Descrição de chapéu
Eleições 2022

Próximo desafio de Doria é anular dianteira de Moro na terceira via

Como unir PSDB é improvável, tucano usará peso de SP para tentar atrair novos aliados

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

João Doria é o político que os políticos adoram odiar. É visto por aliados e adversários como obcecado por poder e "paulista demais", como seus colegas nordestinos gostam de dizer.

Doria, entre Virgílio (esq.) e Leite (dir.), antes do resultado final das prévias do PSDB
Doria, entre Virgílio (esq.) e Leite (dir.), antes do resultado final das prévias do PSDB - Adriano Machado/Reuters

Ranço tardio de 1932, o preconceito com um estado forjado por imigrantes é ao mesmo tempo um caso fácil de psicanálise barata e uma realidade: não casual o esforço do time de marketing do tucano em apresentá-lo como um filho de baiano chamado João.

Já as imprecações políticas têm sido abordadas com psicologia reversa, como exemplifica o famoso vídeo da campanha das prévias presidenciais tucanas do paulista.

"O Doria pode ser coxinha, usar calça apertada e exagerar no marketing pessoal. Ele pode até ser chato", dizia a peça, para completar com as adversativas positivas, o qualificando como competente e elencando os pontos de venda de sua gestão à frente do governo paulista.

Enfim ungido como candidato de um PSDB em plena implosão, Doria talvez não deverá perder muito tempo tentando juntar os cacos da sigla. Claro, acena a todos, mas é esperança vã achar que sua nêmesis, Aécio Neves (MG), trabalhará por sua eleição.

Com isso, o paulista desafiará a história, que mostra que o PSDB só teve chance de retomar a Presidência perdida no pleito de 2002 quando caminhou unido, o que ocorreu na eleição do mineiro contra Dilma Roussef (PT) em 2014.

Se dará certo é incógnita, mas de fato o foco de Doria terá de ser o de convencer seus potenciais aliados da dita terceira via acerca de sua viabilidade eleitoral. Será difícil, já que o governador não tem o controle de eleitorado em seu estado que garantia uma vantagem de largada boa para os candidatos de sua sigla em pleitos passados.

Pontos de venda, como dito antes, existem. São Paulo está com um desempenho econômico bastante acima do resto do país, Doria pode se dizer o "pai da vacina" sem exageros, no estado sua aliança de governo ora inclui 13 partidos.

Como apresentar isso sem uma suposta arrogância paulista é trabalho para os marqueteiros, claro. Apelar ao eleitor de Jair Bolsonaro, seu alvo prioritário para tentar ir ao segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dependerá do equilíbrio entre o antipetismo histórico de Doria e a pecha de que traiu o presidente ao virar seu rival após apoiá-lo em 2018.

Mas esses são problemas posteriores. Antes, Doria terá de fazer política, algo não muito associado a esse empresário que prefere dizer que "conhece o Brasil" a "conhecer Brasília".

O preço dessa inabilidade foi visto no maior erro político recente de Doria, quando no começo do ano tentou tomar o controle do PSDB em um jantar com ares de livro de Agatha Christie, no qual Aécio seria servido de sobremesa.

O episódio, revelado pela Folha em sua formação, trincou de vez a sigla —mesmo aliados de Eduardo Leite (RS), seu rival nas prévias, acreditam que a candidatura do paulista teria sido natural sem aquele trauma.

Ungido candidato, mesmo que não consiga unificar o PSDB, Doria poderá corrigir a impressão externa daquele caso ofertando espaço e coordenação aos eventuais aliados. Terá alguns meses para tentar.

Se todas essas dificuldades eram esperadas, dado o estilo arestoso do tucano, um problema adicional surgiu nas últimas semanas: a candidatura de Sergio Moro, o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro de Bolsonaro.

Moro sempre foi cortejado pelo governador paulista e, nos últimos dois anos, foi seu interlocutor em diversas ocasiões. Doria estava convencido de que ele não seria candidato até meados deste ano, quando a tibieza da terceira via incentivou o ex-juiz a entrar no páreo.

No jantar que teve em setembro com Moro e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), Doria prometeu ao ex-juiz que apoiaria o candidato que reunisse mais apoio, potencial de voto e intenção em pesquisas na terceira via.

Moro topou, mas disse a aliados que não confiava no acerto, e que considerava que o tucano falava de si mesmo o tempo todo. Além disso, apoiadores de Doria espalharam que o ex-juiz poderia ser candidato a senador por São Paulo, algo que nunca esteve em pauta.

Essa conjuntura levou Moro a apresentar-se como candidato a presidente quando se filiou ao Podemos, e estabeleceu uma agenda de articulações, namorando inclusive uma fatia do futuro União Brasil, a fusão DEM-PSL, apesar da repulsa que seu nome provoca no Congresso.

Há nuances nessa posição insinuada em algumas pesquisas. Mesmo entre entusiastas de Moro, existe o temor de que a exposição precoce estimule sua já respeitável rejeição, o que facilitaria o trabalho de Doria ou outro de candidato a tentar tirar a vaga de Bolsonaro no segundo turno, como Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Outros apostam na teoria do fato consumado, caso ele se descole rapidamente do pelotão de rivais e potenciais aliados no terceiro lugar da disputa.

Anular essa movimentação inicial de Moro sem alienar o ex-juiz é o próximo obstáculo de uma corrida que começou em 2016, quando Doria lançou-se na vida pública como um improvável candidato à Prefeitura de São Paulo já com o olho no Planalto.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.