Cláudio Jardim afirmou que os programas produzidos pela TV Ines voltarão ao ar em cerca de dois a três dias e que a retirada ocorreu em razão de mudanças no site para acelerar a velocidade de navegação pelos usuários.

Veloso e Jardim sustentam que é prática comum tirar do ar materiais do acervo quando há mudança na grade de programação. Mas isso não foi confirmado por pessoas ouvidas pela reportagem.

Na mesma nota em que fez as acusações contra Ancelmo Góis, o MEC informou que o Ines abriu sindicância para obter informações relacionadas à retirada, sem autorização, de alguns vídeos. Os materiais, segundo a nota, seriam reinseridos no site. Reforçou, ainda, que a decisão não teve participação do ministro da Educação.

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