Dividido entre Amoêdo e Zema, Novo posterga decisão sobre impeachment de Bolsonaro

Ex-presidenciável pede saída de Bolsonaro, enquanto governador de Minas defende presidente

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São Paulo

A crise política jogou as duas figuras de maior expressão nacional do Novo em campos opostos, criando um potencial conflito interno para a jovem legenda.

Fundador do partido, o empresário João Amoêdo pisou no acelerador na oposição ao presidente Jair Bolsonaro desde o início da crise do coronavírus e passou a defender sua saída por renúncia ou impeachment.

O movimento foi acompanhado por uma reação igualmente assertiva do principal detentor de mandato da legenda, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que hoje se comporta como um aliado do presidente.

O ex-candidato à Presidência João Amoêdo, do Partido Novo, que defende a saída de Jair Bolsonaro - Gabriel Cabral - 22.mai.2019/Folhapress

Em recente entrevista à Folha publicada no domingo (26), Zema defendeu Bolsonaro, dizendo que ele tem sido criticado porque tirou privilégios da classe política.

Argumentou pela flexibilização do isolamento social em alguns estados e pediu que a imprensa também divulgasse notícias boas, ecoando o sentimento do Palácio do Planalto.

Candidato a presidente na eleição de 2018 e provavelmente também em 2022, Amoêdo afirma que a posição do partido sobre Bolsonaro será definida pela direção nacional, onde Zema não tem assento.

“O partido tem uma divisão entre a gestão pública e a gestão partidária. As pessoas com mandato não têm interferência na gestão do partido, embora certamente sejam ouvidas”, afirma Amoêdo, que em março deixou a presidência nacional do partido.

Criado em 2011 e com registro formalizado há menos de cinco anos, o Novo ainda não decidiu oficialmente se apoia ou não a permanência de Bolsonaro no cargo.

A ordem no partido é aguardar as investigações autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal com relação às acusações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro (Justiça) de que o presidente tentava interferir na Polícia Federal.

A posição de Amoêdo tem sido bem menos cautelosa que a do partido que ele criou. “Estamos vendo o presidente partir para o modelo petista, que é aliar-se ao centrão, vir com um modelo econômico desenvolvimentista e aparelhar as instituições”, afirma Amoêdo.

Tudo isso, somado ao que seria um comportamento nocivo de Bolsonaro no combate ao coronavírus, justificaria a sua saída do cargo. “A atuação dele é o principal argumento para o impeachment. Não dá para ter um presidente atrapalhando tanto, sempre trazendo uma polêmica, sem definir prioridades”, diz.

Levar adiante um processo de impeachment nesse momento, como admitem os seus defensores, tem duas dificuldades. A primeira está no fato de que Bolsonaro segue com base de apoio considerável na população.

O Datafolha mostrou em pesquisa publicada no final de abril que 33% dos entrevistados avaliam a gestão do presidente como ótima ou boa. Além disso, em razão da pandemia, a mobilização popular nesse momento está inviabilizada, o que joga a favor do presidente.

Sobre a popularidade, Amoêdo aposta que será corroída em pouco tempo pelo agravamento das crises de saúde e econômica. “A realidade vai falar contra ele, na quantidade de casos do vírus e na economia. Uma coisa acaba puxando a outra”, diz.

No cabo de guerra entre o fundador da legenda que quer acelerar a oposição ao presidente e o governador que busca se aproximar do Planalto, a direção partidária tenta se equilibrar num meio termo.

Atual presidente nacional do Novo, Eduardo Ribeiro afirma que a sigla vai decidir de forma técnica como se posicionar sobre um eventual pedido de impeachment. “Institucionalmente, vamos seguir a coerência do que fizemos no caso da [ex-presidente] Dilma Rousseff, quando defendemos o impeachment apenas após o parecer do TCU [sobre manobras contábeis]”, declara.

As palavras de Amoêdo e Zema, segundo Ribeiro, são posicionamentos que ambos manifestam como cidadãos, e não membros da direção partidária. “O principal valor do Novo é a liberdade com responsabilidade. Em algumas posições, não vai haver consonância perfeita”, diz.

O partido tinha um filiado no primeiro escalão do governo, o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, o que era fonte de constrangimento para a legenda.

Nesta quinta-feira (7), Salles anunciou que foi expulso do Novo em razão de sua presença na equipe de Bolsonaro.

Também na linha mais cautelosa, o líder da bancada do partido na Câmara dos Deputados, Paulo Ganime (RJ), afirma que ainda não está claro que o presidente tenha cometido crime de responsabilidade.

“Claro que se for provado que ele cometeu crime, vamos ser favoráveis a abrir um processo de impeachment. Mas não cabe à Câmara retirá-lo do cargo simplesmente porque fala ou faz besteira”, declara ele, que lidera uma bancada de oito deputados.

Ganime diz que é possível manejar as diferenças internas de opinião no partido, ao menos por enquanto.

“É papel nosso como deputados fiscalizarmos o Executivo. Já o papel do governador é defender os interesses de Minas. Por que ele vai entrar numa bola dividida com o governo federal, ainda mais tendo recebido um estado quebrado como Minas?”, afirma.

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