Descrição de chapéu Eleições 2020 Coronavírus

Convenções eleitorais têm aglomeração, clima de micareta e até prefeito detido

Promotorias abrem investigações para apurar atos partidários realizados em meio à pandemia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Salvador

Cercado por uma multidão, o candidato caminha, dança e veste uma máscara que acabara de sair do rosto de um eleitor. Em outra cidade, um político octogenário é carregado nos braços pelos eleitores até o palco para referendar a candidatura de seu sobrinho à prefeitura.

Mesmo em meio à pandemia da Covid-19 e com risco de disseminação da doença, parte das convenções partidárias que referendaram candidaturas a prefeito pelo país foi marcada por aglomerações e por atos de rua em clima de micareta.

A maior parte dos casos aconteceu em cidades pequenas ou médias, onde as eleições são marcadas por um acirrado enfrentamento de grupos políticos locais e nos quais as convenções são vistas como uma demonstração de força junto ao eleitorado.

Reprodução de vídeo que mostra aglomeração em evento eleitoral em São Luís (MA) - Reprodução

Presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Luís Roberto Barroso definiu em agosto que não haveria uma orientação nacional para a realização de atos de rua em meio à pandemia, delegando a responsabilidade para estados e municípios.

No plano sanitário que define os protocolos para as eleições, o TSE recomendou que os atos de campanha sejam realizados em espaços amplos e abertos, evitando distribuição de material impresso.

Em estados como Ceará e Piauí, Promotorias abriram investigações para apurar casos de aglomeração em atos de campanha.

Na cidade de Sertãozinho, na Paraíba, o prefeito e candidato à reeleição Antônio de Elói (Cidadania) chegou a ser conduzido para a delegacia após sua convenção registrar uma aglomeração do lado de fora.

Ele prestou esclarecimentos na delegacia da cidade vizinha de Guarabira e foi liberado após o registro de um termo circunstanciado de ocorrência.

Em Sirinhaém, cidade pernambucana a 76 km do Recife, o prefeito Franz Hacker (PSB) participou da convenção de seu candidato à sucessão, o vereador Coelhinho (PSB), em um ginásio lotado na última quarta-feira (16).

Depois, saiu em caminhada pelas ruas da cidade cercado por uma multidão. Um vídeo mostra o momento em que o prefeito pega uma máscara que estava no rosto de outra pessoa e a veste para tirar uma foto.

O ato descumpriu determinação da Justiça Eleitoral de Pernambuco, que definiu que convenções partidárias e atos de campanha não poderão reunir mais de dez pessoas no mesmo ambiente.

A cidade registrou 381 casos da Covid-19 e 31 mortes. Um dos contaminados foi o próprio prefeito, que teve a doença em maio.

Na cidade de Lago da Pedra, no Maranhão, a candidata Maura Jorge (PSDB) reuniu 9.000 pessoas, segundo os organizadores, no que chamou de “maior convenção da história” da cidade.

Aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Maura foi candidata ao Governo do Maranhão em 2018 e até abril deste ano ocupou a superintendência estadual da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), órgão ligado ao Ministério da Saúde.

Parte das convenções que tiveram aglomerações também tiveram a participação de caciques políticos, mesmo aqueles que fazem parte do grupo de risco.

Com 87 anos, o senador José Maranhão (MDB) chegou carregado pelos ombros por um grupo de eleitores na convenção que referendou o nome do seu sobrinho, Benjamin Maranhão (MDB) como candidato a prefeito de Araruna (PB).

O senador Fernando Collor (Pros), 71, participou de convenção na alagoana Porto Calvo (105 km de Maceió). Em um vídeo divulgado pelo próprio senador, ele aparece apertando as mãos de cinco eleitores. Parte das pessoas presentes não usavam máscara no local.

Reprodução de vídeo que mostra aglomeração em convenção eleitoral em Pacujá (CE)
Reprodução de vídeo que mostra aglomeração em convenção eleitoral em Pacujá (CE) - Reprodução

Nas capitais, a maior parte dos candidatos optou por fazer convenções virtuais e sem a presença do eleitorado. Mas São Luís, capital do Maranhão, foi a exceção: os principais candidatos realizaram atos públicos com a presença de centenas de eleitores.

A capital maranhense já registrou mais de 20,2 mil casos do novo coronavírus e chegou a decretar isolamento social rígido em maio deste ano. Em agosto, o governo do estado liberou a realização de eventos públicos e privados, mas impôs um limite de público de 100 pessoas.

Os candidatos Neto Evangelista (DEM), Rubens Júnior (PCdoB), Duarte Júnior (Republicanos) e Eduardo Braide (Podemos) fizeram atos com uma presença maciça de eleitores. Nos vídeos das convenções, é possível constatar que não houve uma distância de menos 1,5 metro entre as pessoas presentes.

Duarte Júnior e Rubens Júnior informaram que suas respectivas convenções seguiram protocolos sanitários, incluindo uso de máscara, cabines de desinfecção e aferição de temperatura.

O candidato Duarte Júnior, contudo, publicou um vídeo em suas redes sociais no qual admite que houve excessos: “Em alguns momentos, a emoção fez com que ocorressem situações não desejadas por nós. Como responsável pela convenção, peço desculpas pelo ocorrido”, disse.

A Folha entrou em contato com Neto Evangelista e com o prefeito de Sirinhaém Franz Hacker, mas não obteve retorno. A reportagem não conseguiu contato com os candidatos Antônio de Elói, Maura Jorge e Eduardo Braide.

As aglomerações têm sido um dos principais focos de preocupação da nas eleições que ocorrem durante a pandemia. Inclusive, foi um dos motivos centrais que levaram o TSE a adiar as eleições de 7 de outubro para 15 de novembro.

Em abril deste ano, pouco antes de assumir a presidência do TSE, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que as aglomerações nas convenções partidárias eram um dos principais obstáculos para realizar as eleições ainda em outubro.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.