Em um discurso quase homogêneo, a bancada do PSL na Câmara passou a cobrar explicações e eventualmente a queda do ministro Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência. Poupa, no entanto, o presidente do partido e colega deputado, Luciano Bivar (PE), pivô da crise no governo Jair Bolsonaro (PSL).
A resposta dos deputados foi afinada no momento em que a temperatura esquentou com a acusação do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que a endossou, de que Bebianno mentiu.
Em entrevista na quarta-feira (14), Bolsonaro afirmou que o ministro terá de "voltar às origens", caso reste comprovado o seu envolvimento no esquema de candidaturas laranjas no PSL, revelado pela Folha.
"Quem estava na presidência da sigla [no período em que repasses suspeitos foram feitos] é quem tem que responder. Bivar não era presidente", disse o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), resumindo a argumentação da bancada. "Bebianno ou sai, ou explica." O ministro ficou no comando da sigla durante a campanha eleitoral, mas diz ter se ocupado apenas das candidaturas de Bolsonaro e outras pontuais.
Na quarta, Bivar promoveu um jantar entre deputados do partido e azeitou relações, não raro explosivas, na bancada.
Um grupo ligado a Bolsonaro avalia que, se a situação de Bebianno já se tornou insustentável, a de Bivar está longe de ser confortável. Ele sofrerá efeitos politicamente e eventuais processos disciplinares internos ou pedidos de cassação, disseram. Mas a consequência imediata caberá ao ministro da Secretaria-Geral, dado o choque com a família presidencial.
Segundo deputados, Bivar afirma que tem créditos com Bolsonaro por ter arrendado o PSL na campanha. O presidente, por sua vez, sustenta que o partido não tinha expressividade até a onda que o impulsionou --e, junto, 52 deputados (hoje são 54), ante um eleito em 2014.
Há uma tensão entre esses grupos, mas a bancada tenta se proteger.
"Ninguém vai crucificar ninguém", disse o deputado Nelson Barbudo (PSL-MT). "O PSL está coeso, inclusive em relação ao seu presidente Bivar, que trabalhou muito para o governo. Ele tem o respeito de muitos, inclusive o meu."
Embora publicamente tentem minimizar o impacto da crise na Câmara, a expectativa em relação a seu desfecho escapa. "Cada vez que um cai, todo mundo comemora, é gol", disse Coronel Tadeu.
Congressistas querem evitar críticas em público, mas se incomodam com a repercussão negativa entre o seu eleitorado que terá o escândalo no seio do governo, eleito empunhando a bandeira do combate à corrupção e velhas práticas fisiológicas.
"Essa briga é problema deles, não me meto nisso. Eles que se entendam", disse Alexandre Frota (PSL-SP). "Sou muito independente no partido. Se [algum dos envolvidos] tiver que sair, tem que sair. Se tiver que ser expulso, tem que ser expulso. Se tiver que ser processado, tem que ser processado, e acabou o assunto."
Frota afirmou que uma consequência já está clara. "A Previdência vai ser uma guerra, para todo mundo", previu.
Na tribuna da Câmara, o deputado do PSL usou uma laranja e disse que "laranja podre, no PSL, será esmagada".
Deputados apostam que a oposição usará o caso para dificultar o quanto puder a votação da reforma, prioritária para o governo. "Quem tenta atrapalhar é PT, PSOL, os partidos de esquerda. Eles que ficam procrastinando, obstruindo", disse o deputado Helio Lopes (PSL-RJ), conhecido como Helio Negão, ou Helio Bolsonaro, escudeiro do presidente.
Segundo Joice Hasselmann (PSL-SP), "não precisa ser muito inteligente para entender que realmente há um desgaste, mas não é essa sangria desatada".
"Torço para que a gente possa passar um passo a frente, que é a reforma da Previdência. A gente não pode ficar igual cachorro correndo atrás do rabo por conta de uma briguinha aqui, outra acolá."
Reportagem da Folha de domingo (10) revelou que o grupo de Bivar criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição. O dinheiro foi liberado por Bebianno.
Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos.
A candidatura laranja virou alvo da Polícia Federal, da Procuradoria e da Polícia Civil.
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