Daniela Mercury, Marina Silva, Chico Pinheiro; veja frases de participantes de ato pela democracia

Faculdade de Direito da USP foi tomada por estudantes, políticos e ativistas para leitura de manifestos

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São Paulo

O Largo de São Francisco, onde fica a Faculdade de Direito da USP, sediou nesta quinta (11) um dos atos mais emblemáticos sob o governo de Jair Bolsonaro (PL). Agregou no mesmo evento movimentos sindicais e representantes do empresariado para a apresentação de cartas contra ameaças à democracia.

Durante a leitura da "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito" e da apelidada "carta dos empresários", o pátio da universidade foi tomado por professores, estudantes, políticos e ativistas, que cantaram o hino nacional e discorreram sobre a reapropriação da bandeira do Brasil, usada como símbolo por apoiadores do atual presidente da República.

A Folha ouviu 12 participantes da manifestação, da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva à assistente social e integrante do Conselho do Povo Kaimbé Vanuza Kaimbé.

Letícia Chagas, 22, estudante de direito da USP
Letícia Chagas, 22, estudante de direito da USP - Adriano Vizoni/Folhapress

Foi um ato muito importante e representativo por mostrar o contraste de dentro e fora da universidade [onde estavam os movimentos sociais]. A democracia que queremos não necessariamente é a democracia que os grandes nomes do direito têm trazido nos últimos anos. É necessária essa união contra os atos golpistas do Bolsonaro, mas a democracia ainda nos exclui da participação política. Quem vai trazer a solução é a população preta e pobre, que há pouco tempo está entrando na universidade.

Letícia Chagas

Graduanda na USP e primeira presidente negra do Centro Acadêmico XI de Agosto

Marina Silva, 64, ex-ministra do Meio Ambiente - Adriano Vizoni/Folhapress

Hoje é o início de um estado constante de vigilância ativa em defesa da democracia. Aqui é só o começo, porque a vitória da democracia nunca será de um partido, de um grupo. A vitória da democracia é sempre do povo, de uma sociedade. Quando a sociedade tem uma percepção coletiva de que algo crucial está em ameaça, quem se levanta é o setor plural. Estamos há algum tempo dando sinais de que esse setor está atento, mas hoje a comissão de frente se apresenta para entrar na avenida da democracia.

Marina Silva

ex-ministra do Meio Ambiente

Chico Pinheiro, 69, jornalista e ex-apresentador do telejornal Bom Dia Brasil, da TV Globo
Chico Pinheiro, 69, jornalista e ex-apresentador do telejornal Bom Dia Brasil, da TV Globo - Adriano Vizoni/Folhapress

A democracia pulsa nas ruas porque é onde está o povo, a vida. Ela precisa ser muito mais ampla do que simplesmente o voto, ela tem que incluir o econômico e o social. Basta de um Brasil que exclui a maioria da sua população. A gente revive hoje o gesto da carta de Goffredo da Silva Telles Jr., mas também lembro os discursos do doutor Ulysses [Guimarães] na Constituinte: "Traidor da Constituição é traidor da pátria. Temos ódio da ditadura, temos ódio e nojo". É isso que dizemos a quem quer se aproveitar do pequeno poder que tem nas mãos.

Chico Pinheiro

jornalista

Silvio Almeida, 45, advogado, professor e colunista da Folha
Silvio Almeida, 45, advogado, professor e colunista da Folha - Adriano Vizoni/Folhapress

Este ato marca o momento em que vários setores se unem para dizer não ao avanço do autoritarismo, da violência política e da discriminação contra minorias e trabalhadores. É o momento de dizer não ao que foi materializado pelo atual governo, mas isso só altera valor se conseguir influenciar outras pessoas que compõem a sociedade brasileira e que, por motivos materiais, não estão aqui, estão trabalhando, no campo, passando fome. A democracia serve para defender essas pessoas.

Silvio Almeida

advogado e professor

Daniela Mercury, 57, cantora
Daniela Mercury, 57, cantora - Adriano Vizoni/Folhapress

Tenho a sensação de déjà vu, parece que estou vivendo no passado. Em 1977, eu tinha 12 anos de idade, mas já cantava 'Cálice', 'Proibido Proibir', já tinha consciência de que estávamos numa ditadura e de que aquilo não era o ideal. Esperava que a poucos dias da eleição já tivéssemos vencido os problemas desse governo. Não podemos parar de cantar e de manifestar nossos desejos mais profundos e belos para o Estado democrático de Direito.

Daniela Mercury

cantora

Vanuza Kaimbé, 52, assistente social e integrante do Conselho do Povo Kaimbé
Vanuza Kaimbé, 52, assistente social e integrante do Conselho do Povo Kaimbé - Adriano Vizoni/Folhapress

Sempre falaram em nome da gente, mas vimos que não podemos ficar só nas manifestações. Precisamos ocupar espaços como ocupamos hoje, com juristas. Esse país é nosso. Quando chegaram, já vivíamos muito bem aqui. Está na hora de termos autoridade para governar e mostrar como é viver com o bem comum para todos.

Vanuza Kaimbé

integrante do Conselho do Povo Kaimbé

Floriano Peixoto de Azevedo Marques, 54, advogado, professor e ex-diretor da Faculdade de Direito da USP
Floriano Peixoto de Azevedo Marques, 54, advogado, professor e ex-diretor da Faculdade de Direito da USP - Adriano Vizoni/Folhapress

O dia de hoje marca a mensagem forte de que nosso país não comporta mais retrocessos diante do que já conquistamos. A democracia é uma premissa inegociável. Ela tem que ser um dado de nossa existência enquanto país, não um desafio.

Floriano Peixoto de Azevedo Marques Neto

ex-diretor da Faculdade de Direito da USP

Scheila de Carvalho, 31, advogada e diretora política do Instituto de Referência Negra Peregum
Sheila de Carvalho, 31, advogada e diretora política do Instituto de Referência Negra Peregum - Adriano Vizoni/Folhapress

Se compararmos este dia com o de 1977, temos mais participação democrática de grupos antes apagados. É uma mobilização de várias frentes e podemos ver um grupo pactuar um compromisso de democracia real pelo Brasil, algo que nunca foi feito antes.

Sheila de Carvalho

advogada, diretora do Instituto de Referência Negra Peregum

Tabata Amaral, 28, deputada federal - Adriano Vizoni/Folhapress

Durante todo o tempo tive a sensação de viver um momento histórico, que quero contar para os meus netos. Emocionei-me em três momentos: ao cantar o hino nacional, porque é importante dizer que o hino e a camisa da seleção são nossos, ao ver três mulheres negras com o microfone na mão –impossível não fazer a comparação com 1977–, e ao pensar que é Dia do Estudante. A gente não tem democracia plena sem escola pública de qualidade.

Tabata Amaral

deputada federal pelo PSB-SP

Rosangela Lyra, 57, presidente do Instituto Política Viva
Rosangela Lyra, 57, presidente do Instituto Política Viva - Adriano Vizoni/Folhapress

Desejo que esses eventos passem a ser exclusivamente para arte e cultura, não para termos que defender nossa jovem, resistente e atacada democracia.

Rosangela Lyra, 57

presidente do Instituto Política Viva e ex-chefe da Dior no Brasil

Erika Hilton, 29, vereadora da cidade de São Paulo
Erika Hilton, 29, vereadora da cidade de São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

Temos que combater os ataques que nosso país tem sofrido nos últimos quatro anos, com militares no processo eleitoral e uma desconfiança brutal das urnas. Quando falamos de processos democráticos, não podemos mais aceitar que haja representações sociais fora disso. Não há democracia plena e total sem a presença de mulheres, da negritude, dos indígenas e da população LGBTQIA+.

Erika Hilton

vereadora de São Paulo pelo PSOL

 Jefferson Nascimento, 40, advogado e coordenador da Oxfam Brasil
Jefferson Nascimento, 40, advogado e coordenador da Oxfam Brasil - Adriano Vizoni/Folhapress

Sabemos que o ato poderia ser mais plural, aqui do lado de dentro, mas vejo um avanço em relação a isso, falo como aluno do começo dos anos 2000. É um ato ressonante para outras universidades do Brasil e espero que seja o começo de uma virada em prol de um país mais justo e democrático.

Jefferson Nascimento

advogado e coordenador da Oxfam Brasil

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