Operação policial falha ao tentar prender miliciano ligado a gabinete de Flávio Bolsonaro

Ex-capitão do Bope é acusado de comandar a mais antiga milícia do Rio de Janeiro

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Rio de Janeiro

As polícias da Bahia e do Rio de Janeiro tentaram prender nesta sexta (31), em um condomínio em Porto de Sauípe (a 105 km de Salvador), o ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, 43, acusado de comandar a mais antiga milícia do Rio de Janeiro e suspeito de integrar um grupo de assassinos profissionais do estado.

Ele também é citado na investigação que apura a prática de "rachadinha" no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

A operação da Polícia Civil dos dois estados, contudo, não teve êxito no litoral baiano: Nóbrega não estava no local, só sua mulher, Júlia Melo, e duas filhas do casal, uma de 17 anos, outra de 7. Elas estariam passando férias no endereço.

Adriano Magalhães da Nóbrega é acusado de chefiar grupo de matadores de aluguel no RJ
Adriano Magalhães da Nóbrega é acusado de chefiar grupo de matadores de aluguel no RJ - Divulgação/Polícia Civil

O ex-policial, que já foi capitão do Bope, está foragido há mais de um ano. No rol de acusações contra ele estão ter envolvimento em diversos homicídios no Rio e ser sócio no jogo de máquinas caça-níqueis. Seria chamado de "patrão" por membros da milícia de Rio das Pedras, a mais bem estruturada do Rio.  

A operação foi comandada por policiais civis do Rio, com base numa ordem de prisão expedida em 2019. Segundo a corporação policial da Bahia, uma equipe de sua Coordenação de Operações Especiais "prestou apoio a uma operação para cumprimento de mandado".  

À revista Veja Júlia disse que a operação foi truculenta. “Eles quebraram a minha porta, arrancaram o forro do teto da casa, me xingaram de puta e piranha, e botaram um fuzil na cabeça de uma criança de sete anos, perguntando: ‘Onde está o seu pai?'”. 

A Polícia Civil baiana diz que eventual desvio de conduta de algum agente que participou da ação será investigado pela Corregedoria da Polícia Civil da Bahia, "assim que o caso for devidamente notificado". 

A Polícia Civil do Rio diz que recebeu informações sobre o paradeiro de Nóbrega e enviou um delegado e dois agentes de sua subsecretaria de inteligência para o estado nordestino. ​

O ministro Sergio Moro e o senador Flávio Bolsonaro, em evento na Câmara dos Deputados
O ministro Sergio Moro e o senador Flávio Bolsonaro, em evento na Câmara dos Deputados - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Nesta semana, reportagem da Folha mostrou que o Ministério da Justiça e Segurança Pública, sob o comando do ex-juiz Sergio Moro, não incluiu o ex-capitão Adriano na lista dos mais procurados do Brasil.

De acordo com a pasta, ele não foi incluído porque "as acusações contra ele não possuem caráter interestadual, requisito essencial para figurar no banco de criminosos de caráter nacional".

De fato, 25 dos 27 que compõem a lista são apresentados pelo ministério como tendo uma atuação regional ou nacional.

Há na lista de Moro, porém, dois integrantes de uma milícia de outro bairro da zona oeste. Em seus perfis publicados na página da pasta, sua área de atuação indicada é apenas o Rio de Janeiro. São eles: Wellington da Silva Braga, o Ecko, e Danilo Dias Lima, o Tandera, seu braço direito. Os dois atuavam em Campo Grande.

De acordo com o Ministério Público, contas bancárias controladas por Adriano foram usadas para abastecer Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador, suposto operador do esquema no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro. Queiroz é amigo do presidente da República.

Adriano teve duas parentes nomeadas no antigo gabinete do senador Flávio. Mensagens interceptadas com autorização judicial mostram ele discutindo a exoneração da mulher, Danielle da Nóbrega, do cargo.

Ele também foi defendido pelo presidente Jair Bolsonaro em discurso na Câmara dos Deputados, em 2005, quando foi condenado por um homicídio. O ex-capitão seria absolvido depois em novo julgamento.

Enquanto estava preso preventivamente pelo crime, foi condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes.

Ele está foragido desde janeiro de 2019 quando foi deflagrada a Operação Os Intocáveis, contra acusados de integrar a milícia de Rio das Pedras.

Meses antes da operação, ele trocou mensagens com a mulher Danielle da Nóbrega sobre sua exoneração do cargo. Quando a ex-assessora de Flávio se queixa de sua exoneração em novembro, Adriano afirma que “contava com o que vinha do seu tmbm [também]”. Para o Ministério Público, a frase revela que o ex-capitão também ficava com parte do salário dela.

Em outro diálogo, Adriano afirma que iria conversar com Queiroz sobre a exoneração, a fim de evitá-la. O ex-assessor de Flávio é chamado apenas de “amigo”.

Apesar das transações financeiras, as mensagens também mostram que a família Bolsonaro se preocupava com a eventual vinculação do gabinete de Flávio com o ex-capitão.

"Sobre seu sobrenome... Não querem correrem risco, tendo em vista que estão concorrendo e visibilidade que estão. Eu disse que vc está separada e está se divorciando", escreveu Queiroz para Danielle em dezembro de 2017.

A ex-assessora explica que permanecem casados, mas "separados de corpos" e pede para ser mantida no cargo. Ela ficou até novembro de 2018.

Na ocasião desta troca de mensagens, Adriano não era considerado foragido e não respondia mais a ações penais. Ele já havia sido expulso da Polícia Militar em 2014 porque, para a corporação, ele atuou como segurança de um bicheiro.

Não há nas mensagens nenhuma indicação de que Queiroz e a família Bolsonaro soubessem da atuação de Adriano com a milícia de Rio das Pedras.

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