O PSDB decidiu que a comissão responsável pelas prévias presidenciais do partido irá definir caso a caso a possibilidade de participação no pleito interno de 92 prefeitos e vice-prefeitos de São Paulo cujas datas de filiação estão sob suspeita.
A decisão por aclamação foi tomada em reunião da executiva nacional do partido no início da tarde desta quinta-feira (28). Enquanto a comissão não tomar essa decisão, que deve acontecer nas próximas semanas, todos eles estão suspensos de participar da votação.
Na semana passada, diretórios do PSDB do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e Ceará, alinhados a Leite, acusaram o diretório paulista, controlado por Doria, de fraudar as datas de filiações desses prefeitos e vices.
As regras das prévias determinam que só filiados até 31 de maio poderiam participar —o PSDB-SP diz que as filiações foram feitas antes do prazo, mas os aliados do governador gaúcho apontam que as fichas foram fraudadas com data retroativa.
A decisão de enviar os casos para análises individuais às comissões de prévias havia sido anunciada na quarta (27) pelo presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo. Faltava apenas submeter à executiva nacional.
Bruno Araújo não participou da votação desta quinta, comandada pelo vice-presidente nacional do partido, Domingos Sávio.
"A decisão da Executiva referenda resolução da Presidência Nacional do PSDB que determina ainda a competência da Comissão de Prévias para deliberar sobre qual data de filiação deve ser considerada em cada caso para efeitos de formação do colégio eleitoral", informou o PSDB, por meio de nota.
A comissão tem dito que a ideia é ter o auxílio da parte jurídica do partido e tomar uma decisão já na próxima semana. Nos bastidores, membros do colegiado veem indícios de que as filiações ocorreram fora do prazo.
A solução dada por Araújo foi saudada por tucanos paulistas. Eles apontam que o presidente deixa claro que as filiações são regulares e não estão em questionamento —a dúvida é apenas se tais filiados estão aptos a votar.
Em Dubai, onde participa de uma missão empresarial, Doria não quis comentar a discussão do PSDB.
Em entrevista à imprensa na quarta, o presidente do PSDB-SP e secretário da gestão Doria, Marco Vinholi, afirmou confiar na decisão da comissão e evitou responder se o diretório paulista irá à Justiça caso o resultado seja negativo para Doria.
"Acreditamos no bom senso do partido, então [temos] certeza de que, de acordo com a legalidade daquilo que foi feito, esses filiados irão votar", disse.
A filiação dos prefeitos e vices é o último capítulo da guerra interna do partido. A disputa no PSDB já levou aliados de Doria até a levantarem desconfiança até sobre o sistema de votação do pleito, que acontecerá de forma eletrônica, por meio de um aplicativo.
Nos bastidores, pessoas próximas ao governador paulista diziam nas últimas semanas que o formato não é confiável e pode haver manipulação. Sugeriram como alternativa voltar à maneira antiga, com uso de cédulas.
Como mostrou a Folha, publicações de prefeitos em redes sociais reforçaram as suspeitas sobre as datas de filiação ao PSDB devido às menções de datas posteriores às informadas à Justiça Eleitoral. Além disso, um dos mandatários afirmou à reportagem ter assinado a ficha de filiação somente na última sexta (22).
No sistema da Justiça Eleitoral, que é preenchido pelo próprio PSDB paulista, as datas de filiação desse grupo de 92 nomes aparecem entre os meses de março e maio, mas as datas de registro, ou seja, as datas em que o partido lançou as filiações no sistema, estão entre agosto e setembro.
É comum, no entanto, que os partidos não registrem no sistema as filiações na data exata em que acontecem. É isso que argumenta o PSDB paulista, afirmando que a data de registro não deve ser levada em consideração.
Na opinião de articuladores políticos de Leite, porém, o fato de o PSDB paulista não ter registrado as filiações até 31 de maio, tendo conhecimento das regras das prévias, evidencia que tais filiações não existiam à época.
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