PM sabia que haveria ataque ao Supremo e não fez nada, diz governador do DF

Ibaneis Rocha afirma que aonde grupo armado de extrema direita acampar em Brasília 'eu tiro'

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Brasília

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afirma que a Polícia Militar sabia do risco de ataque ao STF (Supremo Tribunal Federal) e que, mesmo assim, não atuou para impedi-lo.

Por isso, segundo ele, o subcomandante da polícia, Sérgio Luiz Ferreira de Souza, foi exonerado.

No último sábado (13), o prédio do STF foi alvo de fogos de artifício disparados por militantes do grupo armado de extrema direita 300 do Brasil. “No Distrito Federal, aonde eles acamparem, eu tiro. Aqui eles não ficam”, afirmou Ibaneis à Folha.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB)
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) - Pedro Ladeira/Folhapress

O governador diz que determinou o fechamento da Esplanada no domingo (14) porque, ao desmobilizar o acampamento do grupo no sábado, soube que havia um plano para atacar o Supremo. Ibaneis voltou a fechar a Esplanada dos Ministérios, de terça (16) até a noite desta quarta-feira (17), após identificar novas ameaças.

Ibaneis interrompeu a entrevista e tomou o celular da repórter após ser questionado sobre o comportamento do presidente Jair Bolsonaro, que tem comparecido sem máscara a manifestações, contrariando decreto do governo do DF. “Essa entrevista não está dada e eu quero que ela seja apagada”, disse o governador.

Pouco depois, Ibaneis devolveu o celular. Em seguida participou de uma agenda. Quando acabou, o governador chamou a reportagem, pediu desculpas, e a conversa foi retomada.

Desde abril, em que houve a manifestação na frente do QG do Exército, o DF é palco de protestos com bandeiras pelo fechamento do Congresso, anti-STF, com aglomeração, algumas com a participação do presidente Bolsonaro. Por que só neste último final de semana o sr. decidiu fechar a Esplanada?

Acho que você está tentando confundir um pouco as coisas. Os atos que tiveram ali tiveram alguns fatos que poderiam ser trazidos como antidemocráticos ou como uma agressão ao Supremo, tanto que o Supremo abriu um inquérito e está apurando. Mas não era uma manifestação, você via pessoas normais, de bem, que estavam ali se manifestando em apoio a Bolsonaro.

O que nós tivemos este final de semana foi um fato totalmente diferenciado. Tivemos um ataque a instituições da República e aí, eu como governador, tomei uma atitude de fechamento. São coisas totalmente diferentes.

Este ato [ataque ao STF] que ocorreu foi no sábado à noite. O sr. tomou uma atitude para proibir as manifestações que ocorreriam no domingo.

Sim. Não estou entendendo a diferença. Espero que a sra. como repórter me faça perguntas que sejam claras. Não tenta me levar para conduzir uma resposta. Olha, a entrevista está acabada. Eu não vou ser conduzido por você.

Não, governador, eu não quero conduzir.

Você está conduzindo.

Não, governador, quero conversar.

Você faça perguntas claras que lhe dou respostas claras. Não queira pegar 90 dias de acontecimento e tentar transformar tudo num sábado. Se você fizer perguntas corretas eu vou responder corretamente, caso contrário, não vamos ter conversa.

Qual foi a diferença para o sr. dessas manifestações que ocorreram até sábado?

Tivemos as informações de que no tal acampamento dos 300 estava sendo preparado com armamentos, com outros tipos de munições, um ataque a instituições da República, como de fato ocorreu no sábado no Supremo. Por isso, o fechamento. O que estava se colocando ali era um ataque muito claro aos Poderes da República, em especial ao STF, por isso a decisão de fechamento.

O sr. acha que no sábado houve inação da polícia?

Acho, tanto que exonerei o subcomandante. Porque se ele já tinha informações de que iria acontecer aquilo, eles deveriam ter proibido que esses meliantes estivessem lá. No momento da desmobilização do acampamento, ele sabia que isso ia acontecer. Por isso o subcomandante foi exonerado.

O ministro Weintraub participou de manifestações pequenas na Esplanada no domingo e o sr. o multou.

Eu não multei. Quem multou foi o DF Legal, é um órgão independente, uma secretaria que cuida de fiscalização.

Ele foi o terceiro multado no DF. Na semana anterior, o presidente saiu a cavalo pelas ruas sem máscara. Por que ele não foi multado?

O que estamos fazendo no DF é orientando as pessoas sobre o uso de máscaras, tanto que só temos três casos de multa, deveríamos ter 3.000 ou 30 mil. Agora o que acontece é que o que o ministro fez num momento de radicalismo. Eu espero que pague, porque se não eu vou negativá-lo.

No final de semana anterior, o presidente Bolsonaro saiu a cavalo sem máscara.

Mas ele estava em um movimento, não foi uma provocação, o ministro quis provocar o nosso decreto, a orientação que estamos dando.

Mas era o presidente da República, o presidente que saiu sem máscara. Por que ele não foi multado?

Gente, vocês não vão querer me colocar contra o presidente da República, porque eu gosto do presidente.

O sr. vê diferença nesses atos?

Eu vejo diferença. Eu acho que é mais orientação. Eu mesmo peguei o telefone, liguei para o pessoal da assessoria do presidente e pedi que ele não fizesse mais isso, porque ele incentiva pessoas mais humildes, que não tem a consciência do que está acontecendo.

O sr chegou a pedir que o presidente não participe mais de manifestações?

Eu não pedi nada. Eu não tenho direito de fazer isso com ele não. Ele é livre. Ele vai participar de quantas manifestações ele quiser. Ele vai andar pelas ruas dessa cidade com toda tranquilidade.

O sr acha que ele deveria ter se manifestado… [a pergunta seria se Bolsonaro deveria ter se manifestado sobre o ataque ao Supremo. Neste momento, o governador pega o telefone da repórter]

Você está muito, olha, muito no ‘acho’. Eu não respondo no acho. Não adianta, porque essa entrevista não está dada, porque eu não estou aqui para achar. Você está achando.

Mas o celular é meu...

‘Você está achando’. Você vai apagar a entrevista e acabou.

Não, governador, a gente está conversando.

Não estamos conversando. Você está querendo que eu ache. Eu não estou aqui para achar.

Eu não estou querendo. Estou aqui para perguntar a sua opinião, a opinião do governador.

Por favor, eu não estou aqui para lhe dar opinião, estou aqui para dar a entrevista.

Mas é o que estou fazendo, estou perguntando e o sr. está respondendo.

[O governador sai andando com o celular da Folha] Você vai abrir isso aqui e vai apagar.

Governador, por que eu vou apagar a entrevista?

Porque eu não estou aqui para achar.

Nós estamos tendo uma conversa. O sr. é o governador do DF.

Vamos acabar com isso.

Assessor: O sr. tem o direito de não dar a entrevista.

Ibaneis: Eu não vou [dar]. E essa entrevista não está dada e eu quero que ela seja apagada.

Tá, agora posso conversar com o sr. Eu vou tirar ela do gravador e vamos conversar.

Eu não quero conversar com você. Por favor, tchau.

Assessora: Você pode apagar a entrevista?

Ibaneis: Não estou aqui para achar, eu sou governador, estou aqui para decidir.

[Entrevista é retomada]

A gente estava falando sobre a questão das manifestações. Sobre o fato de no sábado ter havido um ato de algumas pessoas contra o STF. E o que estava querendo entender foi se o sr. tomou a decisão de fechar a Esplanada após esse ato ou se foi anterior.

Eu tomei a decisão de fechar a Esplanada a partir do momento em que, ao finalizar a retirada do acampamento dos 30, ou dos 300 como eles se chamam, porque eu acho que não tenham mais do que 30, a partir do momento em que se verificou que eles não estavam ali para fazer manifestação pacífica, discutindo as ideias, que é o que está na Constituição.

O que se verificou no momento da retirada eram pessoas preparadas para uma verdadeira guerra institucional, desrespeitando o Supremo Tribunal Federal, alvo naquele momento. Antes dos fogos, eu já havia determinado ao meu consultor jurídico que preparasse o ato.

Por que o acampamento dos 300 do Brasil acabou no sábado e não antes?

Tivemos informações de que estavam preparando atos como esse que ocorreu. Ela (a informação) chegou pela manhã e fez com que eu determinasse.

O sr determinou o fechamento da Esplanada por dois dias, mas os 300... Os 30.

Esse grupo continua em Brasília. Eles podem achar outros lugares para acampar. O que se pode fazer com relação a isso?

Brasília não é território. O que estamos fazendo é o seguinte. Os inquéritos policiais foram abertos. Boa parte deles já foram ouvidos. A polícia está trabalhando, fazendo seu papel. Eles é que vão dar encaminhamento.

Se fosse eu, após a apuração, encaminharia ao Poder Judiciário para que o Judiciário e o Ministério Público, porque cabe ao Ministério Público, requisite as prisões se for o caso, faça o que tem que fazer. No Distrito Federal, aonde eles acamparem, eu tiro. Aqui eles não ficam. Eu não vou permitir numa Brasília que eu esteja governando que tenham atos antidemocráticos.​

O sr. entende que cabe ao presidente da República se manifestar sobre esses que se dizem apoiadores dele e que fazem esse tipo de ato que o sr. considera antidemocrático?

Eu vi o presidente por várias vezes dizer que haviam pessoas infiltradas. Acho que essa investigação que está sendo feita pelo Supremo Tribunal Federal, conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes com muita competência, e agora com a participação do procurador-geral da República, vai fazer com que a gente chegue no ponto de saber se eram infiltrados, como aparentavam ser nas manifestações anteriores, ou se essas pessoas estão trabalhando de forma orquestrada, coordenada e financiada. Está muito perto de se chegar aí.

O sr. não tem informação de que há membros do governo infiltrados?

Se tem uma pessoa que trabalha distante do que a polícia faz, sou eu. Agora quando chega ao meu conhecimento, através de relatórios, eu tomo providências. E a decisão às vezes ela é dura, como foi essa de sábado, como foi essa de domingo. Como foi essa de hoje [terça, 16].

O que o sr. vai fazer no próximo final de semana? Não sei se há algum aviso de que haverá manifestações.

Olha, se tiver aviso, e as manifestações ocorrerem como vinham ocorrendo, com pequenos focos de inconstitucionalidade, elas poderão acontecer. Se tiver um forte indício de que não serão manifestações democráticas, a Esplanada ficará fechada.

O sr. falou com o presidente sobre esse assunto?

Eu tenho muito pouco contato com o presidente. Eu gosto do jeito dele, acho que ele tem condições de fazer um belíssimo trabalho, mas tenho pouco contato com o presidente.

O sr. acha que o ministro Weintraub precisa sair do governo?

Eu, há 15 dias, avisei ao ministro Jorge de Oliveira que a melhor maneira de pacificar os Poderes seria exonerar o Weintraub. Após a fala dele naquela reunião, eu olhei aquele vídeo várias vezes. Os demais ministros que estavam ali podem até ter falado besteira.

Não só pelos palavrões?

Os palavrões acontecem. O único que agiu para mim de forma a caracterizar um crime foi o Weintraub. Eu deixei bem claro. Se não chegou é porque não quiseram passar, mas eu deixei bem claro. Olha, se quiser pacificar, pensar em algum tipo de caminho, seria demitir o Weintraub, e olha o seguinte, ele já vai muito tarde, se for. Porque não está fazendo nada pela educação.

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