Lula vê promiscuidade em mensagens entre Moro e Deltan na Lava Jato

Advogados discutem com petista estratégia para tentar anular condenação com base em conversas vazadas

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Curitiba

O advogado José Roberto Batochio, um dos defensores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), revelou que o político ficou surpreso com dois pontos envolvendo o vazamento de mensagens trocadas entre os procuradores da força-tarefa da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro: a rapidez em que “a verdade foi revelada” e a “promiscuidade” demonstrada pela troca de mensagens.

Segundo Batochio, o petista afirmou que "a verdade fica doente, mas não morre nunca".

“Não esperávamos que ela [a verdade] se recuperasse tão rapidamente. O segundo motivo da surpresa foi o grau de promiscuidade revelado nas trocas de diálogo por esse sistema. Ele acreditava que isso não viesse à tona tão rapidamente porque o esquema aqui é tão bem estruturado, tão organizado que era praticamente impugnável, e não mais que de repente o jornalismo iluminou esse episódio que era secreto, assustador, que se verificava nesse país”, disse o advogado.
 
Batochio afirmou ainda que causou estranheza o fato de Sergio Moro ter dito que as conversas entre defesa e acusação são comuns ao magistrado, já que ele mesmo teve uma visita recusada pelo ex-juiz, quando do primeiro depoimento de Lula à Justiça Federal, em maio de 2017. Batochio disse querer tratar das condições de segurança e logística para a audiência.

 

“Ele mandou um recado através da diretora de secretaria que não iria me receber e que dissesse o que tinha a dizer por escrito. Me causa surpresa ao ver que, em relação aos acusadores, o tratamento era muito diferente. Ele não só recebia como trocava altas opiniões e altas considerações a respeito de como se acusarem, encaminhar, se tendo por verdadeiras essas gravações”, revelou.

Mensagens divulgadas no domingo (9) pelo site The Intercept Brasil mostram que o ex-juiz Sergio Moro e procurador Deltan Dallagnol trocavam colaborações quando integravam a força-tarefa da Lava Jato.

Os dois discutiam processos em andamento e comentavam pedidos feitos à Justiça pelo Ministério Público Federal.

Após a publicação das reportagens, a equipe de procuradores da operação divulgou nota chamando a revelação de mensagens de “ataque criminoso à Lava Jato”. Moro também negou que haja no material revelado "qualquer anormalidade ou direcionamento" da sua atuação como juiz.

Batochio e Cristiano Zanin, outro defensor do ex-presidente Lula, estiveram com o petista nesta terça-feira (11) na cela em que ele está preso na Polícia Federal, em Curitiba (PR), discutindo a estratégia que pretendem adotar a partir da revelação do conteúdo das mensagens.

“[Houve] absoluta falta de imparcialidade e equidistância das partes. A acusação foi tratada de forma diferente da defesa, há claramente uma coordenação do juiz da causa em relação ao trabalho da acusação. Isso não é permitido, isso, ao contrário, afronta a nossa Constituição, a legislação”, disse Zanin.

Ele afirmou que a defesa ainda está estudando novos recursos, mas espera que o Supremo Tribunal Federal (STF) analise os habeas corpus já impetrados pelos advogados.

Mais contido, o ex-prefeito de São Paulo e ex-presidenciável Fernando Haddad (PT) afirmou que é preciso ter cautela sobre os fatos revelados no vazamento das mensagens dos procuradores da Lava Jato.

“Temos que ter cautela, cuidado, até para não incorrer no mesmo tipo de equívoco que foi cometido contra o presidente Lula. Temos que ter a sabedoria de não cometer o mesmo tipo de equívoco. Tem que ter sobriedade e tranquilidade para apurar tudo e, uma vez toda a verdade vindo à tona, podemos tomar as medidas reparadoras do mal que ele sofreu durante esse período”, disse na saída da visita a Lula, com quem ficou por cerca de três horas.

Haddad insistiu que é preciso ter acesso a todo o material obtido pelo site The Intercept Brasil antes que a defesa de Lula possa tomar medidas judiciais. “Pretendemos ter todo acervo que entendo que vai ser divulgado e aí vamos sim poder elaborar uma peça consistente que vai apenas ratificar o que o presidente vem dizendo desde o início das investigações”, ressaltou.

O político não quis antecipar as declarações de Lula sobre o conteúdo das mensagens, justificando que o petista terá essa oportunidade em entrevista a ser dada nesta quarta-feira (12) à rede TVT. “Ele mantém a esperança cada vez mais sólida de que a verdade vai prevalecer e que as coisas vão se revelar aos poucos. Sabe que é um processo lento que exige cautela, cuidado, mas cada vez mais confiante de que toda verdade a seu respeito vai ser revelada e que a sua inocência vai ser ao final comprovada, sempre foi a expectativa dele”, afirmou.

 
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