Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Antigo reduto lulista celebra 13º do Bolsa Família de Bolsonaro com desconfiança

Governo de Pernambuco também vai garantir parcela extra para beneficiários do programa federal

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Recife

Adriana de Lima, 43, mãe de 8 filhos, moradora de Alto José do Pinho, reduto historicamente lulista na periferia do Recife, deu uma gargalhada incrédula quando informada pela Folha de que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) iria anunciar, nesta quinta-feira (11), o 13º do Bolsa Família.

“Bolsonaro? Você está brincando. Ele é rígido. Diziam que Bolsa Família era coisa de vagabundo. Onde passou isso?”, perguntou.

 
Palafitas no bairro dos Coelhos, na periferia do Recife
Palafitas no bairro dos Coelhos, na periferia do Recife - João Valadares/Folhapress

Ela integra um grupo de 3,3 milhões de pernambucanos (de 1,1 milhão de famílias, 35% da população) que recebem Bolsa Família e que vão ganhar também uma parcela extra do governo estadual para beneficiários do programa social de transferência de renda. A medida foi anunciada na semana passada pelo governador Paulo Câmara (PSB). 

“Esse 13º de Paulo Câmara eu vi passar no repórter. Pobre não recebe duas notícias boas seguidas assim”, brinca. 

Adriana votou em Fernando Haddad (PT) nas últimas eleições presidenciais. Ganha R$ 480 do programa federal, mas tenta resolver um problema no cadastro, ocorrido em março, porque o filho perdeu a vaga na escola.

Na prática, após a confirmação do 13º pelo governo federal, os pernambucanos que recebem Bolsa Família vão ganhar uma espécie de 14º.

Os benefícios adicionais, tanto do governo federal quanto do estadual, não estão interligados. Por isso, um não anula o outro. Na semana passada, Pernambuco anunciou o pagamento do extra com recursos próprios que podem chegar a até de R$ 175 milhões por ano.

Principal promessa de campanha do governador Paulo Câmara (PSB), a parcela adicional do Bolsa Família é limitada a R$ 150.

 

Para quem recebe valor do benefício social abaixo de R$ 150, o programa estadual prevê a ampliação do valor através da inserção do CPF na Nota Fiscal de Consumidor Eletrônica. No estado, 54% dos beneficiários ganham R$ 150 ou mais.

Folha conversou nesta quarta-feira (10) com beneficiários do Bolsa Família em quatro bairros pobres da capital pernambucana, onde Jair Bolsonaro perdeu a eleição no segundo turno para o petista Fernando Haddad (52,5% a 47,5%). Em Pernambuco, a diferença foi maior: 66,5% contra 33,5%

No Recife, que conta com 93 mil famílias cadastradas no Bolsa Família, o sentimento em relação à novidade anunciada pelo presidente se repete: surpresa e bastante desconfiança.

No Ibura, na zona sul da capital pernambucana, bairro que lidera o número de famílias cadastradas no programa, o desempregado Pedro Firmino da Silva, 49, comemora o anúncio de Bolsonaro, mas diz que só acredita quando sacar o dinheiro.

A família dele recebe R$ 230 de benefício. “Eles falam que somos vagabundos e agora estão dando assim de mão beijada? Será que já estão pensando na eleição? Claro que, se for verdade, quero o 13º, mas não muda nada o que acho deste presidente”, afirma.

Com uma foto descascada de Lula colada no armário, lembra que sempre falaram mal de quem ganhava o Bolsa Família. “Nós fomos humilhados. Na eleição, mandaram a gente comer capim. Mas acho que temos alguma importância, não é?”, ironiza.

No bairro dos Coelhos, onde ainda há moradores de palafitas, Janaína Silva de Oliveira, com 3 filhos pequenos e desempregada há quatro anos, ganha R$ 212.

Lulista, apressa-se para dizer que votou em Bolsonaro nas últimas eleições. Acredita que o presidente quer conquistar as pessoas pobres.

“O senhor sabe que aqui é Lula. Eu votei em Lula nas outras eleições, em Dilma, mas fui Bolsonaro agora. Ele quer que as pessoas fiquem do lado dele. Vou esperar para saber se é verdade mesmo”, afirmou. 

Vizinha de Janaína, Ingrid Kely Portela Paulino, 35, balança o sobrinho recém-nascido nos braços diante de um calor infernal dentro da palafita em que mora. Com três filhos, há 15 anos, ela recebe o Bolsa Família.

“Eu ganho, agora, R$ 171. Sei que vou receber essa parcela a mais que Paulo Câmara prometeu. Vi na televisão. Essa de Bolsonaro só com a ajuda de Deus mesmo."

 

Ingrid diz que sempre esteve com Lula e Dilma, mas decidiu anular o voto no ano passado. “Eu não aguento mais votar. Como posso acreditar no que eles falam? Eles querem voto, tudo bem. Mas olhe onde estou morando. Numa palafita ainda. Disseram que iriam nos tirar daqui faz muito tempo”, lembra.

Sem gás para cozinhar, ela, que trabalhou como doméstica até fevereiro deste ano, recorre a uma vizinha. “Só o gás é quase metade do que ganho do Bolsa Família. Vai embora o dinheiro todo”, reclama.

Dados gerais do Bolsa Família em Pernambuco

Famílias beneficiárias: 1.178.975
Pessoas beneficiárias: 3.314.065
Percentual da população beneficiada: 35%
Benefício médio mensal: R$ 182,44
Valor repassado em março: R$ 215.088.273
Valor repassado em 2018: R$ 2.489.016.559

Características dos beneficiários
Situação de extrema pobreza (até R$ 89): 89%
Situação de pobreza (de R$ 89 até R$ 178): 9%
Situação baixa renda (de R$ 178 até meio salário mínimo): 2%
Pessoas do sexo feminino: 58%
Pessoas do sexo masculino: 42%
Responsável familiar: 82% são mulheres
Faixa etária
De 0 a 6 – 17%
De 7 a 15 – 23%
De 16 a 17 – 5%
De 18 a 39 - 35%
De 40 a 59 – 18%
A partir de 60 – 2%  

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.