Manifestantes criticam órgãos de imprensa em atos pró-governo

Repórteres foram hostilizados por participantes e alvo de vaias

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Rio de Janeiro , Salvador , Belo Horizonte, Fortaleza e Curitiba

Além do Congresso, do Judiciário e dos partidos políticos, os manifestantes que foram às ruas neste domingo (26) em todo o Brasil, em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), também tinham outro alvo: a mídia.

A cobertura da imprensa tradicional foi criticada em diversos atos e manifestantes se recusaram seguidas vezes a falar com a Folha. Outros veículos, como a Rede Globo, também foram criticados. 

Manifestantes em ato pró-Bolsonaro na avenida Atlântica na manhã deste domingo
Manifestantes em ato pró-Bolsonaro na avenida Atlântica na manhã deste domingo - Ricardo Borges/Folhapress

Na praia de Copacabana, zona sul do Rio, três manifestantes se recusaram a falar com a reportagem. "Você disse que é da Folha? Não falo, não", afirmou um homem após ser questionado sobre os motivos pelos quais compareceu ao ato. "É só você ouvir", respondeu, apontando para o carro de som. 

O bancário Jefferson dos Santos, 36, aceitou falar. Com uma placa com os dizeres "Respeitem meu voto! Respeitei o de vocês durante 16 anos!", ele foi ao ato defender que a mídia recue nas críticas ao presidente.

Ao final da conversa, o entrevistado quis tirar uma selfie com a repórter e publicá-la em suas redes, pedido que foi negado.

Outra repórter que cobria o mesmo ato foi hostilizada após abordar uma mulher, que subiu o tom de voz e afirmou que a jornalista não sabia do que ela seria capaz caso não deixasse o local. 

Em Salvador, segurando uma faixa contra o “toma lá dá cá”, o corretor de imóveis Borges Oliveira, 65, criticou a cobertura política da Folha após ser indagado sobre Bolsonaro já ter feito parte do centrão que hoje condena.

Folha? Folha, não. Não falo com a Folha de S.Paulo. A Folha é petista. O que eu tenho a dizer é que estou aqui pelo bem do Brasil. Eu sou patriota, contra a corrupção, a bandalheira”, disse.

Ao longo do percurso, profissionais da Rede Bahia, afiliada local da Globo, também foram vaiados pela multidão.

Em Belo Horizonte, manifestantes também se negaram a falar com a reportagem. "A Folha presta um desserviço para o Brasil. Vai lá na cadeia entrevistar o triunvirato de ídolos de vocês, vai", afirmou uma mulher.


Em Fortaleza, um homem disse à repórter da Folha que ela deveria ter medo de estar no protesto e que não era bem-vinda. Em seguida, do trio elétrico, anunciaram: "Tem uma pessoa fazendo uma pesquisa. Imprensa não é bem-vinda. Não respondam".

Neste momento, dois organizadores que falavam à reportagem pediram que as pessoas do alto do trio interrompessem a crítica à imprensa.
 

Agressão

Em Curitiba, a fotógrafa Giorgia Prates registrou um boletim de ocorrência depois dos atos em favor de Bolsonaro, no final da tarde, relatando ter sido agredida por alguns manifestantes. 
 
Ela estava a serviço do jornal Plural e contou ter sofrido a agressão enquanto tentava registrar uma confusão na praça Santos Andrade, em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde os manifestantes se reuniram. 
 
Segundo ela, o público agredia duas mulheres que tentavam recolher uma faixa que estava no local e foi retirada pelos manifestantes. A faixa continha os dizeres “em defesa da educação” e foi colocada entre os pilares da UFPR durante os protestos contra o contingenciamento da verba federal para a educação. 
 
“Eles estavam tirando a faixa do prédio histórico e tinha anunciado que iam guarda para dar para a polícia. Então eu vi uma confusão com duas meninas que tentaram recolher a faixa. Elas foram agredidas e comecei a fotografar, até que começaram a anunciar no caminhão de som que eu era esquerdista também”, conta.

Segundo a fotógrafa, após o anúncio no caminhão de som, ela também passou a ser agredida com xingamentos e chegou a levar um tapa de um dos manifestantes. Eles também teriam tentado impedir que ela registrasse a agressão sobre as mulheres que tentavam recolher a faixa.
 
O sindicato dos jornalistas do Paraná afirmou nas redes sociais que ao menos três jornalistas e um estudante de jornalismo foram agredidos na manifestação em Curitiba. A instituição repudiou as agressões.
 
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