Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Exagerei com Bolsonaro, mas não por chamá-lo de 'tchutchuca do centrão', diz youtuber

Wilker Leão afirma que Exército já o puniu por vídeos e critica presidente por corrupção

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Brasília

Wilker Leão, 26, foi por diversas vezes durante três meses até a entrada do Palácio da Alvorada para tentar encontrar Jair Bolsonaro (PL), mas só o viu duas vezes: na primeira, quando diz que o presidente foi grosseiro ao ser abordado por ele; e nesta quinta-feira (18), quando Wilker foi agarrado pela camisa pelo chefe do Executivo, que tentou tirar o celular da mão do youtuber.

Wilker, que desde então vem ganhando seguidores nas redes sociais, disse à Folha que chamou Bolsonaro de "tchutchuca do centrão" por ver o presidente como alguém que se rendeu ao grupo político que hoje domina a agenda do Congresso Nacional.

"Eu comecei a ir lá [no Alvorada] faz três meses, sempre nessa dinâmica de conversar com bolsonaristas, porque ele [Bolsonaro] nunca estava por lá. Então hoje era a minha oportunidade. Quando eu o questionei, ele se inflamou e, claro, eu também. Dizer ‘vagabundo', ‘safado’, talvez eu tenha exagerado, mas ‘tchutchuca do centrão’, não", diz.

Cena da confusão entre Bolsonaro e o youtuber Wilker Leão
Cena da confusão entre Bolsonaro e o youtuber Wilker Leão - Emerson Soares/TV Globo/Reprodução

As cenas da confusão em frente ao Alvorada foram registradas pela TV Globo. Gravando com o celular em meio a apoiadores do presidente, o youtuber questionou Bolsonaro sobre a sanção ao projeto que delimitou a delação premiada —ele é então jogado no chão, e seguranças tentam afastá-lo.

Na sequência, Wilker chamou Bolsonaro de "tchutchuca do centrão" e o xingou de "safado", "covarde" e "vagabundo". Ao se aproximar novamente, o chefe do Executivo agarrou o youtuber pela camisa e pelo braço e tentou tirar o celular de sua mão.

Nesse momento, integrantes da segurança do presidente afastaram Wilker de Bolsonaro e de seus apoiadores. O chefe do Executivo pediu para que não filmassem o momento.

Depois da confusão, Wilker voltou para próximo de Bolsonaro e os dois conversam de forma mais tranquila. O presidente disse que ele poderia filmar. Então, o youtuber o questionou sobre delação premiada, armas e emendas de relator.

"Não posso ser um presidente 100%, vai desagradar um ou outro em alguma outra coisa, vai desagradar", respondeu Bolsonaro.

Bolsonaro se defendeu de sua aliança com o centrão, criticada pelo youtuber. Ele disse que, para governar, precisa do apoio do grupo político, que agrega cerca de 300 dos 513 deputados federais.

"Todo partido tem pessoas que devem alguma coisa, ou acha que o PT não tem?", questionou Bolsonaro.

Enquanto os dois conversaram, apoiadores se queixaram do youtuber. Pediam que parasse, para que pudessem fazer selfies, e o chamaram de "inconveniente". Logo depois, Bolsonaro encerrou a conversa e foi embora.

Wilker, que é cabo do Exército na reserva e hoje atua como advogado, afirmou à Folha que depois da confusão permaneceu no local por mais duas horas, conversando com apoiadores do presidente, mas que não foi procurado por ninguém do governo para um pedido de desculpas —mais tarde, ele postou a cena em seu canal no YouTube.

Seu canal nessa rede ganhou milhares de seguidores após o episódio com Bolsonaro. Às 19h30 desta quinta, se aproximava dos 30 mil inscritos.

Wilker criticou Bolsonaro por, segundo ele, ter repetido escândalos de corrupção do passado, citando entre outros casos o mensalão do PT.

Ele contou ainda que foi convidado pela União Brasil do Distrito Federal para ser pré-candidato a deputado distrital. Poucos dias antes da convenção partidária, quando soube do apoio do diretório local à reeleição de Bolsonaro, pediu desfiliação.

"Muita gente se ilude que ele representa princípios que não representa, como defender os militares. Ele está lá para defender o alto comando e os privilégios do alto comando. Alguns preferem comprar o lado do dele, então decidi expor a hipocrisia do governo com meus vídeos", afirmou o youtuber.

Ele começou a postar vídeos questionando bolsonaristas no cercadinho há pouco mais de um ano, ainda quando era um cabo da ativa do Exército. Ele estava no último dos seus oito anos de serviço.

Segundo ele, o ambiente militar não abre espaço para discussões e ele chegou a ser repreendido pela atividade.

"Me puniram, me trocaram de sessão, eu era da área jurídica e mandaram para o pelotão de obras, trabalhar montando eventos, sendo que eu já era formado em Direito. Respondi a processo disciplinar e passei por três dias de detenção", contou.

Agora, após deixar a União Brasil e se tornar notícia pelo episódio desta quarta, diz que pretende seguir com os vídeos.

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