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Vitória de Lira coroa série de derrotas de Maia, que perde força no plano anti-Bolsonaro para 2022

Deputado está em litígio com o partido e pode voltar a ostracismo vivido durante oposição ao PT

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Brasília

A eleição de Arthur Lira (PP-AL) para o comando da Câmara coroa a série de derrotas sofridas por Rodrigo Maia (DEM-RJ) nos últimos meses e lança uma sombra de incertezas sobre o futuro do deputado, hoje com 50 anos, ainda jovem para os padrões da política.

Em um primeiro momento, vão praticamente à lona as expectativas de que ele assuma papel de protagonismo nas articulações de partidos de centro-direita que buscam uma alternativa, em 2022, a Jair Bolsonaro.

O primeiro sinal de perda de poder recente de Maia ocorreu quando o centrão, sob liderança de Arthur Lira (PP-AL), embarcou na aliança com o governo justamente no momento em que Bolsonaro elevava ao máximo os ataques ao presidente da Câmara.

A partir desse momento, a Câmara passou a ter dois focos de poder bem definidos e separados. O de Maia e de partidos de centro-direita não bolsonaristas, em especial DEM, MDB e PSDB, e, de outro, o centrão, liderado por PP, PSD, PL e PTB.

Sob o discurso oficial de que a prioridade era o combate à Covid-19, Maia segurou ainda ao máximo a definição sobre sua sucessão, acalentando, nos bastidores, a possibilidade de concorrer ele mesmo a mais um mandato. No centrão, a candidatura de Lira vinha sendo trabalhada havia alguns anos.

A pá de cal nas pretensões do presidente da Câmara vieram com a decisão apertada do Supremo Tribunal Federal que vetou a possibilidade de reeleição dele e de Davi Alcolombre (DEM-AP) —o que trouxe ainda, como fator adicional, o rompimento com o colega do Senado, que creditou a decisão do STF que lhe atingiu à insistência de Maia de concorrer ao quarto mandato consecutivo.

Após isso, o presidente da Câmara ainda teve dificuldade de definir, entre os vários aliados a quem acalentou esperança, o seu candidato.

Como ocorre normalmente nesses casos, após a escolha de Baleia Rossi (MDB-SP), alguns dos preteridos passaram a atuar como adversários na disputa, em especial Marcos Pereira (Republicanos-SP) e o colega de partido Elmar Nasicmento (DEM-BA), ex-líder da bancada.

Paralelamente a isso, a costura de Alcolumbre com o Planalto para emplacar Rodrigo Pacheco (DEM-MG) como presidente do Senado também contribuiu para minar o capital político de Maia e de seu candidato, já que o apoio do centrão a Pacheco inibiu ações mais contundentes dentro do próprio DEM em prol de Baleia.

Por fim, o governo Bolsonaro, contrariando promessas de campanha, entrou pesado na disputa, transferindo a Lira a tarefa da distribuição de cargos na máquina federal e de bilhões em verbas do Orçamento direcionadas a obras e investimentos apadrinhadas pelos deputados.

Com isso, Maia chegou à reta final em litígio com o presidente da legenda, ACM Neto (BA), antigo parceiro da Câmara, a quem afirmou que o DEM pode virar "o partido da boquinha", e com a possibilidade real de deixar a sigla, que presidiu de 2007 a 2011 e no qual o pai, Cesar Maia, hoje vereador no Rio, teve protagonismo em décadas passadas.

Não só as derrotas políticas conspiram contra o futuro político de Maia.

A perda do poder de quatro anos e meio que lhe credenciou como uma das principais vozes da República, a ponto de o seu apoio assegurar mandatos —no caso de Michel Temer (MDB)— ou barrar ações presidenciais —no caso de Bolsonaro—, se esvai quase que instantaneamente após a saída da cadeira de presidente da Câmara.

Desde a redemocratização do país, em 1985, é bem maior a lista de presidentes da Câmara que deixaram o poder direto para um relativo ostracismo —ou para um destino pior, a cadeia—, do que aqueles que saíram de lá para alçar maiores voos.

Dos antecessores de Maia neste século, apenas dois assumiram um papel de maior relevo nos anos posteriores, mas ambos, Michel Temer (MDB-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG), tinham forte ascendência sobre os seus partidos, situação bem diferente da de Maia, atualmente.

Na lista dos que perderam relevância política estão Marco Maia (PT-RS), Arlindo Chinaglia (PT-SP), Waldir Maranhão (MA), entre outros, além dos que, além disso, acabaram presos depois —Eduardo Cunha (MDB-RJ), Henrique Eduardo Alves (MDB-RN) e João Paulo Cunha (PT-SP).

Maia é deputado federal no sexto mandato consecutivo, que só termina em janeiro de 2023. Até lá, porém, terá que conviver na condição de oposição na Câmara, situação que conheceu de perto de 2003 a 2016.

Nesse período, apesar de ter comandado o DEM nacionalmente, ele passou por longo período de ostracismo, muito em parte pela decadência sofrida pelo partido durante os governos do PT. Foi resgatado politicamente por Eduardo Cunha, que lhe deu papeis de comando nas discussões da reforma política.

O rompimento com o emedebista pouco antes de sua queda, além de outras atitudes —ele havia votado no ano anteiror a favor do pacote de ajuste fiscal do então ministro da Fazenda de Dilma, Joaquim Levy—lhe credenciaram a obter o apoio da oposição, vencer o centrão e consquistar primeiro de seus três mandatos.

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