Descrição de chapéu Eleições 2022

Manifesto pela democracia une Ciro, Doria, Huck, Mandetta, Amoêdo e Eduardo Leite

No texto, os seis presidenciáveis de oposição a Bolsonaro dizem que é preciso 'defender o Brasil' e relembram Diretas Já

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São Paulo

Seis dos pré-candidatos à Presidência em 2022 divulgaram nesta quarta-feira (31), em meio à crise militar no governo Jair Bolsonaro que coincide com o aniversário do golpe militar, o "Manifesto pela Consciência Democrática", em que dizem que a democracia está ameaçada e que é preciso "defender o Brasil".

O texto é assinado por Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite (PSDB), João Amoêdo (Novo), João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido). A coalizão é vista por pessoas ligadas ao grupo como embrião de uma possível união para a corrida presidencial.

Cotados para a disputa do ano que vem, eles dialogam com forças de centro, direita e esquerda e fazem oposição a Bolsonaro. O presidente não é citado na carta, que alerta para a ideia de que "o autoritarismo pode emergir das sombras" quando sociedades se descuidam da defesa dos valores democráticos.

A iniciativa ocorre um dia depois da renúncia coletiva inédita dos três comandantes das Forças Armadas. Maior crise militar desde 1977, a situação levou preocupação ao Congresso Nacional e a setores da sociedade, com especulações sobre uso político das tropas e risco de golpe.

O manifesto foi articulado por Mandetta, que sugeriu a ação conjunta em reação às trocas feitas por Bolsonaro nos ministérios, que levaram à demissão do general Fernando Azevedo da Defesa e à saída da cúpula das Forças. O texto foi redigido entre esta terça (30) e esta quarta-feira (31).

No documento, os signatários relembram os esforços pela conquista da democracia depois da ditadura militar (1964-1985) e dizem que a saída do regime autoritário se deu pela união de "diferentes forças políticas no mesmo palanque", com o movimento das Diretas Já.

"Três décadas depois, a Democracia brasileira é ameaçada. A conquista do Brasil sonhado por cada um de nós não pode prescindir da Democracia. Ela é nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós defendê-la e lutar por seus princípios e valores", afirma o texto.

Os autores sustentam ainda que a democracia "é o melhor dos sistemas políticos que a humanidade foi capaz de criar" e relacionam o regime a valores como Constituição, liberdade, justiça, igualdade, respeito, prosperidade e solidariedade.

"Liberdade de expressão, respeito aos direitos individuais, justiça para todos, direito ao voto e ao protesto. Tudo isso só acontece em regimes democráticos. Fora da democracia o que existe é o excesso, o abuso, a transgressão, o intimidamento, a ameaça e a submissão arbitrária do indivíduo ao Estado."

A carta afirma ainda, em tom de alerta, que "exemplos não faltam para nos mostrar que o autoritarismo pode emergir das sombras, sempre que as sociedades se descuidam e silenciam na defesa dos valores democráticos".

Por fim, os subscreventes pedem que homens e mulheres que apreciam a liberdade, sejam civis ou militares, independentemente de filiação partidária, cor, religião, gênero e origem, "devem estar unidos pela defesa da consciência democrática".

"Vamos defender o Brasil", concluem.

A organização do manifesto une atores políticos que têm diferenças entre si e até já trocaram críticas publicamente, casos do ex-ministro Ciro Gomes e do governador de São Paulo, João Doria. Associado à centro-esquerda, Ciro vem fazendo acenos ao centro e à centro-direita.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que se apresentou no PSDB como presidenciável e criou obstáculo para a candidatura nacional planejada há tempos por Doria, deixou de lado a disputa interna para assinar o texto.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que deixou o governo Bolsonaro e passou a criticar o presidente, é cogitado como opção do DEM para o Planalto. Ele se aproximou do apresentador da TV Globo Luciano Huck, que não tem filiação partidária nem confirma os planos de candidatura.

João Amoêdo, que concorreu em 2018 e é tido como o nome natural do Novo para 2022, tem pregado a necessidade de uma coligação de partidos para derrotar Bolsonaro na tentativa de reeleição.

Os seis signatários são também críticos à possibilidade de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por enxergarem na participação do petista uma repetição da polarização do pleito anterior, com a oposição entre dois políticos que o grupo considera populistas.

O ex-juiz da Operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Sergio Moro, também foi sondado pelos idealizadores do documento, mas não assinou o texto, sob a justificativa de que as regras da consultoria Alvarez & Marsal, da qual é contratado, impedem manifestações do tipo.

Moro também é lembrado como candidato no pleito do ano que vem, mas não confirma.

Políticos envolvidos na elaboração do texto ouvidos pela Folha foram cautelosos ao falar de eventual aliança entre os seis signatários, mas trataram o gesto como sinal de que pode haver um diálogo entre eles que caminhe para algum tipo de coligação ou apoio, criando a chamada terceira via.

Alguns dos envolvidos, como Mandetta, Huck, Moro e Amoêdo, têm mantido interlocução frequente, em grupos de WhatsApp e encontros virtuais. Eles avaliam a conjuntura e o cenário eleitoral, mais embolados desde a reabilitação de Lula, beneficiado pela decisão que lhe devolveu o direito de concorrer.

Para a confecção da carta, foi criado um grupo de mensagens que incluiu todos os pré-candidatos. A adesão, segundo pessoas que acompanharam as negociações, foi rápida, já que a bandeira da defesa da democracia é consensual. Para eventuais alianças partidárias, aí as dificuldades tendem a ser maiores.

Leia a íntegra do texto:

Manifesto pela Consciência Democrática

Muitos brasileiros foram às ruas e lutaram pela reconquista da Democracia na década de 1980. O movimento “Diretas Já”, uniu diferentes forças políticas no mesmo palanque, possibilitou a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, a volta das eleições diretas para o Executivo e o Legislativo e promulgação da Constituição Cidadã de 1988. Três décadas depois, a Democracia brasileira é ameaçada.

A conquista do Brasil sonhado por cada um de nós não pode prescindir da Democracia. Ela é nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós defendê-la e lutar por seus princípios e valores.

Não há Democracia sem Constituição. Não há liberdade sem justiça. Não há igualdade sem respeito. Não há prosperidade sem solidariedade.

A Democracia é o melhor dos sistemas políticos que a humanidade foi capaz de criar. Liberdade de expressão, respeito aos direitos individuais, justiça para todos, direito ao voto e ao protesto. Tudo isso só acontece em regimes democráticos. Fora da Democracia o que existe é o excesso, o abuso, a transgressão, o intimidamento, a ameaça e a submissão arbitrária do indivíduo ao Estado.

Exemplos não faltam para nos mostrar que o autoritarismo pode emergir das sombras, sempre que as sociedades se descuidam e silenciam na defesa dos valores democráticos.

Homens e mulheres desse país que apreciam a LIBERDADE, sejam civis ou militares, independentemente de filiação partidária, cor, religião, gênero e origem, devem estar unidos pela defesa da CONSCIÊNCIA DEMOCRÁTICA. Vamos defender o Brasil.

Ciro Gomes,
Eduardo Leite,
João Amoêdo,
João Doria,
Luiz Henrique Mandetta,
Luciano Huck.

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