O apagão que atinge há quatro dias Macapá e fez a prefeitura decretar estado de calamidade embaralhou a disputa eleitoral na capital do Amapá e fez com que os candidatos de oposição mirassem a artilharia contra o candidato Josiel Alcolumbre (DEM), irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Josiel disputa a Prefeitura de Macapá com uma ampla frente de partidos e tem apoio do governador Waldez Góes (PDT) e do atual prefeito, Clécio Luís (sem partido).
A falta de energia começou na última terça-feira (3), quando um incêndio atingiu uma sub-estação na capital. Desde então, a população tem enfrentado desabastecimento em mercados, filas em postos de combustível e unidades de saúde fechadas. Nas casas, além de não ter energia, também falta água.
O cenário deu munição aos candidatos oposicionistas, que criticam o governo do estado e a prefeitura por negligência e lentidão nas ações para mitigar os efeitos do apagão. Prefeito e governador, por outro lado, buscam se mostrar diligentes.
A própria realização da eleição no dia 15 de novembro é colocada em xeque. Os três principais candidatos da oposição defenderam publicamente que o pleito seja adiado. A decisão de um possível adiamento, contudo, caberá ao Tribunal Regional Eleitoral do Amapá.
O ex-senador e candidato à prefeito João Capiberibe (PSB) compara a situação de Macapá ao cenário de “Ensaio Sobre a Cegueira”, livro do escritor português José Saramago que retrata uma epidemia de cegueira branca que deixa uma cidade em meio ao caos.
“Governo e prefeitura se movem muito lentamente para acudir a população. A maioria das pessoas está nas portas das casas por causa do calor e não consegue dormir à noite. É uma angústia e um nível de ansiedade muito grande”, afirma Capiberibe.
Ele ainda reclama da ausência de informação das autoridades a respeito das ações para reverter o quadro da falta de energia e das ações de apoio à população: “Eles não agem, não ouvem ninguém e não vêm à público dar satisfação."
Além do apagão, Macapá enfrenta ainda um novo pico de casos de Covid-19. A falta de energia fez com que algumas unidades de saúde fossem fechadas por falta de gerador, o que tem sido alvo de críticas.
A candidata à prefeitura Patrícia Ferraz (Podemos) publicou um vídeo no qual percorre a cidade à noite e mostra unidades de saúde fechadas, incluindo um centro para atendimento de pacientes com coronavírus.
“Nossa cidade está vivendo o caos. [...] Cadê o plano de urgência e emergência para resolver este problema? Isso não pode mais continuar. A gente precisa mudar essa realidade”, diz.
Também candidato a prefeito, o deputado estadual Dr. Furlan (Cidadania) protocolou um pedido de suspensão da cobrança das tarifas de energia no mês de novembro e o solicitou o pagamento de indenizações para as famílias atingidas pelo apagão.
“É muito sofrimento, muita dor para a população. A gente não vê as nossas autoridades tomando as devidas providências, buscando assistência para esse povo que está sofrendo”, afirmou, em um vídeo publicado em redes sociais.
A Folha tentou contato com Josiel Alcolumbre, mas sua assessoria não deu retorno sobre o pedido de entrevista.
Empresário e suplente do irmão no Senado, Josiel entrou na campanha em Macapá com uma forte estrutura e uma aliança que inclui o apoio de governador, prefeito, dois senadores, 7 dos 8 deputados federais, 20 dos 24 deputados estaduais e 19 dos 24 vereadores da capital.
Ao longo da campanha, Josiel assumiu a condição de favorito na disputa. A última pesquisa Ibope, divulgada em 28 de outubro, mostrou o candidato do DEM com 31% das intenções de voto. Capiberibe tinha 15%, Dr. Furlan, 11%, e Patrícia Ferraz, 11%.
Na avaliação dos opositores, o apagão tem potencial para mexer no tabuleiro eleitoral, já que é uma situação que afeta diretamente a grande maioria dos cerca de 500 mil macapaenses.
A falta de energia também deixou a campanha em suspenso. Desde o fim de outubro, a prefeitura já havia proibido a realização de atos nas ruas por causa do avanço da pandemia.
O apagão fez com que as principais campanhas interrompessem a produção dos programas eleitorais de TV e rádio. Isso porque, além das dificuldades de produção das propagandas, a maior parte das rádios e redes de televisão locais está fora do ar.
Capiberibe relata dificuldades até mesmo para manter a campanha nas redes sociais. Ele afirma que apenas em poucos locais da cidade é possível obter conexão para acessar a internet. Na TV, diz ele, a sua campanha vem repetindo os programas já gravados.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.