Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Assessora da Fundação Palmares dá aulas para orientar potenciais candidatos conservadores

Formada em publicidade, Raquel Brugnera está à frente de curso junto com apoiadores de Bolsonaro

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Brasília

Assessora do presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, cobra até R$ 1.000 para quem quiser ser candidato ou virar estrategista político.

O público-alvo do curso "O Método Eleitoral" são apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e conservadores e foi montado duas semanas antes de ela assumir o cargo no órgão federal.

Analista política, Raquel Cristina Brugnera foi nomeada em 10 de junho para uma vaga com salário de R$ 5.600. Três dias após a efetivação no cargo, Camargo postou uma foto passeando com ela em um barco no lago Paranoá, em Brasília.

Formada em publicidade, Brugnera tem como parceiros no curso o publicitário Fernando Mello e o jornalista Rafael Fontana.

A assessora da Fundação Palmares Raquel Brugnera (à frente) com o presidente da entidade, Sérgio Camargo (à esq.)
A assessora da Fundação Palmares Raquel Brugnera (à frente) com o presidente da entidade, Sérgio Camargo (à esq.) - Reprodução

Os dois estão entre os principais apoiadores do presidente e já contribuíram para o portal conservador Terça Livre, alvo de investigações no STF (Supremo Tribunal Federal) no inquérito das fake news.

Apoiadora de Bolsonaro, Brugnera afirma que seu curso "tem o propósito de oferecer a seus alunos uma preparação de montagem de campanha eleitoral e treinamento de equipes, com a finalidade de potencializar a votação nos pleitos".

Em pouco mais de um mês de atividade, o curso já teve seis videoaulas nas quais a tônica do discurso conservador predomina.

Nas redes sociais, ela também diz que o curso é indicado para "candidatos, estrategistas e demais pessoas que desejam atuar nas campanhas municipais e futuros gabinetes".

Brugnera diz que em um mês o curso ajuda a montar "redes de contato, argumentação para alimentação das redes sociais e para retórica, além de estrategistas especializados em blindar e promover seu nome".

O curso também ajuda a orientar o eleitorado conservador.

No dia 28 de junho, em uma live do curso, ela afirmou que os eleitores devem printar postagens de pré-candidatos que defenderam o isolamento social e o fechamento do comércio.

"Vai lá, faz um print falando da reabertura do comércio. E a hora que esse cidadão for bater na sua casa, falar sobre emprego, pelo amor de Deus. Você manda o print para mim que eu sei o que fazer. Porque não dá para aturar esse tipo de gente hipócrita", disse.

Brugnera já havia passado pelo governo antes de atuar na Fundação Cultural Palmares. Ela foi chefe de gabinete da Secretaria da Economia Criativa, órgão vinculado à Secretaria Especial da Cultura, quando a pasta era comandada por Roberto Alvim, afastado após reproduzir um discurso nazista.

Ela foi demitida pela ex-secretária de Cultura Regina Duarte.

Nas suas redes pessoais, ela critica adversários do governo. Em uma postagem sobre a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ela faz alusão ao "gabinete do ódio".

"Vi que tem uma tal de Raquel nas mensagens da Joice Helmmans, NÃO SOU EU, tá? Eu sou do 'gabinete do ódio' e não do Gabinete da maionese."

A Folha consultou advogados e um ex-membro do Conselho de Ética da Presidência da República que afirmaram que a atividade paralela de Brugnera pode ser alvo de questionamento.

De acordo com eles, ela não poderia atuar em prol de algum pré-candidato ou durante o horário de expediente. Em relação à lei dos servidores públicos, eles afirmam que não há nenhum impedimento, desde que ela não seja gestora do curso.

Procurado, o Ministério do Turismo, ao qual a Fundação Palmares está vinculada, não se manifestou. A Folha tentou contato com Brugnera por email e telefone vinculado ao curso, mas não obteve retorno. ​

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