Antonio Cezar Correia Freire é o pastor Cezinha de Madureira. Eleito deputado federal (PSD-SP) com 119 mil votos é o ungido do bispo Samuel Ferreira, presidente da Assembleia de Deus Ministério Madureira, para alavancar o projeto de poder da igreja.
A alcunha, aliás, é nova e uma das táticas da dupla —em 2014, na campanha para deputado estadual, existia apenas o Pastor Cezinha. Madureira nasceu em Ipiaú, na Bahia, e mudou para São Paulo em 1991 sem qualquer relação com o tradicional bairro homônimo no Rio de Janeiro.
A cada eleição, a Assembleia de Deus é alvo de disputa pelos barões da política. Entre eles, Jair Bolsonaro, o ex-presidente Michel Temer, o atual e o ex-governador de São Paulo, respectivamente, João Doria e Geraldo Alckmin. Muitos frequentam culto ou convenção da igreja em suntuoso prédio no bairro do Brás, em São Paulo.
Madureira e Ferreira são ligados na carne e na alma. O político, de 45 anos, prega que o bispo, de 50 anos, é o seu pai adotivo. E, como um filho obediente, pede a bênção de Ferreira todos os dias.
A Folha apurou que para conceder uma entrevista, elaborar um discurso e propor um projeto, Madureira precisa da unção de Ferreira. “Estou aqui porque a igreja me colocou, foi a igreja que me elegeu. Respondo ao meu povo através do meu líder”, disse Madureira à Folha no final do ano passado.
Dessa vez, o deputado não quis dar entrevista. Avisou que falará com a imprensa somente após a posse, no dia 1º de fevereiro.
Madureira, que desde a adolescência atuou em rádios comunitárias, é reverenciado pela alta cúpula da Assembleia de Deus graças ao carisma e ao “dom da oratória”.
Ele venceu concorrência interna, entre os demais pastores/políticos, para conquistar o posto de número um do bispo Ferreira. O seu colega de púlpito Alex de Madureira, por exemplo, foi o 15º mais votado e eleito deputado estadual com 115 mil votos, mas não desfruta do mesmo prestígio.
Madureira conta que só entrou para a política por iniciativa de Ferreira. Desde o começo da campanha, o bispo acompanhava cada passo de Madureira. Para conquistar a vaga na Assembleia, a dupla rodou o estado de São Paulo e fez inúmeras aparições em programas de rádio e TV.
Embora tenha sido vice-líder do governo na Assembleia, o então Pastor Cezinha teve um mandato discreto e figurou de forma curiosa na lista de propinas pagas pela JBS nas eleições de 2014.
Entre os 1.829 políticos, que teriam recebido R$ 388 milhões de propinas em forma de doações oficiais, Madureira surge com míseros R$ 16. A verba, na prática, era uma doação presumida da campanha do deputado federal Antônio Goulart (PSD-SP) para confecção de santinhos.
Madureira e Goulart fizeram dobradinha na campanha. Goulart figura na mesma lista com repasse de R$ 200 mil.
Também chama a atenção que, como deputado estadual, Madureira tenha dobrado o seu patrimônio, de R$ 230 mil para R$ 469 mil, conforme declaração ao TSE.
Em 2014, Madureira informou à Justiça Eleitoral somente um imóvel localizado em São Paulo e avaliado em R$ 230 mil.
Já em 2018, em sua candidatura de deputado federal, o pastor apresentou uma lista de bens mais rechonchuda: com dois veículos, aplicações bancárias, saldo positivo em conta e plano de Previdência, além de um consórcio não contemplado e uma casa de R$ 380 mil, totalizando R$ 469 mil.
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