Sou testemunha do valor extraordinário do professor Dalmo de Abreu Dallari, um dos maiores juristas brasileiros, exemplo notável de vida para seus 28 filhos e filhas, genros, noras, netos e netas, para todos nós brasileiros.
Nascido em Serra Negra em 31 de dezembro de 1931, foi professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, pela qual se formou e dela foi diretor. Foi professor catedrático da Unesco, na cadeira Educação para a Paz e Democracia e Tolerância.
Publicou dezenas de obras e artigos como "Elementos de Teoria Geral do Estado", "O que são Direitos da Pessoa", "O Que é Participação Política", "O Poder dos Juízes", "A Participação Popular e suas Conquistas", "Os Direitos da Mulher e da Cidadã por Olympe de Gouges".
Em 1986 ele foi convidado a ser parlamentar constituinte, mas avaliou que seria melhor ser Cidadão Constituinte, por não ser filiado a qualquer partido de maneira a manter a sua independência. E assim foi convidado a participar da Constituição Cidadã, assim denominada por Ulisses Guimarães, tendo o Professor Dalmo criado na Faculdade de Direito a Sala da Constituição aberta para que o povo pudesse propor emendas à Constituição.
Assim, ele ajudou a criar o Movimento pela Participação Popular na Constituição que acabou se tornando uma das Constituições consideradas mais democráticas no mundo. Ali no parágrafo primeiro: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição".
Em 22 de outubro de 2010, em palestra para a OAB, contou que quando Leônidas da Silva, após ser exímio jogador do Flamengo e do São Paulo se tornou comentarista da rádio Jovem Pan, ele era apresentado como o homem que conhece e esteve lá. Da mesma forma, o Professor Dalmo esteve na Constituinte, sempre pregando a Justiça e os direitos dos seres humanos, civis e políticos, econômicos, sociais e culturais.
No seu livro sobre Olympe de Gouges, o professor Dalmo conta história de como ela protestou severamente que na declaração dos direitos do homem não estava incluída a mulher, e por causa disso ela foi muito perseguida, condenada e guilhotinada.
Quando na ONU se escreveu a Declaração Universal dos Direitos Humanos, Eleonor Roosevelt, então viúva do presidente Roosevelt, que então representava os EUA, observou que seria melhor fossem considerados os direitos humanos, e não apenas dos homens.
O Professor Dalmo também ressaltou que a Constituição brasileira consagrou os direitos dos trabalhadores em participar dos lucros das empresas e de como é importante haver a regulamentação em lei a respeito.
Tendo muito estudado o direito dos povos indígenas, ele afirmou que ele havia sido considerado índio por três vezes.
Ele sempre ressaltou a importância do artigo 129 sobre a missão do Ministério Público em zelar pelos direitos constitucionais.
Costuma contar o caso de modesta mulher que num pequeno município não conseguia matricular sua criança na escola e então esclareceu a ela que poderia conversar com o promotor e dizer que a Constituição assegurava que o prefeito precisava garantir o direito a educação daquele menino, se não, poderia perder o seu mandato.
Pouco mais tarde, aquela senhora contou a ele que havia conseguido matricular seu filho.
Durante o regime militar, certo dia, o Professor Dalmo foi sequestrado na sua residência e ficou bastante machucado às vésperas da missa que o papa João Paulo 2º rezou no Campo de Marte. Eu vi ele subir as escadas com muita dificuldade e fazer uma das leituras na missa.
Certo dia, quando Lula e Djalma Bom com diversos líderes sindicais do ABC haviam sido detidos no Dops, o Professor Dalmo também foi detido porque prestava assistência jurídica ao Sindicato dos Metalúrgicos. Quando ele ali chegou, Djalma Bom exclamou "chegou o nosso advogado!", ao que o Professor Dalmo esclareceu: "eu também estou preso".
Nessas últimas décadas o Professor Dalmo acompanhou de perto e sempre apoiou a instituição da Renda Básica de Cidadania, Universal e Incondicional.
Com sua esposa Sueli, o Professor Dalmo esteve presente na cerimônia realizada pela Universidade de Louvain, em comemoração aos 500 anos da publicação "A Utopia", de Thomas More, na qual me foi outorgado o título de doutor honoris causa pela persistente e longa batalha em favor da Renda Básica Universal.
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