PL e PP, líderes do centrão e aliados de Bolsonaro, foram cruciais para derrota de voto impresso

Dois terços dos partidos de Valdemar Costa Neto e do ministro Ciro Nogueira se colocaram contra medida

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Brasília

A análise do mapa da votação que rejeitou na terça-feira (10) a adoção do voto impresso mostra que os dois principais partidos do centrão, PL e PP, foram cruciais para enterrar na Câmara a bandeira de Jair Bolsonaro, também pretexto para seus discursos golpistas.

Apesar de serem aliados do presidente da República, as duas siglas deram apenas 27 votos a favor da medida, um terço de suas bancadas. Outros 36 deputados dessas duas legendas votaram contra e 18 se ausentaram, o que, na prática, contou como voto contário à PEC.

Ou seja, se PP e PL tivessem se mobilizado totalmente a favor do voto impresso, a medida ficaria bem mais próxima de ser aprovada —em vez de 79, teriam faltado apenas 25 votos.

No dia em que Bolsonaro foi protagonista de desfile de veículos militares em frente ao Palácio do Planalto, a PEC do voto impresso foi derrotada pelo plenário da Câmara tendo 229 a favor, 218 contra e uma abstenção.

Eram necessários ao menos 308 votos dos 513 deputados —60%— para que a proposta de impressão do voto dado pelo eleitor na urna eletrônica fosse adiante. Ou seja, faltaram 79 votos para que a PEC fosse aprovada. Diante do resultado, ela foi arquivada.

O PP lidera o centrão e tem a Casa Civil, comandanda pelo presidente da sigla, o senador Ciro Nogueira, recém-nomeado por Bolsonaro para comandar a pasta estratégica no Planalto. A Câmara também é presidida pelo partido, com Arthur Lira (PP-AL), que nesta terça afirmou esperar que esse assunto esteja encerrado entre os deputados.

O PL de Valdemar Costa Neto, um dos mais antigos caciques partidários do país, integra o centrão e tem entre seus quadros a ministra responsável formalmente pela articulação política do governo, Flavia Arruda (Secretaria de Governo).

Nos bastidores, o centrão nunca se envolveu de corpo e alma na defesa do voto impresso, considerando essa uma bandeira dos bolsonaristas radicais. Na reta final da discussão, ainda pesou contra o agravante de Bolsonaro intensificar o discurso contra os Poderes.

Em uma atitude diferente das grandes siglas do centrão, partidos que se opõem a Bolsonaro, mas não integram a esquerda, racharam, apesar do discurso público de seus presidentes contrários ao voto impresso.

Em junho, presidentes de 11 legendas se reuniram e fecharam acordo para votar contra a medida.

Nesta terça, porém, PSDB, MDB e DEM se dividiram. Os tucanos deram 14 votos a favor da medida, mais do que os que votaram contra (12). Cinco se ausentaram, e Aécio Neves (MG) foi o único a se abster, o que, na prática, contou como voto contra.

MDB e DEM deram 28 votos a favor da medida e 33 contra (entre faltosos e votos não). O PSD de Gilberto Kassab pendeu mais para o lado do voto impresso —20 votos a favor da medida e apenas 15 contra (entre votos não e faltosos).

Dirigentes partidários atribuíram boa parte dos votos favoráveis à PEC à pressão de integrantes do governo e de bolsonaristas. Segundo eles, houve forte ofensiva via redes sociais e mensagens de WhatsApp para convencer os parlamentares a aprovarem o texto.

Alguns acabaram se comprometendo nas redes sociais e não quiseram voltar atrás, sob argumento de não frustrar as bases.

Segundo dirigentes partidários que trabalharam contra a bandeira bolsonarista, embora o resultado da votação não tenha sido acachapante, o fato de Bolsonaro ter pressionado pessoalmente e colocado até blindados na rua no mesmo dia da votação mostra o quanto ele foi derrotado.

O PSL, partido pelo qual se elegeu Bolsonaro, votou em peso a favor da PEC —45 contra 8 (entre "não" e faltosos).

A pressão de governistas na reta final das discussões teve peso grande na bancada evangélica.

O Repúblicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, foi uma das siglas grandes que mais apoio deram à medida. Foram 26 votos favoráveis e apenas 3 contra e 3 faltosos. O PSC, também ligado aos evangélicos, votou fechado (11 deputados) a favor da medida.

A oposição votou contra, como era esperado, em especial PT, PSOL e PC do B. Em duas siglas desse campo, houve apoio maior ao voto impresso, no PDT e PSB.

No PDT, partido em que o voto impresso era uma bandeira histórica, apenas seis dos 25 deputados foram favoráveis à PEC. Os demais votaram contra, em resposta à polarização e à apropriação do tema pelos bolsonaristas.

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