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PF suspeita de fraude dentro da Codevasf para beneficiar empresa com sócio oculto

Investigadores citam reunião de presidente da empresa pública com sócio oculto e ligações entre supostas empresas de fachada

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Brasília e São Paulo

A Polícia Federal suspeita que tem origem na Codevasf um esquema de fraude em licitações com verba federal para beneficiar a Construservice, empreiteira que utiliza laranjas e tem como sócio oculto o empresário Eduardo José Barros Costa, também conhecido como "Eduardo DP" ou "Eduardo Imperador".

Os investigadores levantam a hipótese de que as licitações da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba são apenas meios de formalizar o direcionamento da verba à empresa.

Vista da pavimentação precária realizada pela empresa Construservice em Araguatins (TO) amolece em dias de forte calor
Pavimentação precária realizada pela empresa Construservice em Araguatins (TO) amolece em dias de forte calor - Adriano Vizoni -29.mar.22/Folhapress

Costa foi preso nesta quarta-feira (20) pela PF durante a operação Odoacro, que apura suposto desvio e lavagem de dinheiro a partir das disputas manipuladas na estatal.

Na investigação, os agentes destacam revelação da Folha, publicada em maio, de que o empresário foi recebido pelo presidente da empresa pública, Marcelo Moreira, mesmo sem constar no quadro societário da empreiteira.

A PF avalia que Costa tinha fácil acesso à cúpula da estatal. Também cita que empresas de fachada e ligadas à Costa disputaram algumas das obras entregues para a Construservice.

Como revelou a Folha, mesmo sem constar no quadro societário da empreiteira, Costa foi recebido pelo presidente da Codevasf na sede da companhia, em 16 de dezembro de 2020.

A Codevasf não confirma os participantes do encontro, mas integrantes da estatal dizem que o empresário preso pela PF representou a empreiteira naquela data.

Via Lei de Acesso à Informação, a empresa pública também negou dados sobre a reunião e afirmou que as catracas da estatal "estão obsoletas" e não guardam adequadamente os registros de entrada e saída.

A Polícia Federal abriu inquérito em 2021 para apurar supostas fraudes em licitações, entre outros crimes.

A investigação ganhou fôlego após a Folha revelar o encontro de Costa e Moreira, além de mostrar que a empresa, a segunda que mais recebe verbas da companhia sob Bolsonaro, entregou obras precárias.

Os agentes da Polícia Federal levantaram indícios de que o grupo de Costa atuava com seis empresas de fachada e seis laranjas. Também avaliam que algum servidor da Codevasf participa do suposto esquema.

Os investigadores apontam que há um padrão nas fraudes: sempre envolvem verbas da Codevasf.

A Polícia Federal detectou ligações entre as empresas de fachada, como nomes que constaram em mais de um quadro societário.

Na apuração, a PF também aponta que o sócio de uma das empresas tem ao menos 12 veículos, a maioria de luxo, cadastrados em endereço da mãe e de um irmão de Costa.

Os policiais citam aumento exponencial da difusão de relatórios de inteligência financeira envolvendo a Construservice a partir de 2020, quando a empresa passa a receber mais verbas públicas.

Todos os contratos da empreiteira com o governo federal foram firmados após 2019, ou seja, no governo Bolsonaro.

Desde 2019, o governo já reservou para a empreiteira ao menos R$ 160 milhões, tendo desembolsado R$ 14 milhões disso até agora.

A PF avalia que Costa já havia utilizado uma rede de empresas de fachada para ganhar licitações com verba estadual, no Maranhão. O mesmo esquema teria se replicado na Codevasf, mas com novas empreiteiras.

A PF se debruçou sobre dois convênios para pavimentações de R$ 5 milhões na cidade de São Francisco do Maranhão. Três empresas supostamente ligadas a Costa foram inabilitadas das disputas pelas obras.

Estas empreiteiras nem sequer apresentaram histórico de funcionários registrados, segundo as apurações.

Os investigadores ainda suspeitam que o esquema criminoso seja maior por causa do grande volume de recursos sem lastro movimentado pelas empresas.

Um dos indícios é de que mais de R$ 12,4 milhões teriam sido repassados pela Construservice a empresas que teriam relações com o empresário.

Turbinada por bilhões de reais em emendas parlamentares, a Codevasf é uma estatal federal entregue pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ao controle do centrão em troca de apoio político.

A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira 16 mandados de busca e um de prisão durante a operação. Agentes apreenderam cerca de R$ 1,3 milhão em dinheiro nas buscas, além de itens luxuosos, como relógios importados.

A defesa de Eduardo Costa afirma que a prisão dele é ilegal e desnecessária.

Segundo os advogados, "tudo o que há nos autos do inquérito policial em curso é fruto apenas do início da investigação e da visão unilateral da Polícia e do Ministério Público sobre os fatos" e que Costa "nunca sequer foi notificado para falar, apresentar documentos e/ou quaisquer outras manifestações defensivas".

"A partir de agora, [Costa] colabora com a investigação — que corre em segredo de justiça — esperando ter a oportunidade de prestar os devidos esclarecimentos, com os quais demonstrará sua inocência", completa a defesa. ​

Em nota, a Codevasf diz que os convênios que motivaram a ação da PF não são de responsabilidade da estatal.

"Em qualquer caso, no contexto da execução de convênios, compete às prefeituras municipais realizar os procedimentos licitatórios e as contratações necessárias ao emprego adequado de recursos orçamentários", afirma a empresa pública.

A estatal declarou que colabora com o trabalho da PF e submeterá à avaliação de sua auditoria interna todos os contratos firmados com a Construservice.

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