Descrição de chapéu Eleições 2022 Datafolha

Haddad e Tarcísio minimizam estagnação, e Rodrigo mantém plano para mudar campanha

Datafolha mostra avanço do governador, que seria mais competitivo contra o petista

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São Paulo

O crescimento do governador Rodrigo Garcia (PSDB) na pesquisa Datafolha desta quinta-feira (15) foi comemorado pelos tucanos no momento em que a equipe promove mudanças no time e adota um tom mais ofensivo diante dos seus principais concorrentes, Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A pesquisa mostra que Rodrigo diminuiu a sua distância de Tarcísio —agora ambos estão empatados tecnicamente, com 19% (antes eram 15%) e 22% (antes eram 21%), respectivamente. Haddad segue na liderança, com 36% ante 35% na pesquisa anterior, de 1º de setembro. A margem de erro é de dois pontos.

Ouvidos pela Folha, aliados de Haddad e Tarcísio minimizaram a estagnação e os pontos de preocupação que a pesquisa aponta. O entorno do petista diz que não se deve escolher adversário no segundo turno, enquanto a campanha do bolsonarista acredita ter vantagem sobre Rodrigo.

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Rodrigo Garcia (PSDB) na tela de debate, que teve também Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) - Marlene Bergamo/Folhapress

De acordo com estrategistas de Rodrigo, dois fatores ajudam a explicar o avanço. Primeiro, o resultado das propagandas na TV, em que o tucano tem o dobro do tempo dos rivais, que o tornaram mais conhecido e menos rejeitado.

Em segundo lugar, o empenho da classe política na reta final de campanha. Com a máquina do estado na mão e a tradição do PSDB no estado, Rodrigo tem a grande maioria dos prefeitos ao seu lado.

Os números do Datafolha ainda desenharam para os tucanos qual deve ser seu próximo movimento na campanha, o de pregar um voto útil em Rodrigo contra o PT. Segundo o entorno do governador, o voto útil vai ocorrer de forma automática, pois o levantamento evidencia que Rodrigo tem mais chances contra Haddad do que Tarcísio.

No segundo turno contra o tucano, Haddad marca 47% a 41%. Já contra Tarcísio, a vantagem do petista é maior, 54% a 36%.

Rodrigo, que vinha de dois resultados desfavoráveis no Datafolha e aumentou a pressão sobre sua equipe de marketing, tem novas mudanças programadas na campanha —que, segundo os tucanos, ainda trarão resultado em novas pesquisas. Em levantamentos internos, eles afirmam que Rodrigo já ultrapassa Tarcísio.

Temas como a vacina contra o coronavírus, algo ignorado por Rodrigo na tentativa de se descolar do ex-governador João Doria (PSDB), o combate ao feminicídio no estado e programas voltados às mulheres, assim como associação de Tarcísio a misoginia, deverão ser mencionados com frequência a partir de agora.

Por outro lado, lemas como "paulista raiz" e o "nem direita, nem esquerda, pra frente" vão, aos poucos, sendo utilizados com menos frequência. Até mesmo a postura do tucano nos debates está sendo reavaliada. A tendência é que o governador, que tem sido o alvo dos concorrentes, reaja de maneira mais incisiva.

Para implementar essa troca de rumo, o marqueteiro da campanha Chico Mendez, que vem sendo cobrado, terá reforços. O cientista político e ex-deputado estadual Bruno Caetano, que atuou nas gestões de José Serra e Geraldo Alckmin, deverá se licenciar do cargo de diretor-executivo do Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) para se concentrar na disputa eleitoral.

A postura mais ofensiva da campanha tucana já pôde ser observada no vídeo em que associa Tarcísio, de forma pejorativa, a Gilberto Kassab (PSD), Eduardo Cunha (PTB) e Frederico D´Ávila (PL), que aparece xingando o papa Francisco.

O tucano tem explorado ainda o episódio em que o deputado estadual Douglas Garcia, do mesmo partido de Tarcísio, hostilizou a jornalista Vera Magalhães. No dia seguinte à confusão, a campanha do governador veiculou uma peça enaltecendo que o estado tem a menor taxa de feminicídio no país e os programas voltados às mulheres, como a dignidade íntima.

A mira de Rodrigo em Tarcísio se explica pela disputa paralela entre eles pela segunda vaga do segundo turno. Membros da campanha do governador afirmam que Tarcísio chegou a um teto, pois ao mesmo tempo em que Jair Bolsonaro (PL) o impulsiona, também lhe impõe um limite com alta rejeição.

Rodrigo e Tarcísio são conhecidos por 56% da população, mas o primeiro tem rejeição de 17% ante 27% do segundo.

Estrategistas de Tarcísio ainda veem mais vantagem, na reta final da eleição, em apresentar o ex-ministro patrocinado pelo presidente do que em direcionar a publicidade para atacar os adversários. O foco segue no trabalho de associá-lo a Bolsonaro.

Outro mote é apresentar o ex-ministro como uma novidade para resolver São Paulo. Para membros da chapa, a ideia de Rodrigo de se apresentar como um "novo governador" não pega, já que ele ocupa cargos no governo há mais de 20 anos.

Os aliados de Tarcísio minimizam a subida de Rodrigo, já que ela se deu no limite da margem de erro, e dizem que outras pesquisas mostram o bolsonarista mais descolado do tucano. Em nota, a campanha comemora que o ex-ministro tem o voto mais convicto entre os rivais.

Entre os eleitores de Tarcísio, 70% se dizem decididos e 30% ainda podem mudar. Os índices são de 67% e 33% para Haddad e de 57% a 43% para Rodrigo.

Aliados de Tarcísio também veem pontos fracos no principal adversário. Eles acreditam que a estratégia de Rodrigo de se posicionar como nem de direita nem de esquerda é "morna" e não tem funcionado.

Um dos interlocutores do ex-ministro avalia que a situação de Rodrigo é delicada, já que essa imagem de "lobo em pele de cordeiro" pode pegar mal e que ele tem "telhado de vidro", citando o caso do irmão Marco Aurélio Garcia, que foi condenado por lavagem de dinheiro na chamada máfia do ISS, esquema que desviou mais de R$ 500 milhões dos cofres da Prefeitura de São Paulo.

A pesquisa, que mostra Haddad como o mais rejeitado (35%), traz dados que acendem o alerta de petistas, já que a maior parte dos aliados do ex-prefeito preferia enfrentar Tarcísio a Rodrigo no segundo turno. Isso porque a rejeição a Bolsonaro daria chances de vitória ao petista.

O discurso de integrantes da campanha, no entanto, é o de que não se escolhe adversário.

Conforme a Folha mostrou, Haddad tem feito ataques mais duros a Rodrigo do que a Tarcísio, com quem conversou amistosamente no último debate entre candidatos ao governo, na terça-feira (13). Na ocasião, Rodrigo foi escolhido como alvo principal por ambos.

A estratégia chegou a desagradar coordenadores da campanha do ex-presidente Lula (PT), que preferiam que Haddad mirasse em Tarcísio e não destruísse pontes com Rodrigo —na tentativa de já trazê-lo como aliado num segundo turno. A pesquisa, no entanto, mostrou que o tucano não está descartado.

Para o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto (PT), a pesquisa teve bom resultado por mostrar Haddad consolidado à frente.

"Quem quer ganhar não pode escolher adversário. A pesquisa mostrou que Rodrigo está no jogo. Estava saindo do jogo, voltou. Acho que o levantamento preocupa mais o Tarcísio, porque o Haddad está se consolidando como primeiro colocado e está se mantendo", disse.

Para o coordenador do programa de governo do prefeito, o deputado estadual Emídio de Souza (PT), o resultado é positivo.

"O Haddad vem se mantendo há muitos meses nesse patamar. E não tem caído. Ele está liderando. O segundo e terceiro lugar estão crescendo, mas não estão tirando voto do Haddad até aqui", disse.

Questionado sobre o melhor posicionamento de Rodrigo no segundo turno, ele afirmou que as pesquisas refletem o momento atual e que a campanha está preparada para enfrentar qualquer um dos dois.

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