Dilma não disse que vacina chinesa vai funcionar porque pandemia começou na China

Site que publicou frase inventada da ex-presidente retirou conteúdo do ar após contato da reportagem

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São Paulo

É falso que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) tenha dito que as vacinas chinesas contra o novo coronavírus vão funcionar porque a pandemia teve início com um surto na China, como afirma uma postagem no Facebook verificada pelo Comprova. Outra versão do mesmo conteúdo, publicada no site Porão da Mamãe, dizia que a frase havia sido dita em uma reunião com “um grupo de pesquisadores encabeçado por Atila Iamarino”. A assessoria de imprensa da ex-presidente negou a reunião e disse que ela não conhece o biólogo. A última menção à palavra “Dilma” no Twitter de Atila é de 2016. Após ser procurado pela reportagem, o site retirou o texto do ar.

A equipe procurou entrevistas recentes de Dilma e também checou todas as menções às palavras “vacina” e “China” no site oficial da ex-presidente e na conta que ela mantém no Twitter. Em nenhum desses canais há registro da frase atribuída a ela na postagem verificada, que circula no Facebook. Tampouco consta algo sobre a frase atribuída à ex-presidente em veículos de imprensa. Em nota, o Partido dos Trabalhadores classificou a informação como mentirosa.

Em fundo preto está Dilma, de paletó cinza com estampa gráfica e blusa preta por baixo. Ela aparece do colo para cima
A ex-presidente Dilma Rousseff, que teve seu nome envolvido em caso de desinformação - Joel Saget - 15.mar.2020/AFP

A única declaração pública de Dilma sobre as vacinas contra a Covid-19 ocorreu no dia 21 de outubro, no Twitter, quando ela criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por revogar um acordo do Ministério da Saúde para a compra de 46 milhões de doses do imunizante desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. Nas publicações, ela diz que essa é a primeira vacina disponível para a população, mas não menciona sua eficácia, nem a atribui ao fato de o primeiro surto da doença ter ocorrido na China.

O Comprova não conseguiu contato com os administradores da página do Facebook. O responsável pelo site Porão da Mamãe alegou que o conteúdo era satírico. Para quem acessava a postagem, no entanto, a única indicação de que poderia ser um conteúdo de humor eram duas tags, no final da página.

Verificação

Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e sobre políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. Quando a publicação fala sobre tratamentos ou métodos de imunização contra o novo coronavírus, a checagem se torna ainda mais necessária, já que informações falsas podem levar as pessoas a adotar medicamentos sem comprovação científica ou rejeitarem métodos de prevenção recomendados pelas autoridades de saúde.

O conteúdo dessa verificação teve 2,2 mil curtidas e 1,8 mil compartilhamentos no perfil M.I.B do Facebook. O texto do site Porão da Mamãe teve outras mil interações nas redes sociais, de acordo com a plataforma de monitoramento CrowdTangle, antes de ser retirado do ar.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

A investigação desse conteúdo foi feita por Jornal do Commercio, Correio, NSC e GZH e publicada na quinta-feira (29) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por Folha, Marco Zero, Niara, A Gazeta, Bereia, Estadão e Piauí.

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