Descrição de chapéu

Foco das campanhas na economia força Bolsonaro a lançar antídoto na TV

Em estreia na propaganda, Lula mantém fome na pauta, e presidente tenta zerar o jogo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O ex-presidente Lula (PT) abriu seu programa no horário eleitoral com a imagem de um prato de comida vazio. Ciro Gomes (PDT) criticou a recuperação econômica do país e disse que, atualmente, "a vida só melhora para os ricos". Até a ex-bolsonarista Soraya Thronicke (União Brasil) chamou atenção para os brasileiros que não têm o que comer.

O primeiro bloco da propaganda dos presidenciáveis na TV confirmou a posição da economia e das condições de vida dos brasileiros no primeiro plano do debate eleitoral. Pior para Jair Bolsonaro (PL), que, na véspera, tentava espalhar a ideia de que não existe "fome pra valer" no Brasil.

O presidente sabe que essa imagem estará no centro das críticas a seu governo durante a campanha. Um dos caminhos é apostar na confusão, como nas declarações que ele repetiu na sexta-feira (27). Mas o comitê da reeleição também tenta trabalhar um antídoto contra esses ataques.

Bolsonaro gastou parte de seu espaço na TV na tarde deste sábado (27) com uma mensagem que vem testando há alguns meses em entrevistas e atos oficiais. Sem conseguir esconder as dificuldades do país na economia, o presidente tenta atribu ir esses problemas ao tripé pandemia-seca-guerra.

A campanha do presidente trabalha para que, na hora de julgar o desempenho do governo, o eleitor dê mais peso a fatores externos do que às escolhas feitas por Bolsonaro.

Seguindo essa lógica, o presidente só aparece como um ator político na propaganda ao falar de 2022, com o início da recuperação econômica. Citou a queda do preço dos combustíveis, o crescimento do emprego e o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 –que ele promete manter a partir do ano que vem.

O objetivo da campanha é transmitir uma sensação de bem-estar econômico ao eleitor que já está com Bolsonaro, mas também zerar o jogo no restante do eleitorado. Assim, a equipe do presidente espera diminuir sua rejeição e abrir espaço para outros temas, incluindo itens da pauta conservadora.

É uma escolha que carrega alguns riscos. Ao dedicar tempo e energia para reduzir o peso negativo que a economia tem sobre sua popularidade, Bolsonaro mantém os holofotes sobre o assunto.

Lula foi o adversário que mais explorou a proeminência desse tema no primeiro dia do horário eleitoral. O petista aproveitou a identificação que uma boa fatia do eleitorado tem com políticas de inclusão social de seu governo para se consolidar como uma espécie de solução única para o problema.

O ex-presidente falou em retrocessos (com a sugestão de que o declínio começou depois das gestões do PT), disse que "milhões não têm o que comer" no país e lançou uma garantia de que "a vida do povo vai melhorar".

A retórica tradicional do petista foi usada num esforço para cristalizar o apoio de eleitores de baixa renda, agora com a ajuda da TV. Mas esse não foi o único foco do primeiro programa.

Lula apresentou também seus próprios antídotos. Sua primeira aparição começou com um pedido a Deus para que "ilumine nossa nação" –uma maneira pouco sutil de tentar frear a oposição do eleitorado evangélico, hoje mais próximo de Bolsonaro.

Além disso, deu espaço para Geraldo Alckmin (PSB), único candidato a vice a aparecer com destaque no primeiro bloco de propaganda. O ex-tucano foi escalado para criar uma identificação com eleitores fora da esquerda, destacando ter feito uma aliança com o petista "mesmo que a gente não pense igual em tudo".

A estreia do horário eleitoral na TV também expôs o tom que deve ser adotado pelos candidatos que insistem no rótulo da "terceira via". Apesar da busca por um figurino simultaneamente crítico a Lula e Bolsonaro, prevaleceu em quase todos os programas um discurso de mudança.

Seguindo a trilha da economia, Ciro disse que o Brasil não cresce porque "tem coisa errada para todo lado". Num curto programa, ele retomou a retórica contra o establishment, reclamou de "oportunistas e corruptos" e, por fim, disse que pretende mudar "esse sistema".

Já a nanica Soraya Thronicke procurou um caminho do meio ao dizer que "não dá mais para conviver entre o medo e o ódio", em algo que sua campanha elaborou como referências a Lula e Bolsonaro.

O programa, no entanto, carregava uma mensagem de correção de rota ("Você está feliz com o Brasil?") –o que, naturalmente, é mais desfavorável para Bolsonaro.

Apesar de ter se afastado do bolsonarismo, o discurso de Thronicke se comunica com parte desse eleitorado, em especial aqueles que eram alinhados ao ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) e outros que se decepcionaram com o presidente ao longo do governo. Não será surpresa se ela beliscar um punhado de votos de Bolsonaro.

A aparição mais neutra coube a Simone Tebet (MDB). A senadora tentou reduzir seus índices de desconhecimento e fez uma estreia biográfica na TV. Falou de sua vida política e até do fato de não saber passar roupa. Qualquer coisa parecida com uma plataforma eleitoral ficou para depois.

O primeiro dia de propaganda na TV costuma ser um teste para os principais candidatos. A audiência desses programas aos sábados é mais baixa e, além disso, os eleitores ainda demoram para virar a chave e perceber que a campanha começou.

Os recados devem surgir com mais intensidade na reta final da campanha e, principalmente, nos spots –as inserções de 30 segundos que aparecem ao longo da grade das emissoras, muitas vezes no intervalo de programas de grande audiência.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.