Lula conversa com presidente do México sobre guerra na Ucrânia

Petista se reuniu com o líder mexicano nesta quarta; em discurso, disse que conflito 'só traz desgraça'

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São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou com o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, sobre a guerra na Ucrânia e defendeu a necessidade de paz.

O petista tomou café da manhã com o líder mexicano nesta quarta-feira (2), em encontro que durou mais de três horas na sede do governo, na Cidade do México.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e o ex-presidente Lula na sede do Governo do México - AFP/Presidência do México

"Grande encontro nessa manhã com o presidente López Obrador. Conversamos sobre justiça social, combate à fome, irmandade da América Latina e a necessidade de paz no nosso mundo. Viva o México!", tuitou Lula após o encontro.

Na terça-feira (1º), López Obrador, que é de esquerda, anunciou que o México não aplicará sanções econômicas contra a Rússia pela invasão à Ucrânia.

Lula, por sua vez, vem lamentando a guerra e pregando uma negociação, mas também dirigiu suas críticas à ONU (Organização das Nações Unidas), que ele considera pouco representativa.

O presidente mexicano publicou em suas redes uma foto com Lula, descrevendo o encontro como fraterno. "Nos une a irmandade de nossos povos e a luta pela igualdade e pela justiça", escreveu.

Segundo a assessoria de imprensa de Lula, o petista e o presidente mexicano falaram sobre a guerra na Ucrânia e "ressaltaram a importância de um diálogo para a paz".

Eles ainda "destacaram a participação da América Latina na construção da paz e de um mundo multipolar e equilibrado".

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), o senador Humberto Costa (PE) e os ex-ministros Celso Amorim e Aloizio Mercadante acompanharam Lula no encontro, assim como sua noiva, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja.

À noite, Lula discursou em evento do partido do líder mexicano, o Morena (Movimento de Regeneração Nacional).

Voltou a criticar a guerra e afirmou que é preciso encontrar uma solução por meio das mesas de negociações.

"As pessoas estão apenas querendo viver dignamente. Vamos dizer: 'Governantes, baixem as armas, sentem na mesa de negociação e encontrem uma solução para o problema que levou vocês ao começo de uma guerra'", disse.

O petista disse ainda que "muitas guerras aconteceram sem necessidade". "E quem pagou o preço foi o povo pobre, o povo trabalhador, o povo que não queria guerra. A guerra só traz desgraça para a humanidade", continuou.

Líder nas pesquisas eleitorais, Lula também afirmou que poderá reverter privatizações de empresas nacionais caso eleito.

"Tenho avisado para as empresas nas entrevistas: 'Não comprem as empresas públicas brasileiras, porque se a gente ganhar as eleições, a gente vai querer rediscutir, porque não vamos abdicar do patrimônio que foi construído pelo povo brasileiro", disse.

Ao final, Lula reforçou a importância de ter governabilidade em um eventual governo.

"No Brasil, se a gente não eleger a maioria [no Congresso], a gente não faz as mudanças que vocês estão fazendo aqui. Não basta votar no presidente progressista, é preciso votar no deputado e no senador progressistas para que a gente possa fazer as mudanças", disse.

Lula
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, compartilhou registro da reunião entre o ex-presidente Lula e presidente do México, López Obrador - Reprodução Twitter

Segundo o ex-ministro Aloizio Mercadante, na viagem Lula defendeu junto a López Obrador o legado dos governos petistas, citando programas como o Bolsa Família.

"Já estávamos em cenário de grande estagnação econômica no Brasil e vamos enfrentar desafios muito grandes, que exigiriam uma gestão muito atenta a todos esses eventos. E o presidente [Bolsonaro] está de férias, passeando de lancha. É inacreditável."

Mercadante diz ainda que será firmado um convênio entre o PT, o Morena, a Fundação Perseu Abramo e o instituto de formação política do partido mexicano para "aprofundar as relações bilaterais" dos dois países.

O senador Humberto Costa também comentou sobre o encontro e afirmou que Lula não foi tratado como candidato à Presidência, "mas como grande estadista". "É mais uma demonstração cabal de que Lula não é apenas uma liderança do Brasil, e sim uma liderança reconhecida", escreveu o parlamentar.

​Lula chegou ao país na segunda-feira (28) e foi recebido pelo chanceler Marcelo Ebrard.

​A viagem marca a retomada da agenda internacional de Lula, que foi interrompida pelo aumento de casos de Covid gerado pela variante ômicron.

No ano passado, o ex-presidente esteve na Europa e foi recebido por líderes como o francês Emmanuel Macron, crítico do presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário na eleição presidencial deste ano.

Em dezembro, também foi à Argentina e se encontrou com o presidente Alberto Fernández, outro desafeto de Bolsonaro.

Ao jornal mexicano La Jornada na terça (1º), o ex-presidente pregou a união da América Latina pela paz. "A América Latina deve estar unida nesse esforço por um mundo que quer a paz e já não pode suportar a guerra", disse.

Em entrevista na semana passada, Lula havia dito que "ninguém pode concordar com a guerra".

O posicionamento em relação à guerra tem servido de munição para adversários dele na eleição presidencial. Uma nota do PT no Senado sobre o tema, por exemplo, com críticas aos Estados Unidos, tem sido citada pelo PSDB e pelo ex-juiz Sergio Moro, do Podemos.

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