Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Michelle Bolsonaro vê intolerância religiosa após comemorar vitória de Mendonça

Primeira-dama chama também de 'desamor' as reações à sua celebração por novo nome do STF

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Brasília

A primeira-dama Michelle Bolsonaro chamou nesta segunda-feira (6) de "intolerância religiosa" e "desamor" as reações em redes sociais à sua comemoração da aprovação de André Mendonça para o STF (Supremo Tribunal Federal), na semana passada.

Nas imagens que circularam na internet, Michelle diz "glória a Deus" e fala numa língua desconhecida. Pentecostal, ela estava manifestando "o Espírito Santo", na capacidade de falar outras línguas, segundo a crença.

Foto postada por Michelle Bolsonaro para comemorar a aprovação de André Mendonça para o STF - michellebolsonaro no Instagram

"Usarei 1 Coríntios 2:10-14 para responder à intolerância religiosa e o desamor de muitos a meu respeito, por celebrar a vitória do meu irmão em cristo André Mendonça", disse a primeira-dama em publicação nos stories do Instagram.

"Ora, o homem natural não compreende as coisas do espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente", diz o trecho do Coríntios transcrito por ela.

Na rede social, Michelle respondeu uma publicação que dizia que ela teria virado "chacota na web" com a sua comemoração.

Michelle acompanhou os votos dos senadores ao lado de Mendonça, definido pelo presidente Jair Bolsonaro como "terrivelmente evangélico". As imagens do momento em que ele foi aprovado no Senado circularam na internet.

A cena de falar em línguas estranhas não é incomum entre pentecostais. Essa denominação surgiu nos Estados Unidos no final do século 19 e faz referência à festa de Pentecostes, quando o Espírito Santo teria outorgado aos discípulos de Cristo poderes de cura e glossolalia (falar línguas).

O Novo Testamento diz: "E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem".

Líderes evangélicos saíram em defesa da primeira-dama. O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, disse ter havido "deboche" e "preconceito contra a fé".

"Não vejo essa gente debochar daqueles que professam sua fé em orixás e santos. Mas debocharam dos evangélicos", afirmou, em vídeo.

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, também prestou solidariedade nas redes sociais a Michelle. "Vimos muitos intolerantes e haters que deviam respeitar as pessoas e principalmente a Deus. A intolerância parte justamente daqueles que se dizem "tolerantes"… Triste."

Mendonça foi aprovado para a vaga no STF depois de quase cinco meses de espera. Sua posse será no próximo dia 16. No plenário, foram 47 votos a favor e 32 contra —a mais baixa quantidade de votos dentre todos os atuais integrantes da corte.

O ex-AGU (Advogado-Geral da União) encontrou resistência especialmente do presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Como a Folha mostrou, líderes religiosos intensificaram a pressão em Alcolumbre para destravar a sabatina do segundo indicado de Bolsonaro ao Supremo. Ameaçaram retirar apoio a ele na eleição de 2022 no Amapá.

Nas horas que antecederam o início da sabatina do Senado, Mendonça teve agenda intensa ao lado de evangélicos e mesmo um culto realizado em nome dele na Câmara dos Deputados.

Antes de seguir para a comissão, Mendonça tomou café da manhã com líderes do governo e ministros no Palácio da Alvorada, com a presença do presidente. O Planalto foi acusado de não se engajar muito pela sabatina do indicado "terrivelmente evangélico".

Enquanto isso, parlamentares faziam novo gesto ao indicado, com um culto realizado na Frente Parlamentar Evangélica na Câmara dos Deputados e show de Aline Barros, uma das maiores cantoras gospel do país.

Antes disso, na noite de terça (30), Bolsonaro promoveu um jantar no Palácio da Alvorada. O encontro foi organizado pela Frente Parlamentar Evangélica, que, segundo relatos, solicitou a Bolsonaro que participasse e oferecesse a residência presidencial.

Segundo relatos, deputados pediram a Bolsonaro que fizesse um gesto. O mandatário, por sua vez, chamou seus ministros, que compareceram em parte. Estiveram nove integrantes do governo. Mendonça cogitou não ir, mas ao final, compareceu.

No histórico do Censo do IBGE, em 1980 os católicos eram 89,9% da população brasileira, e os evangélicos, 6,6%. No mais recente levantamento, de 2010, a proporção estava em 64,6% a 22,2%.

O ex-AGU "terrivelmente evangélico" deu sinais de ponderação na sua sabatina no Senado, o que foi comemorado por integrantes do STF e do Congresso. Reservadamente, adotaram cautela a respeito da atuação que ele terá quando estiver na cadeira da principal corte do país.

A expectativa em torno da postura do ex-ministro da Justiça é maior nos mundos político e jurídico não apenas por ser um novo integrante do Supremo, mas pelo fato de ele poder representar o voto de desempate em matérias importantes em um tribunal rachado.

Em outra frente, no Palácio do Planalto, a expectativa é que Mendonça ajude a melhorar o diálogo do governo com o Supremo. O ex-AGU guarda bom trânsito com demais ministros do Supremo. Dias Toffoli e Alexandre de Moraes também apoiaram sua indicação nos bastidores.

Mendonça era tido como um dos nomes mais ponderados do primeiro escalão de Jair Bolsonaro (PL) quando era titular da AGU, mas à frente do Ministério da Justiça se envolveu em polêmicas, vistas como formas de agradar o presidente para ser o segundo indicado ao Supremo.

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