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Grupo governista troca farpas públicas no CE e ameaça palanque único para Lula e Ciro

MDB, PT e PP pressionam em favor da governadora; PDT ensaia indicar ex-prefeito

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Recife

A indefinição do candidato apoiado pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT) ao Governo do Ceará provocou uma crise na aliança do grupo governista no estado, com possibilidade de rompimentos e trocas de farpas. O palanque, ao menos até o momento, é o mesmo do ex-presidente Lula (PT).

Está previsto que um nome do PDT seja indicado para disputar o governo, enquanto o ex-governador Camilo Santana (PT) disputaria o Senado. A expectativa é que o PDT defina o candidato no dia 18.

O ex presidente Lula e o ex-ministro Ciro Gomes - Marlene Bergamo e Pedro Ladeira/Folhapress

Os mais cotados para disputar o governo pelo PDT são o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, visto como preferido de Ciro e do senador Cid Gomes (PDT), e a governadora Izolda Cela, que comanda o estado desde abril e tem o aval de Camilo Santana.

Roberto Cláudio também conta com o apoio interno do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e do prefeito da capital, Sarto.

Correm por fora o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, e o deputado federal Mauro Benevides Filho.

Para auxiliar na escolha do candidato, o PDT encomendou uma pesquisa de intenções de voto, que foi realizada entre o final de junho e início de julho.

O levantamento mostrou Roberto Cláudio empatado tecnicamente com o candidato de oposição Capitão Wagner (União Brasil). Já a pré-candidata Izolda Cela, também do PDT, estaria cerca de 20 pontos atrás de Wagner.

Desde então, aliados do ex-prefeito têm defendido que ele seja o postulante com mais veemência.

"O Ceará não pode correr nenhum risco de retrocesso", disse Roberto em entrevista à rádio Jovem Pan de Fortaleza. Outro fator pró-Roberto no PDT é que uma ala do partido considera Izolda de perfil petista, mesmo estando no partido de Ciro.

Um dia antes, diversos partidos da aliança —​PT, PP, MDB, PCdoB e PV— divulgaram um manifesto defendendo que a escolha para a sucessão estadual seja feita com protagonismo das legendas partidárias na definição. PSDB e Republicanos também externaram insatisfação com a forma de condução do PDT.

O MDB, comandado pelo ex-senador Eunício Oliveira, já declarou que apoiará Izolda se ela for candidata. O partido não apoiará Roberto Cláudio em hipótese alguma.

Eunício Oliveira argumenta a interlocutores que, em 2018, teria sido boicotado na última semana da campanha por aliados de Ciro Gomes na região metropolitana de Fortaleza e que isso foi decisivo para sua derrota para Eduardo Girão (Podemos) na acirrada disputa pela segunda vaga de senador na ocasião.

O PT também tem preferência por Izolda Cela. À frente das articulações pelo partido estão Camilo Santana e o deputado federal José Guimarães.

Um dos fatores que dificulta apoio do PT a Roberto Cláudio são as disputas que ele teve com os petistas pela Prefeitura de Fortaleza em 2012 e 2016 e na sua sucessão em 2020.

Nos bastidores do PDT, há suspeita de que a preferência de Camilo Santana por Izolda visa às eleições de 2026.

Se for candidata e reeleita, Izolda não disputaria o governo daqui a quatro anos, abrindo chance para Camilo, se eleito senador, deixar o Senado e disputar um terceiro mandato no Palácio da Abolição.

Por isso, também está em jogo a primeira suplência de Camilo para o Senado. O PP, que também prefere Izolda, é um dos cotados para indicar o suplente.

Com o veto do MDB e a resistência do PT a Roberto Cláudio, um lançamento do ex-prefeito de Fortaleza pode levar a uma redução da competitividade da postulação.

"Defendo que o PT não apoie nome que não se comprometa com o palanque de Lula também", afirma o deputado federal José Airton Cirilo (PT-CE).

Em reação, o PDT não descarta lançar um candidato ao Senado para o embate com Camilo Santana.

Caso não seja Izolda Cela a candidata, o MDB pretende negociar com o PT um palanque alternativo. Se houver o aval de Lula, Eunício Oliveira poderia ser o cabeça de chapa nessa coalizão alternativa com Camilo Santana para o Senado.

"Se o PT mantiver o mínimo de coerência do que até agora disse, que não aceitava Roberto Cláudio, e o PT quiser um candidato eu me disponho a ser", diz Eunício, que atualmente é pré-candidato a deputado federal.

O plano C do MDB é apoiar Capitão Wagner, que flerta com o bolsonarismo. A condição de Eunício Oliveira é que, independentemente de palanque, ele possa fazer campanha para Lula abertamente. Eunício e Wagner se encontraram na semana passada e trocaram telefonemas nos últimos dias.

Diante de aliados de Roberto Cláudio enaltecendo sua melhor posição nas pesquisas, a governadora Izolda Cela, na quinta (7), reagiu nas redes sociais.

Sem citar o levantamento, ela afirmou: "coloco meu nome para unir. Sigo defendendo o respeito e o diálogo porque não se faz nada sozinho. E fortalecendo em mim a honra e o compromisso de seguir na missão".

A publicação foi compartilhada por Camilo Santana. "Grande governadora Izolda Cela", escreveu o petista.

Nesta sexta (8), a reação veio de Ciro Gomes, que suscitou dúvidas sobre a fidelidade de Camilo Santana ao seu grupo político e atribuiu a Lula o impasse no Ceará.

"Lula é tão irresponsável que está lá se acertando com Eunício e já pegou o governador de lá [do Ceará] —já prometeu que vai ser ministro— que era nosso aliado, ou é nosso aliado. Ainda não sei direito como é que vai desdobrar isso lá. Está lá a confusão danada produzida pelo Lula", afirmou, em entrevista ao Avesso Podcast.

No mesmo dia, Camilo reagiu ao seu padrinho político, sem citar o nome de Ciro Gomes. Alegou que sempre buscou ser "justo e leal".

"Defender que seja dado à governadora Izolda Cela, do PDT, o direito a buscar a reeleição, por sua seriedade e competência, é questão de justiça. Não irei contra os meus princípios. Seguirei agindo como sempre fiz, com diálogo e respeito, acreditando no poder do bem e na força da verdade".

Anteriormente, na manhã desta sexta, a vereadora de Fortaleza Enfermeira Ana Paula (PDT) disse que os "egos de Camilo e Izolda" poderão entregar o governo cearense a Capitão Wagner.

"Acordem Camilo e Izolda. Isso aconteceu em 2018 e Bolsonaro foi eleito", escreveu a parlamentar.

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