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PSDB cria regra para tentar frear guerra entre Doria e Eduardo Leite nas prévias

Após questionamentos das duas campanhas, medida tenta diminuir a temperatura da crise tucana

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São Paulo

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, decidiu acatar questionamentos tanto de aliados de João Doria como de Eduardo Leite e fixar uma regra para a votação de novos filiados nas prévias que escolherão o candidato da legenda ao Planalto.

Na tentativa de frear a guerra interna entre as duas campanhas, a sigla decidiu que só terão direito a voto filiados devidamente cadastrados até 31 de maio de 2021 no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Com isso, tucanos que dizem ter se filiado antes dessa data, mas que só foram registrados depois no sistema oficial, ficarão impedidos de participar das prévias do PSDB.

A determinação é uma tentativa do partido de diminuir a temperatura da crise na disputa interna entre o governador de São Paulo, João Doria, e o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

O diretório gaúcho do PSDB, junto com os de Minas Gerais, Bahia e Ceará, apoiadores de Leite, questionaram a filiação de 92 prefeitos e vices de São Paulo que teria ocorrido fora do prazo.

Como resposta, o PSDB de São Paulo, comandado por apoiadores de Doria, entrou com representação na comissão das prévias do partido para que 34 filiados de outros estados também não pudessem votar nas eleições que definirão o candidato da legenda ao Planalto. O pedido paulista se referia aos diretórios do Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais.

Com a resolução, os questionamentos de todos os diretórios foram acatados, e nenhum dos novos filiados cadastrados depois de 31 de maio poderão votar.

"As prévias do PSDB são um acontecimento inédito no Brasil. Por isso, é natural que ocorram questionamentos em relação a todas candidaturas, sobretudo no processo de construção e entendimento do regulamento. O fundamental é a boa-fé de todos que estão imbuídos na construção do fortalecimento do partido na contribuição de alternativas saudáveis para o país", afirmou Bruno Araújo.


Na guerra interna tucana, apoiadores de Leite passaram a afirmar que levariam o caso dos 92 paulistas ao conselho de ética do partido, sob acusação de fraude do diretório de São Paulo.

Na segunda (1º), a comissão de prévias já havia determinado que nenhum dos prefeitos e vices paulistas que estavam no centro das suspeitas poderiam votar no processo de seleção interno.

Em resposta, o PSDB-SP pediu à comissão que outros 34 filiados do partido no RS, em Minas e na Bahia também não pudessem votar.

Assim como os integrantes vetados em São Paulo, a maioria dos 34 filiados nesses outros três estados tiveram um registro de filiação na Justiça Eleitoral com data retroativa. Por exemplo, se cadastraram em agosto, mas informaram que estavam filiados desde abril.

Em número menor, há casos também que admitem filiação após o prazo limite em que poderiam votar nas prévias, mas mesmo assim queriam votar.

A lista do PSDB de São Paulo gerou reações dos diretórios de apoiadores de Eduardo Leite.

"A irresponsável afirmação de que houve cadastramentos em outros estados, agora que SP foi punido, é mais uma mentira e uma tentativa de fazer cortina de fumaça para esconder fato grave, confirmado e decidido pelo conselho das prévias que mandou anular os votos dos fraudadores", disse o presidente do PSDB-MG, Paulo Abi-Ackel.

O presidente do PSDB-RS, Lucas Redecker, disse em nota que o presidente do diretório paulista, Marco Vinholi, tenta "criar uma cortina de fumaça em cima da comprovação de irregularidades cometidas nas filiações em massa de prefeitos e vices". Segundo ele, "isso é fraude".

Em resposta, Vinholi disse também em nota que os 34 casos nos três estados "são idênticos aos de São Paulo". "Comprovamos oficialmente os cadastros com as certidões do próprio TSE (Tribunal Superior Eleitoral)."

"Democracia se faz com respeito, isonomia e justiça para todos. Cortina de fumaça faz quem quer apontar dedo sem discutir o mérito da questão", acrescentou.

A lista apresentada pelo PSDB de São Paulo tinha, inicialmente, 32 casos. Foram acrescentados mais dois nesta quarta (3).

Diferentemente da lista de 92 prefeitos e vices, essa relação dos outros três estados inclui filiados em geral, sem mandato, que têm menos peso na votação das prévias do que prefeitos e vices.

Um dos citados na nova lista é o presidente municipal do PSDB em Itamarandiba (MG), Celso Abdala, filiado em 2 de outubro.

Procurado pela reportagem, ele diz que sabe do impedimento e que não irá votar. "É claro que eu pretendia votar, mas não tem como eu votar porque minha filiação é recente, e a regra que eles estabeleceram veta isso" afirma Abdala.

"[Mas] Quando as pessoas me ligam aqui fazendo pesquisa, eu declaro apoio ao Eduardo Leite. Aqui no nosso partido, aqueles que estão aptos a votar, vão votar no Eduardo Leite", diz.

O primeiro turno das prévias do PSDB está marcado para o dia 21 de novembro. Além de Doria e Leite, também concorre o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, que corre por fora.

A disputa no PSDB já levou aliados de Doria até a levantarem desconfiança sobre o sistema de votação do pleito, que acontecerá de forma eletrônica, por meio de um aplicativo.

Nos bastidores, pessoas próximas ao governador paulista diziam nas últimas semanas que o formato não é confiável e pode haver manipulação. Sugeriram como alternativa voltar à maneira antiga, com uso de cédulas.

Como mostrou a Folha, publicações de prefeitos em redes sociais reforçaram as suspeitas sobre as datas de filiação ao PSDB devido às menções de datas posteriores às informadas à Justiça Eleitoral. Além disso, um dos mandatários afirmou à reportagem ter assinado a ficha de filiação somente no dia 22 de outubro.

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