Carta ignorada da Pfizer, contradições e Pazuello; veja 6 temas do depoimento de Wajngarten à CPI da Covid

Ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro chegou a ser alvo de pedido de prisão durante sessão da comissão

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São Paulo

Em depoimento tumultuado à CPI da Covid, o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten se contradisse em uma série de ocasiões e se esquivou de perguntas.

Wajngarten deixou o governo em março deste ano e ganhou atenção da CPI após entrevista que concedeu à revista Veja, em abril, na qual afirmou que a compra de vacinas oferecidas pela Pfizer, ainda em 2020, não ocorreu por "incompetência e ineficiência" do Ministério da Saúde, à época chefiado pelo general Eduardo Pazuello.

Apesar de boa parte do depoimento ter sido marcada por contradições, as falas abrem caminho para possíveis cruzamentos de informações e, a partir do depoimento, a CPI teve acesso a uma carta da Pfizer enviada a diferentes autoridades do governo em setembro do ano passado e que teria ficado parada sem resposta por dois meses.

Veja seis temas importantes do depoimento de Wajngarten.

Evasão e contradições

A sessão foi marcada por diversos bate-bocas. Diante de contradições no depoimento de Wajngarten, os senadores se irritaram e relembraram o publicitário em diversos momentos que falso testemunho em CPI poderia levar à prisão.

O clima ao longo do depoimento ficou tão tenso que o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a, de fato, pedir a prisão de Wajngarten por supostamente ter mentido à CPI. Outros senadores fizeram coro ao pedido, que não prosperou por decisão do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).

Boa parte das questões feitas a Wajngarten foram centradas em elementos levantados pelo próprio em entrevista que concedeu à Veja em abril. No entanto, as contradições não se restringiram a pontos da entrevista. Wajngarten deu respostas que contrariam ações anteriores do governo, como em relação a campanhas de comunicação.

Carta da Pfizer

Um dos destaques do depoimento foi a divulgação de carta da Pfizer que teria sido enviada ao governo federal e ficado ao menos dois meses sem resposta.

A carta, assinada pelo diretor-executivo da Pfizer mundial, Albert Bourla, teria sido enviada a seis autoridades do governo, entre elas o presidente Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro Paulo Guedes (Economia) e o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Nela, a farmacêutica oferecia negociar doses de vacina ao Brasil e dizia que não tinha recebido resposta do Ministério da Saúde. "Apresentamos uma proposta ao Ministério da Saúde do Brasil para fornecer nossa potencial vacina que poderia proteger milhões de brasileiros, mas até o momento não recebemos respostas."

“Sabendo que tempo é essencial, minha equipe está interessada em acelerar as discussões sobre uma possível aquisição e pronta para se reunir com Vossa Excelência ou representantes do governo brasileiro o mais rapidamente possível."

Negociação das vacinas

Outro ponto que surgiu algumas vezes durante o depoimento foi a participação do próprio Wajngarten nas negociações com a Pfizer. À revista Veja, em abril, Wajngarten afirmou: “Antevi os riscos da falta de vacina e mobilizei com o aval do presidente vários setores da sociedade".

Embora tenha afirmado não ter mentido à revista Veja e nem à CPI, Wajngarten apresentou à comissão uma versão diferente. Ao ser questionado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), por exemplo, evitou por diversas vezes dar uma resposta direta sobre o conhecimento de Bolsonaro sobre sua atuação.

Além disso, também chegou a dizer no depoimento que nunca‌ ‌participou‌ ‌das‌ ‌discussões‌ sobre o tema ‌e‌ ‌que‌ ‌não‌ ‌negociou‌ ‌com‌ ‌a‌ ‌empresa.‌ Pressionado, neste ponto, afirmou que só buscou maiores quantidades e classificou sua atuação como “preocupação com o ser humano”. “Em‌ ‌nenhum‌ ‌momento‌ ‌eu‌ ‌entrei‌ ‌no‌ ‌mérito,‌ ‌eu‌ ‌busquei‌ ‌sempre‌ ‌a‌ ‌maior‌ ‌quantidade‌ ‌no‌ ‌menor‌ ‌tempo‌ ‌possível‌ ‌e‌ ‌nada‌ ‌além‌ ‌disso."

Ministério paralelo

Indagado se havia um aconselhamento paralelo do governo Bolsonaro em relação à saúde, como afirmou o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, Wajngarten negou.

Durante a sessão da CPI, Renan afirmou que o ex-secretário incriminava Bolsonaro, ao confirmar a existência de um ministério paralelo de aconselhamento ao presidente durante a pandemia, fora da estrutura do Ministério da Saúde.

“Ele disse desconhecer a existência [de um ministério paralelo], mas é o contrário: Vossa Excelência é a prova da existência dessa consultoria, é a primeira pessoa que incrimina o presidente da República, porque iniciou uma negociação em nome do Ministério da Saúde, como secretário de Comunicação e se dizendo em nome do presidente; é a prova da existência disso”, disse o relator da comissão.

Tentativa de preservar Pazuello

Em abril, Wajngarten afirmou em entrevista que a compra de vacinas oferecidas pela Pfizer, ainda em 2020, não ocorreu por "incompetência e ineficiência" do Ministério da Saúde, então chefiado pelo general Eduardo Pazuello.

Já no depoimento, Wajngarten se esquivou e disse que via como incompetência do ex-ministro "ficar refém da burocracia".

Questionado novamente sobre esse ponto, o ex-secretário chegou a dizer que o uso da palavra incompetência teria sido feita pela revista para dar audiência e vender exemplares. Ainda durante o depoimento, a revista Veja publicou trecho da gravação da entrevista e que foi lido pela senadora Leila Barros (PSB-DF) .

Neste momento, Wajngarten afirmou: “Me parece que o áudio é verdadeiro”. Ele disse que não tinha negado que falara sobre incompetência.

Em resposta, a senadora respondeu que eles estavam há horas em depoimentos e que, em nenhum momento, ele havia dito que nunca negara isso. “Eu nunca neguei isso, eu falei exatamente isso, houve um excesso de burocracia no sistema”.

Campanhas de comunicação

Em diferentes momentos da sessão, Wajngarten foi questionado acerca de campanhas de comunicação do governo federal, tanto sobre a defesa do chamado "tratamento precoce" e o pagamento de influenciadores por parte do governo quanto sobre uma campanha lançada em março do ano passado intitulada "O Brasil não pode parar".

Sobre o tema, Wajngarten foi evasivo muitas vezes, e, quando respondeu, também caiu em contradições.

À época, ‌conteúdo‌ ‌com‌ ‌a‌ ‌hashtag‌ ‌#OBrasilNãoPodeParar‌ foi publicado ‌em‌ ‌pelo‌ ‌menos‌ ‌dois‌ ‌perfis‌ ‌oficiais‌ ‌do‌ ‌governo. A circulação da campanha foi vetada pelo ministro‌ ‌Luís‌ ‌Roberto‌ ‌Barroso,‌ ‌do‌ ‌STF‌ ‌(Supremo‌ ‌Tribunal‌ ‌Federal), sob o argumento de ‌que‌ ‌iniciativas‌ ‌contra‌ ‌o‌ ‌isolamento‌ ‌colocariam‌ ‌a‌ ‌vida‌ ‌da‌ ‌população‌ ‌em‌ ‌risco. ‌

Ao tentar se esquivar do tema, Wajngarten afirmou que estava fora da Secom à época porque estava se recuperando da Covid, e também disse que não sabia se‌ ‌a campanha era ‌de‌ ‌autoria ou ‌de‌ ‌assinatura‌ ‌da‌ ‌Secom.

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