Salva de impeachment, vice assume Governo de SC e aposta em proximidade com família Bolsonaro

Daniela Reinehr, ex-PSL, aguarda criação da Aliança pelo Brasil; Carlos Moisés foi afastado por até 6 meses enquanto tribunal especial julga processo

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Porto Alegre

Quando Jair Bolsonaro deixou o PSL para fundar a Aliança pelo Brasil, a então vice-governadora de Santa Catarina, Daniela Reinehr, anunciou que também abandonaria a sigla. Ainda sem um partido, ela assume nesta terça-feira (27) o cargo de governadora.

A produtora rural e advogada de 43 anos ocupará por até seis meses o posto de Carlos Moisés —que, ao contrário dela, optou por permanecer no PSL e desde então foi tachado de “traidor do presidente”.

Moisés foi afastado por um tribunal especial na madrugada do último sábado (24). O afastamento não é o impeachment definitivo, que pode ocorrer ou não, ao final do processo.

O colegiado, formado por cinco desembargadores e cinco deputados estaduais, aceitou a denúncia de impeachment contra Moisés por 6 votos a 4. A denúncia contra Reinehr resultou em empate (5 a 5) e foi arquivada após o voto do desembargador Ricardo Roesler, presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC).

Ex-policial militar, Reinehr acompanhou pessoalmente a sessão de julgamento que começou na manhã da última sexta-feira (23) e terminou na madrugada de sábado. Moisés não estava presente.

Daniela Reinehr toma posse como vice-governadora de Santa Catarina, ao lado do então governador Carlos Moisés, em 2019
Daniela Reinehr toma posse como vice-governadora de Santa Catarina, ao lado do então governador Carlos Moisés, em 2019 - Julio Cavalheiro - 1º.jan.19/Secom

Durante a sessão do tribunal especial, Reinehr foi defendida pela advogada Ana Cristina Blasi. Ela passou a atuar no caso por indicação de Karina Kufa, advogada de Bolsonaro.

“A Karina é uma amiga de muito tempo, desde quando fui juíza eleitoral e ela trabalhava com isso [direito eleitoral]. Quando isso surgiu [impeachment], ela me chamou para ser coordenadora local da defesa. O escritório dela em São Paulo estava na retaguarda, ajudando nas peças”, disse Blasi à Folha.

O voto do deputado Sargento Lima (PSL), a favor do impeachment de Moisés e contra o da vice, foi fundamental para o resultado. Nos bastidores, chegou a circular a versão de que Bolsonaro teria solicitado para que Lima votasse favoravelmente à Reinehr.

“Não recebi pedido de absolutamente ninguém. Mesmo se tivesse recebido do próprio presidente, mesmo assim não revelaria a não ser que ele tivesse dito assim: Pode expor meu pedido’”, afirmou à Folha o deputado.

Lima elogiou Reinehr. “O relacionamento pessoal dela é o melhor possível, uma pessoa aberta ao diálogo, uma pessoa educada, sem nenhuma dificuldade de ser abordada. Com o Parlamento em si, a gente vai descobrir daqui pra frente."

A governadora interina é natural de Maravilha, município do oeste catarinense, a 466 quilômetros de Florianópolis, com 24.345 habitantes.

Na sua cidade, um outdoor com a fotografia de Reinehr e Bolsonaro mostra os seguintes dizeres: “Maravilha e toda Santa Catarina está #fechadocomDaniela #fechadocom Bolsonaro [sic]. Supremo é o povo. Democracia começa respeitando o resultado das urnas”.

Seu pai, Altair Reinehr, é professor de história e já escreveu textos em que relativiza o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Uma fotografia dele, em frente à casa onde nasceu Adolf Hitler, em Braunau am Inn, na Áustria, ilustrou um texto no qual ele reclama de que “nem é permitido lembrar obras reconhecidamente positivas” de Hitler, citando como exemplo as rodovias construídas pelo regime nazista e os supostos 90% de aprovação popular de que o ditador gozaria.

No texto, o pai da governadora interina afirma ainda que, em Braunau, Hitler, “após uma infância bastante infeliz, teve uma adolescência e juventude marcada por enormes dificuldades, sacrifícios de toda a ordem e notadamente incompreensões”.

Além disso, sem citar o genocídio dos judeus, afirma que o nazista, “num curto espaço de tempo, acabou com o problema do desemprego de 6 a 7 milhões de pessoas, revitalizou a indústria, moralizou os serviços públicos e transformou a Alemanha num canteiro de obras”.

O pai de Reinehr também testemunhou favoravelmente a Siegfried Ellwanger Castan, condenado por racismo por publicar livros antissemitas.

A Folha questionou a nova governadora interina, por meio de sua assessoria, qual é sua opinião sobre o nazismo, mas não recebeu resposta à questão.

Assim como Bolsonaro, Reinehr defendeu o uso de cloroquina no tratamento da Covid-19 mesmo sem eficácia comprovada do medicamento. Suas redes sociais são repletas de fotos com o presidente e ministros da chamada "ala ideológica" do governo, como Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Onyx Lorenzoni (Cidadania).

Reinehr é amiga da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e próxima de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal e filho do presidente.

“Parabéns pela grande vitória, Daniela Reinehr. E, com este resultado, fica provado que era possível afastar apenas o Governador e mantê-la no comando! A 1ª Governadora do @somosalianca. Nosso PR @jairbolsonaro ganha mais um Estado como aliado. Ganha o povo!”, escreveu Zambelli em uma rede social após o arquivamento da denúncia contra a vice-governadora.

A justificativa oficial para o processo contra Moisés é ter igualado o salário dos procuradores do Executivo ao do Legislativo. O governador foi acusado de “trair Bolsonaro” por deputados do PSL. Além deste caso, a Assembleia abriu um segundo processo de impeachment para investigar a compra de respiradores durante a pandemia do novo coronavírus.​

Erramos: o texto foi alterado

Ao contrário do publicado em versão anterior, não haverá convocação de novas eleições caso o impeachment do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), seja concluído ainda em 2020. Isso só ocorreria se a vice, Daniela Reinehr (sem partido), também sofresse impedimento. O processo contra ela foi arquivado. O texto foi corrigido.

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