Pragmático, Ciro Nogueira já foi alvo da Lava Jato, enalteceu Lula e atacou Bolsonaro; veja vídeo

Senador do PP aceitou convite para assumir Casa Civil em mudanças no primeiro escalão do governo para ampliar poder do centrão na Esplanada

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Brasília

Assim como o bloco que lidera, o centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) é um exemplo de político acostumado a figurar ao lado do poder, seja ele ocupado pela direita seja pela esquerda.

O congressista tem um passado de apoio e elogios rasgados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assim como já chamou de fascista o presidente Jair Bolsonaro, de quem se tornou um dos principais defensores.

Na manhã desta terça (27), após reunião com Bolsonaro, Ciro Nogueira divulgou que aceitou convite de Bolsonaro para ser nomeado ministro-chefe da Casa Civil.

O futuro ministro do governo também responde a inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal).

Presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI) deve assumir o comando da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro
Presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI) deve assumir o comando da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro - Pedro Ladeira - 12.mai.21/Folhapress

Em fevereiro de 2020, foi apresentada denúncia contra o senador, acusado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) de receber propina de R$ 7,3 milhões da Odebrecht, em 2014 e 2015, em troca de atuação no Congresso em benefício da Braskem, braço petroquímico do grupo.

Em outra denúncia, a PGR acusou Ciro, o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) e o ex-deputado Márcio Junqueira (ex-filiado ao PP) por suposta tentativa de atrapalhar os trabalhos da Lava Jato. No caso, a suspeita é que o senador e o deputado tentaram comprar o silêncio de um ex-assessor que tem colaborado com os investigadores.

No âmbito das investigações do caso JBS, um inquérito apura o suposto pagamento de propina ao senador piauiense para que o PP apoiasse o PT nas eleições de 2014 e para que não apoiasse o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) dois anos depois. Ciro nega todas as acusações.

A defesa do senador, por sua vez, afirma que ele foi colocado em foco de investigação quando havia uma "tendência de criminalização da política". Seu advogado ainda acrescenta que as primeiras acusações foram rechaçadas pelo Supremo.

"Claro que ninguém está acima da lei, e todos podem e devem ser investigados. Mas não há, em nenhum dos inquéritos em trâmite no Supremo Tribunal Federal, qualquer coisa que preocupe a defesa. O tempo exagerado nas análises das questões faz com que exista um desequilíbrio entre os poderes. A PGR capturou a pauta do Legislativo", afirma em nota o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

A defesa ainda afirma que, no caso da Odebrecht, a única base das acusações são afirmações de delatores, que não se sustentaram em nenhum outro momento do inquérito.

​Advogado de formação e com longo histórico no Congresso, Ciro Nogueira, 52, é há quase uma década o presidente nacional do PP e se tornou um dos principais nomes do centrão.

Ele comanda, portanto, um exército de congressistas que dá base de sustentação ao governo, mas que também apresenta suas faturas para desempenhar o seu papel. No PP, são 7 senadores e 41 deputados federais.

Comandando na Câmara pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), o centrão reúne siglas de grande, médio e pequeno porte, como PP, PL, PTB e Republicanos, que hoje somam cerca de 150 deputados.

O próprio Ciro, em uma visão extremamente pragmática, costuma falar a interlocutores que ainda é vantajoso permanecer ao lado de Bolsonaro, inclusive nas eleições de 2022, apesar da queda de popularidade do chefe do Executivo.

O senador argumenta que o PP nunca apresentou um crescimento tão vertiginoso, em particular no número de prefeitos eleitos, mesmo nos anos em que esteve ao lado de Lula.

Sobre o ex-presidente, Ciro já chegou a dizer que "Lula foi o melhor presidente da história, principalmente para o Piauí e Nordeste" e sempre mantém um nível de diálogo com ele, uma forma de manter o Palácio do Planalto em alerta sobre a importância do apoio.

Por outro lado, mudou radicalmente o seu discurso a respeito de Bolsonaro, que já foi correligionário e colega de Câmara dos Deputados.

"O Bolsonaro eu tenho muita restrição, porque é um fascista, tem um caráter fascista, preconceituoso, é muito fácil você ir para a televisão, dizer que vai matar bandido. É um discurso muito fácil, mas isso não é para a Presidência da República", disse em uma entrevista de 2017 ao Programa Agora, da Rede Meio Norte, a mesma em que elogiou Lula.

Ciro integrou a base do governo Dilma, mas abandonou o barco em 2016 e passou a defender o impeachment. Argumentou na ocasião que o governo havia perdido a sua capacidade de sustentação.

Em mais um movimento característico, manteve sua aliança com os petistas no Piauí, apoiando o governador Wellington Dias (PT).

Ciro Nogueira Lima Filho provém de uma família tradicional de políticos do Piauí. Seu avô Manoel Nogueira Lima foi prefeito da cidade de Pedro II, e seu pai, Ciro Nogueira Lima, foi deputado federal por dois mandatos.

O político mais jovem do clã foi eleito deputado federal em 1994 e permaneceu por quatro mandatos na Câmara. Em 2010, migrou para o Senado, onde foi reeleito em 2018. A primeira suplente, que assume o cargo assim que ele for designado ministro da Casa Civil, é sua mãe, Eliane Nogueira.

O político é considerado extremamente habilidoso, criando boa interlocução e base de apoio. Por outro lado, também deixa claro que alianças são conjecturais, precisam beneficiar os dois lados.

Em um dos piores momentos do governo, durante a instalação da CPI da Covid, liderou uma tropa de choque para tentar defender o governo, que havia ficado em minoria na comissão pela falta de coordenação entre Planalto e os líderes do governo.

No entanto, sempre soube escolher suas batalhas. Durante o depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo, muitos notaram a sua ausência, deixando o ex-ministro ser duramente atacado pelos senadores independentes e oposicionistas, sendo apenas defendido por congressistas com menos experiência.

Defendeu na CPI ferrenhamente o ex-ministro da Saúde e general Eduardo Pazuello, que caiu, entre outros motivos, justamente pela pressão exercida pelo centrão.

Se elogios e defesas públicas são circunstanciais, sinais mais fortes de laços costumam ser representados quando ele presenteia um amigo com a camisa do Ríver do Piauí, time do qual é torcedor fanático e já presidiu.

Esse foi o gesto definitivo de aproximação do senador com Bolsonaro, em 2020, e também coincidiu com o embarque do centrão no governo.

Colaborou Marcelo Rocha, de Brasília

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