Descrição de chapéu Eleições 2020

Sem marcas de gestão, Covas tenta se vender como um 'resolvedor de problemas'

Campanha do tucano foca em adversidades enfrentadas tanto na vida pessoal como na administração da cidade

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São Paulo

Candidato à reeleição em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) tem se vendido nesta campanha como uma espécie de resolvedor de problemas, alguém que enfrentou graves crises em seu mandato, ocasiões em que ele foi pessoalmente ver e lidar com as tragédias.

Fora das inserções da TV, no entanto, ele se aproxima do fim de seu mandato sem uma ou mais marcas para apresentar à população, além de não ter cumprido a maior parte de suas metas.

A propaganda de realizador quer apagar a imagem de "baladeiro", que o prefeito deixou principalmente no começo de sua gestão, quando passou mais de 40 dias viajando.

Uma das propagandas, por exemplo, começa exaltando sua presença nas grandes crises que abateram a cidade, como as quedas de um prédio, no largo do Paissandu, e de um viaduto, na marginal Pinheiros.

A campanha de Covas quer explorar o fato de que o prefeito foi alvo de graves adversidades em pouco tempo de mandato, de greve dos caminhoneiros a pandemia de Covid-19, passando ainda pelo atual tratamento de um câncer.

"Quando caiu um prédio no centro, eu fui lá para ajudar as pessoas, trabalhar para não deixar ninguém sem abrigo. Quando teve incêndio numa favela, eu estava presente para garantir assistência para todo mundo. Quando o viaduto caiu lá na marginal Pinheiros, eu mandei arrumar, fiscalizei de perto e conseguimos reabrir em tempo recorde", diz a campanha do tucano.

"Durante a greve dos caminhoneiros, fui na refinaria buscar o diesel para não deixar o transporte público parado. Quando veio a pandemia, eu me mudei para a prefeitura porque era importante dar o exemplo. Esse é o meu jeito de governar", completa a propaganda de Covas.

Apesar dessa tentativa de se colocar como um resolvedor de problemas, o último balanço divulgado pela gestão mostra que Covas pode deixar a prefeitura sem cumprir uma série de promessas.

A pouco mais de dois meses do fim do mandato, ele tem apenas 33 das 71 metas batidas, 46% do total.

Entre as metas que não foram cumpridas estão a entrega de 12 CEUs (Centros Educacionais Unificados), baixar para 30 dias de espera dos exames prioritários e implantar 10 novos parques, entre outras.

Na lista de objetivos cumpridos, por outro lado, estão recapear 3.600.000 m² de vias públicas, recuperar 120 praças e reformar ou reequipar 1.150 unidades escolares.

A prefeitura afirma que as demais metas estão avançadas e que deve cumprir a totalidade delas.

Covas também costuma ser criticado por não ter uma marca da sua gestão, como foram, por exemplo, as ciclovias de Fernando Haddad (PT), a lei Cidade Limpa de Gilberto Kassab (PSD) e o Bilhete Único de Marta Suplicy (então no PT).

A essas críticas, em geral, o prefeito responde que "não é cerveja para ter marca" e que precisa dar continuidade a boas políticas públicas mesmo que tenham sido feitas em outras gestões.

Além das metas pela metade, a versão de prefeito presente, exibida na TV, contrasta com sua imagem anterior de "baladeiro", pelas festas que ia com os amigos que nomeou para cargos de confiança na prefeitura, e com as viagens pelas quais se afastava do cargo.

Covas assumiu a prefeitura como vice de Doria, que renunciou para disputar o governo do estado após permanecer somente 1 ano e três meses no cargo. No período em que era vice, acumulou a pasta de coordenação das subprefeituras, mas foi substituído por Doria, insatisfeito com a zeladoria na cidade. ​

No primeiro ano à frente da prefeitura, que assumiu em abril de 2018, passou mais de 40 dias afastado. Uma dessas viagens aconteceu em março de 2019, quando pediu licença de 7 dias e foi para a Europa.

Nesse meio tempo, no entanto, um temporal alagou a capital e outras cidades da Grande São Paulo, matando 12 pessoas. Covas inicialmente havia negado que abreviaria a viagem, mas, pressionado, acabou retornando antes.

A imagem de jovem baladeiro mudou, no entanto, em outubro de 2019, quando descobriu um câncer em estágio avançado, já em metástase, no trato digestivo.

A doença é considerada um divisor de águas. Contrariando expectativas na ocasião, o prefeito manteve o trabalho regular, afastando-se apenas ocasionalmente para fazer tratamentos pontuais.

A avaliação na equipe do tucano foi que, a partir da doença, ele ficou mais conhecido. A equipe de comunicação de Covas tem explorado em peças na TV, rádio e redes sociais aspectos da biografia do candidato para fixar a narrativa de que o prefeito coloca a cidade em primeiro lugar e à frente até de adversidades pessoais, como o câncer.

Ao recapitular episódios marcantes e tragédias, a intenção da campanha é conectá-lo a momentos-chave dos últimos dois anos e meio, em um esforço para cristalizar a imagem do "prefeito que gosta de ser prefeito".

Para aliados do tucano, a questão da presença é simbólica no imaginário do eleitor e é um ponto forte de Covas. Eles veem a ausência nas enchentes de março de 2019 como o único ponto fora da curva, mas creem que o enfrentamento do câncer e sua atuação na pandemia ajudaram a superar esse desgaste.

Uma das preocupações dos auxiliares agora é mostrar ao eleitor como o prefeito chegou até aqui, já que ele teve uma participação discreta na eleição de 2016 como vice de Doria.

Embora as pesquisas mostrem que a taxa de conhecimento de Covas tenha subido consideravelmente, há o diagnóstico de que boa parte dos moradores de São Paulo não sabe a trajetória do tucano em outros cargos e até mesmo na função de prefeito.

Um discurso formulado pelos marqueteiros e que se tornou corrente na boca de aliados é o de que o prefeito não teve a oportunidade de mostrar o que fez porque neste ano, quando seria o momento de exibir avanços e inaugurar obras, veio a pandemia.

Daí a decisão de usar o horário eleitoral e as inserções de rádio e TV para propagandear a imagem de um prefeito presente e realizador.

A narrativa que apela ao "excesso de adversidades" sofrido pelo tucano apareceu, por exemplo, em fala da ex-prefeita Marta Suplicy (sem partido) durante uma live com Covas, na última segunda-feira (19).

"Estamos gostando do seu programa, está indo muito bem", afirmou a ex-petista e apoiadora do tucano. "Está falando as coisas que fez. E eu diria que metade da população, e eu sou uma dessas pessoas, não tinha tanta noção delas. Isso está caindo forte na população."

"Esse desconhecimento era uma grande aflição nossa", admitiu Covas durante a transmissão.

Metas estão em estágio avançado, diz prefeitura

Questionada sobre as metas, a gestão Covas afirmou que, apesar da pandemia ter afetado o governo, "93% das 71 metas estabelecidas foram completamente cumpridas ou estão em estágio avançado". Segundo a prefeitura, apenas cinco itens estão elencados como estado de atenção.

A prefeitura afirmou também que o plano de metas tem que ser analisado objetivo a objetivo "porque cada um tem características próprias e a fixação de um único índice é um equívoco porque não considera essas particularidades".

"O índice de tapa buracos e o desempenho dos alunos da rede no IDEB, por exemplo, têm métricas e temporalidades completamente distintas", diz a nota.

A gestão ainda afirma que vários objetivos foram antecipados em função da pandemia, citando que o Hospital da Brasilândia entrou em funcionamento antes mesmo da data prevista para servir de unidade de referência para tratamento da Covid-19.

"Outras unidades que nem estavam previstas no Programa de Metas, como os hospitais Bela Vista, Guarapiranga e Sorocabana, também foram entregues à população", diz a prefeitura.

*

Metas

33 metas foram cumpridas

38 metas ainda não foram concretizadas

10 metas não cumpridas

  • Entregar 12 CEUs (Centros Educacionais Unificados)
  • Implantar 10 novos parques
  • Recuperar 50 pontes, viadutos, passarelas e/ou túneis
  • Construir e recuperar 1.500.000 m² de calçadas promovendo a qualidade, acessibilidade e segurança
  • Reduzir em 80% o número de usuários de drogas em logradouros públicos
  • Implantar 173,35 km de infraestrutura cicloviária (ciclovias ou ciclofaixas)
  • Reduzir a taxa de mortalidade infantil para 10,7 óbitos por mil residentes menores de um ano
  • Revitalizar 44 equipamentos de cultura
  • Alcançar 100% de distritos com 100% de atendimento de coleta seletiva
  • Construir e equipar 12 UPAs


10 metas cumpridas

  • Entregar 21 mil unidades habitacionais
  • Reformar ou reequipar 1150 unidades escolares
  • Construir o hospital de Brasilândia
  • Recapear 3.600.000 m² de vias públicas
  • Beneficiar 160 mil famílias por procedimentos de regularização fundiária
  • Equipar o hospital de Parelheiros
  • Entregar 2 UBSs
  • Atender 100.000 beneficiários com programas de qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho formal
  • Revitalizar 33 equipamentos sob a gestão da Secretaria de Esportes e Lazer
  • Requalificar 43,4 km de corredores ou faixas exclusivas de ônibus, incluindo manutenção das paradas
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