Descrição de chapéu Eleições 2020

Candidatas triunfam nas três disputas de segundo turno com mulheres em MG

Uberaba e Juiz de Fora terão primeiras prefeitas de sua história; em Contagem, petista retorna ao cargo para terceiro mandato

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Belo Horizonte

Dos oito candidatos que ainda esperavam um resultado nas urnas em Minas Gerais no último domingo (29), três eram mulheres e todas foram eleitas.

Duas serão as primeiras prefeitas de seus municípios —a terceira já havia conquistado esse feito 16 anos atrás.

Marília Campos (PT), 59, deputada estadual, voltará a ser prefeita de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, pela terceira vez.

Margarida Salomão (PT), 70, deputada federal, venceu em Juiz de Fora depois de chegar três vezes ao segundo turno e perder.

Já Elisa Araújo (Solidariedade), 38, conquistou o pleito em Uberaba na primeira eleição que disputou.

Elisa Araújo (Solidariedade) foi eleita em Uberaba, Margarida Salomão (PT), em Juiz de Fora, e Marília Campos (PT) em Contagem
Elisa Araújo (Solidariedade) foi eleita em Uberaba, Margarida Salomão (PT), em Juiz de Fora, e Marília Campos (PT) em Contagem - Divulgação

Dos nove municípios com mais de 200 mil eleitores em Minas Gerais, três terão prefeitas a partir de 2021, com as candidatas eleitas no domingo.

Segundo dados do TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais), 64 mulheres foram eleitas para o Executivo municipal nos 853 municípios mineiros em 2020.

Em dois casos, porém, as candidaturas foram indeferidas em primeira instância. As candidatas podem recorrer da decisão, mas não podem tomar posse por enquanto.

Sueli Nogueira (PSDB), que teve 65% dos votos em Pedra do Anta, tem condenação por improbidade administrativa, e Araci Cristina (PDT), que recebeu 45,4% dos votos em Antônio Carlos, teve contas de mandatos anteriores rejeitadas.

Ainda que em ritmo lento, as eleições deste ano em Minas mostraram que há um processo de ocupação da política pelas mulheres, com candidatas de diferentes posições ideológicas, afirma a professora Marlise Matos, do Departamento de Ciências Políticas da UFMG e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher.

Na capital, Belo Horizonte, o número de mulheres na Câmara Municipal triplicou em relação à legislatura anterior: serão 11 vereadoras em uma Casa com 41 assentos.

“A gente já se escolarizou, entrou no mercado de trabalho. Sobra o espaço do poder político institucional como uma reserva branca e masculina, que ainda fica resistindo a esses esforços de ruptura, que são necessários, porque democracia se faz com pluralismo”, afirma Marlise.

Ex-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora e deputada federal no terceiro mandato, Margarida Salomão era a única mulher disputando contra cinco candidatos homens quando concorreu à prefeitura da sua cidade natal pela primeira vez, em 2008.

Doze anos depois, dos 11 candidatos na disputa, cinco eram mulheres. Entre os quatro mais votados, três eram candidatas —além de Margarida, Ione (Republicanos) e Delegada Sheila (PSL).

“Ter mais mulheres disputando muda a natureza da disputa. Reforça de forma expressiva que as mulheres estão disputando seus direitos e que prefeitura é lugar que mulher pode ocupar. Mexe com a imaginação política da população”, diz Margarida, eleita com 54,9% dos votos contra 45% do adversário, Wilson Rezato (PSB).

Marília Campos, que se tornou a primeira prefeita de Contagem em 2004 e foi reeleita em 2008, conta que enfrentou mais rejeição ao PT do que machismo nestas eleições.

Durante a apuração, ela e o adversário, Felipe Saliba (DEM), se alternaram várias vezes na liderança e chegaram a ter diferença de apenas quatro votos.

A petista, que ficou à frente no primeiro turno com 41,8% dos votos, foi eleita no segundo com 51,3% —7.781 votos a mais que Saliba. Atualmente deputada estadual, Marília diz acreditar que as mulheres possuem uma forma diferente de fazer política que tem encontrado respaldo junto ao eleitorado.

“O fato de a gente não abandonar a vida cotidiana, de educar filhos, de fazer compras no supermercado dá uma dimensão diferente na forma como lida [com as questões], ou seja, a política não é nossa única agenda. Viver outros aspectos da vida também faz parte da nossa agenda”, diz ela, que é mãe de três filhos —um deles ainda mora com ela.

“A gente educa pelo exemplo, mas é importante ter isso na família e na escola”, afirma Marília. “Enquanto a gente não tiver mulheres estimuladas a disputar o espaço público, não vamos conseguir vencer a questão da representação, que ainda é pequena."

Um estudo feito em 2018 pelo Instituto Alziras, que ouviu 45% das 649 prefeitas eleitas em 2016 no país, aponta que as mulheres são minoria nos Executivos municipais (12% das prefeituras) e governam municípios menores e mais pobres.

Segundo o estudo do instituto batizado em homenagem à primeira prefeita eleita no Brasil, Alzira Soriano, 91% das prefeitas estavam em municípios com menos de 50 mil habitantes, 60% delas já haviam sido eleitas em cargos políticos e 71% tinham ensino superior —entre os prefeitos homens, o percentual era de 50%.

Estreante em eleições, Elisa Araújo conta em um vídeo publicado em seu site que foi a primeira mulher em 80 anos a presidir o braço regional da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais) na região do Vale do Rio Grande e que estava pronta para se tornar a primeira prefeita da história bicentenária do município de Uberaba.

Apoiada pelo governador Romeu Zema (Novo), Elisa venceu o segundo turno com 57,3% dos votos contra 42,6% de Tony Carlos (PTB), que tinha uma vice mulher.

Nas redes sociais, diz ela, o machismo foi mais acentuado, com comentários que diziam que seu lugar era na cozinha e cuidando da casa.

“A mulher, sim, pode estar no lugar que ela quiser”, afirma Elisa. “Uberaba sempre foi governada pelos mesmos grupos políticos, e a gente entendeu que aqui precisava de alternância e enfrentamos."

Elisa pretende ouvir servidores para definir seu secretariado. Marília tentou manter o equilíbrio nos governos anteriores e deve buscar isso agora, embora gênero não seja o único critério de escolha. Já Margarida colocou como um dos compromissos ter um secretariado paritário —a equipe de transição tem três homens e três mulheres.

“Setores importantes da população brasileira, as mulheres e os negros, entenderam que é vital disputar o espaço de representação política para que nossos interesses e nossas pautas venham a ser formulados e defendidos”, diz a prefeita eleita em Juiz de Fora.

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