Bolsonaro acusa Witzel de manipular investigação do assassinato de Marielle

Presidente diz que a sua vida virou um inferno desde a eleição do seu ex-aliado, e governador afirma que vai processá-lo

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro acusou nesta quinta-feira (21) o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de manipular as investigações do caso Marielle Franco e disse que a sua vida “virou um inferno” desde a eleição do seu ex-aliado.

"Esse é o trabalho, em parte, desse governador que tem obsessão de ser presidente da República. Dizem alguns que no seu gabinete ele usa a faixa presidencial", afirmou Bolsonaro, durante a cerimônia de lançamento da Aliança pelo Brasil, partido que ele pretende criar após o racha com o PSL. 

O presidente da República Jair Bolsonaro e governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel
O presidente da República Jair Bolsonaro e governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel - Marcos Corrêa - 11.out.2019/PR

"Acabaram as eleições e ele botou na cabeça que quer ser presidente. Direito dele e de qualquer um de vocês. Mas ele também botou na cabeça destruir a reputação da família Bolsonaro. A minha vida virou um inferno depois da eleição do senhor Wilson Witzel, lamentavelmente", acrescentou o presidente, que disse ainda que o governador do Rio tem usado a Polícia Civil do estado para atingir esse objetivo. Bolsonaro se referiu à investigação sobre o assassinato da vereadora do PSOL, em março de 2018.

O presidente foi citado na apuração do caso por um porteiro do condomínio no Rio de Janeiro onde ele tem casa. Num depoimento dado à Polícia Civil, o funcionário havia atribuído a Bolsonaro a autorização para a entrada no condomínio Vivendas da Barra de um dos acusados no crime. Em nova oitiva, desta vez à Polícia Federal, o porteiro recuou e disse que errou ao mencionar o presidente na autorização.

Nesta quinta,  Witzel afirmou que pretende processar Bolsonaro pelas acusações de manipulação no caso Marielle. Ao chegar em Lima, no Peru, onde vai acompanhar a final da Libertadores entre Flamengo e River Plate, no sábado (23), Witzel disse que, desta vez, o presidente "passou dos limites". 

"As declarações não são de um presidente, são do sujeito Jair Bolsonaro. São acusações levianas. Ele está acusando um governador de estado de manipulação. A polícia do Rio de Janeiro é independente. O senhor Bolsonaro passou dos limites. Vou tomar providências legais contra ele e iniciar uma ação penal para que ele pare de me acusar de fatos que não pratiquei. Da minha parte, eu tenho a consciência tranquila", disse o governador.

Fachada do condomínio Vivendas da Barra, localizado na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio
Fachada do condomínio Vivendas da Barra, localizado na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio - Raquel Cunha - 5.jan.18/Folhapress

Durante evento da Aliança pelo Brasil, também nesta quinta, Bolsonaro repetiu um relato da sua conversa com Witzel sobre as investigações. Ele disse que encontrou o governador em 9 de outubro e que, na ocasião, foi informado pelo governador de que "o processo foi ao Supremo".

"Perguntei: 'Como você sabe disso se o processo corre em segredo de Justiça?'", afirmou Bolsonaro, para em seguida dizer que Witzel está manipulando a investigação. 

"Já sabia das intenções [do Witzel], do que ele vinha fazendo. Ele vinha manipulando esse processo. Parece que não interessa à esquerda chegar aos mandantes do crime, mas usar esse crime bárbaro, que todos nós repudiamos, para atingir a reputação de pessoas outras." 

De fato a menção ao nome de Bolsonaro foi comunicada ao STF (Supremo Tribunal Federal), mas, segundo a Procuradoria-Geral da República, o caso foi arquivado. 

O governador do Rio nega ter vazado qualquer tipo de informação e disse que nem sequer teve acesso às investigações do caso Marielle. 

Nesta quinta, o presidente comentou a citação do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), seu filho, em depoimentos sobre o assassinato de Marielle. ​Bolsonaro tem duas casas dentro do condomínio Vivendas da Barra: uma onde ele morava com a família e outra onde reside Carlos.

Na Câmara Municipal, Carlos se envolveu em uma ríspida discussão em 2017 com um assessor de Marielle. Na ocasião, a vereadora chegou a intervir para acalmar o filho de Bolsonaro.

O assessor envolvido no episódio já prestou depoimento durante a investigação sobre o assassinato.

A polícia do Rio, porém, intensificou nas últimas semanas a busca por testemunhas para entender melhor as circunstâncias do bate-boca, que já era de conhecimento dos investigadores e havia sido mencionado por Carlos anteriormente. 

Sobre esse assunto, Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que agora "tentam envolver o Carlos" nas investigações. "Parte de alguns no Brasil quer jogar para cima de mim a possibilidade de eu ser um dos mandantes do crime da Marielle", acrescentou.

Ao dizer que a hipótese não é verdadeira, Bolsonaro disse que ele seria um "imbecil" se recebesse um dos responsáveis pelo crime em sua casa. O presidente reafirmou ainda lamentar o assassinato da vereadora. ​

Em um último ataque a Witzel, o presidente disse que governador deveria ter gratidão, porque ele não teria sido eleito sem a ajuda de Carlos e de seu outro filho, o senador Flávio Bolsonaro. 

 

Com Uol

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