Candidatos à Prefeitura do Recife erram ao falar de saúde, habitação e mobilidade em sabatinas Folha/UOL

Agência Lupa checou afirmações de João Campos (PSB), Marília Arraes (PT), Mendonça Filho (DEM) e Patrícia Domingos (Podemos)

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Ítalo Rômany
São Paulo | Agência Lupa

Os quatro candidatos à prefeitura do Recife mais bem posicionados de acordo com a pesquisa Datafolha mais recente foram entrevistados em sabatinas promovidas pela Folha de S.Paulo e pelo UOL entre os dias 6 e 14 de outubro. João Campos (PSB), Marília Arraes (PT), Mendonça Filho (Democratas) e Patrícia Domingos (Podemos) falaram sobre suas agendas e promessas para a capital pernambucana. A Lupa checou algumas das declarações dos candidatos.

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“(...) O Recife (...) foi a capital que mais abriu leitos de UTI [para o combate à pandemia de Covid-19].”
João Campos (PSB), em sabatina no dia 14 de outubro


Falso Um levantamento publicado em 26 de julho pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) mostra que a cidade do Recife abriu, desde o início da pandemia de Covid-19, 1.155 leitos de UTI. Em números absolutos, São Paulo ficou à frente da capital pernambucana, com 1.791 leitos abertos.

Mesmo na comparação da taxa de novos leitos por 100 mil habitantes, Recife não fica em primeiro lugar. Segundo o CFM, Boa Vista é a capital que apresenta a maior quantidade de leitos abertos por 100 mil habitantes, com índice de 89 leitos, seguida por Recife (70) e São Luís (64).

A assessoria de campanha do candidato, por WhatsApp, disse que João Campos quis se referir às grandes capitais, como São Paulo. “A declaração dele está mais focada na alta densidade demográfica desses lugares.”


“Aqui em Recife foram construídos sete hospitais de campanha em 45 dias”
João Campos (PSB), em sabatina no dia 14 de outubro


Verdadeiro A primeira Unidade Provisória de Isolamento foi entregue pela Prefeitura do Recife em 31 de março, na Policlínica Amaury Coutinho, na Campina do Barreto. O sétimo hospital provisório foi entregue em 5 de maio, no Imbiribeira. Os outros hospitais foram construídos nos Coelhos (Hospital Provisório Recife 2); e nas áreas externas do Hospital da Mulher do Recife, no Curado, da Policlínicas Amaury Coutinho, na Campina do Barreto; Barros Lima, em Casa Amarela, e Arnaldo Marques, no Ibura.


“70% das pessoas do Recife vão para o trabalho usando o sistema do transporte público”
João Campos (PSB), em sabatina no dia 14 de outubro

Exagerado Segundo a Pesquisa Origem-Destino Metropolitana 2018, do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira e o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, 37,69% dos recifenses usam transporte público para ir ao trabalho —considerando ônibus, metrô e combinações envolvendo esses dois modais. O número citado pelo candidato é a soma das pessoas que usam ônibus ou vão a pé, segundo a mesma pesquisa.

Por WhatsApp, a assessoria de campanha do candidato disse que João Campos se referia a um contexto “mais global” de mobilidade urbana. “No caso dos pedestres, entende-se que a rua, o caminho em si que se percorre, precisa ser considerada como o ‘meio de transporte’ que deve ser oferecido com qualidade.”


“A gente tem um déficit habitacional de 75 mil casas”
João Campos (PSB), em sabatina no dia 14 de outubro

Verdadeiro De acordo com o Plano Local de Habitação de Interesse Social 2017 (página 25), o déficit habitacional da cidade do Recife é de 71.160 unidades habitacionais, número próximo do citado pelo candidato.


“Quando foi em 2012, essa lua de mel acabou [aliança entre PT e PSB no Recife]”
Marília Arraes (PT)
, em sabatina no dia 13 de outubro


Verdadeiro Em junho de 2012, o PSB de Pernambuco, liderado pelo ex-governador Eduardo Campos, decidiu lançar Geraldo Julio candidato à prefeitura do Recife, rompendo com o PT. Ele acabou vencendo as eleições naquele ano no primeiro turno, com 51,15% dos votos.


“Inventaram uma secretaria [da Juventude], não tinha orçamento (...) durante o ano de 2013 inteiro”
Marília Arraes (PT), em sabatina no dia 13 de outubro


Falso Apesar de não ter uma dotação inicial, a Secretaria da Juventude e Qualificação Profissional, comandada por Marília Arraes até abril de 2014, teve despesas no orçamento da Prefeitura do Recife no valor de R$ 1,73 milhão no ano de 2013, considerando valores liquidados. Essa verba foi usada para despesas correntes, como diárias e material de consumo.

Procurada, a candidata não se pronunciou.


“Se investiu [em habitação em 2019] 0,7% do orçamento”
Marília Arraes (PT), em sabatina no dia 13 de outubro


Falso O gasto em habitação foi significativamente menor do que o citado pela candidata. Em 2019, R$ 3,52 milhões foram gastos com a função habitação, segundo o Portal da Transparência da Prefeitura do Recife. Isso corresponde a 0,07% das despesas totais do município, um total de R$ 5,14 bilhões, e não 0,7%. Esses gastos englobam também despesas correntes. O total em investimento propriamente dito foi de R$ 1,08 milhão (0,02% do total). Foram considerados valores liquidados, isto é, quando o serviço é executado e entregue.

Procurada, a candidata não se pronunciou.


“Mais de 150 mil famílias sem abastecimento de água na nossa cidade”
Mendonça Filho (DEM), em sabatina no dia 12 de outubro de 2020


Insustentável Os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento 2018 são feitos a partir do número de pessoas, e não famílias, com abastecimento de água disponível. Portanto, não é possível precisar o número de famílias que não tem acesso a água no Recife.

Segundo o Painel de Saneamento Básico, do Instituto Trata Brasil, 194.525 pessoas não têm acesso à água no Recife. Isso corresponde a 11,9% da população. De acordo com o IBGE, o tamanho médio das famílias no Brasil é de três pessoas.


“Recife (...) perde no Ideb para Teresina”
Mendonça Filho (DEM), em sabatina no dia 12 de outubro de 2020


Verdadeiro, mas A rede municipal de ensino do Recife perde para Teresina no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) nos dois ciclos do ensino fundamental. Vale destacar, porém, que a capital do Piauí está à frente de todas as capitais brasileiras. A última edição do Ideb, de 2019, mostra que a nota foi de 7,4 nos anos iniciais do ensino fundamental e de 6,3 para os anos finais na rede municipal de Teresina.

Em 2019, Recife ocupou a 21ª posição entre as 26 capitais para os anos iniciais, com Ideb de 5,2. Para os anos finais, Recife ficou em 13º lugar no ranking, com nota 4,7.


“(...) Recife atende apenas 5.900 crianças [em creches], menos que uma cidade como Petrolina”
Mendonça Filho (DEM)
, em sabatina no dia 12 de outubro de 2020

Falso Segundo dados preliminares do Censo Escolar 2020, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Recife tem no total 6.309 matrículas em creches municipais, enquanto a cidade de Petrolina (PE) tem 1.844 matrículas. No ano de 2019, a capital pernambucana tinha 5.975 crianças em creches, enquanto Petrolina, 1.943.

Em nota, a assessoria de campanha informou que o candidato considerou também os dados da rede privada conveniada à Prefeitura de Petrolina quando fez a comparação com Recife. No entanto, ele só apresentou as vagas conveniadas de Petrolina.


“A gente saiu, de multa de trânsito em 2018, de R$ 50 milhões para R$ 100 milhões”
Mendonça Filho (DEM), em sabatina no dia 12 de outubro de 2020


Falso O candidato cita um aumento de 100% entre 2018 e 2019, mas a variação, na verdade, foi de 40,8%. Dados da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife mostram que, em 2018, foram arrecadados R$ 69,7 milhões com infrações de trânsito, enquanto no ano passado o valor foi de R$ 98,2 milhões.

A assessoria do candidato, em nota, não rebateu os números e para justificar a fala usou dados de 2016.


“Temos uma quantidade estimada de 230 mil pessoas aguardando pela realização de um exame”
Patrícia Domingos (Podemos), em sabatina no dia 6 de outubro


Verdadeiro, mas Em setembro deste ano, por meio de um pedido via LAI (Lei de Acesso à Informação), a Secretaria de Saúde do Recife informou que havia 231.109 exames na fila para serem realizados. Os procedimentos de ultrassonografia estão no topo (25.348). No entanto, os dados se referem ao número de exames, e não de pessoas na fila, como cita a candidata (uma mesma pessoa pode estar aguardando mais de um exame).

Na resposta enviada via LAI, a Secretaria de Saúde justifica que, em virtude da pandemia de Covid-19, houve alteração nos serviços realizados pela Prefeitura do Recife, “com a suspensão de muitas atividades e o redirecionamento dos esforços para as ações necessárias ao combate à doença”.

Em nota, a Prefeitura do Recife informou que a quantidade de exames na fila de espera é de cerca de 100 mil procedimentos.


“Em 2018 (...) 478 pessoas morreram no Recife de causas evitáveis”
Patrícia Domingos (Podemos), em sabatina no dia 6 de outubro


Falso No total, a cidade do Recife registrou em 2018, segundo o portal do Datasus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde), 6.356 óbitos por causas evitáveis (entre 5 e 74 anos). Encaixam-se nessa categoria mortes por doenças que podem ser tratadas ou evitadas com um sistema de saúde adequado e também por causas externas, como homicídios ou acidentes de trânsito.

A assessoria da campanha, pelo WhatsApp, reconheceu que a candidata errou os números. “Como estava ao vivo, não deu para corrigir no ar. Ela, em outras entrevistas, tem falado mais de 6.000, em concordância com o Datasus.”


“Mais da metade do Recife mora em área de morro. [...] Estamos falando de 800 mil pessoas”
Patrícia Domingos (Podemos), em sabatina no dia 6 de outubro


Exagerado A Prefeitura do Recife informou que um terço da população, em torno de 500 mil pessoas, vivem em área de morro, em resposta a um pedido via LAI de março de 2020.

A assessoria da candidata, por meio de mensagem no WhatsApp, diz que os dados oficiais da prefeitura são esses, de 500 mil. “Contudo, não são números estáticos, e técnicos da Prefeitura do Recife, consultados pela nossa equipe, falam em até 800 mil também”, informa.

Em nota, a Prefeitura do Recife confirmou que o dado de 500 mil pessoas vivendo em área de morro é o mais atualizado.


“Foram prometidos cinco [Centros Comunitários da Paz], mas só tem três”
Patrícia Domingos (Podemos), em sabatina no dia 6 de outubro


Verdadeiro Em texto publicado no site oficial da Prefeitura do Recife, em janeiro de 2013, o prefeito Geraldo Julio (PSB) anunciava a promessa de inaugurar cinco Compaz (Centros Comunitários da Paz), espaços de lazer concebidos com foco na prevenção à violência, inclusão social e fortalecimento comunitário. Até agora, foram entregues três.

A primeira unidade, localizada no bairro do Alto Santa Terezinha, foi inaugurada em março de 2016. A segunda só foi entregue à população no bairro do Cordeiro em março de 2017. O terceiro Compaz foi inaugurado em dezembro de 2019, na avenida Caxangá, dentro da comunidade Sítio do Berardo. A quarta unidade, na Ilha de Joana Bezerra, está em obras. A previsão era entregar até o primeiro semestre de 2020, mas ainda não foi inaugurada. Outras três unidades têm projetos elaborados que estão em análise junto à Caixa Econômica Federal, localizadas na Várzea, Pina e Ibura. O convênio é de cerca de R$ 18 milhões.

Procurada, a prefeitura do Recife informou que o quarto Compaz será entregue em novembro deste ano e que outras três unidades estão com projetos prontos, aguardando liberação de recursos da Caixa Econômica Federal.

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