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Janja expande protagonismo, e campanha fala em 'Evita brasileira'

Protagonismo da socióloga traz elogios, mas também provoca incômodos entre aliados do ex-presidente

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São Paulo

Casada há quase cinco meses com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 76, a socióloga Rosângela Silva, a Janja, 56, expandiu seu poder ao longo da campanha do petista.

Hoje, é ela quem escala participantes de reuniões ou até mesmo ocupantes de voos com o marido. Janja também protagonizou agendas sem a presença de Lula, como um ato organizado a seu pedido na favela de Heliópolis, em São Paulo, em agosto.

Essa atuação rendeu-lhe, entre petistas, o apelido de Evita brasileira, em referência à carismática primeira-dama da Argentina morta aos 33, três anos antes de o marido, Juan Domingo Péron, ter sido deposto por um golpe militar.

A socióloga Rosângela da Silva, a Janja, esposa do ex-presidente Lula (PT), durante comício em São Paulo
A socióloga Rosângela da Silva, a Janja, esposa do ex-presidente Lula (PT), durante comício em São Paulo - Danilo Verpa-24.set.22/Folhapress

A socióloga também delega funções a colaboradores e encerra reuniões políticas, zelando pela saúde do marido. Foi ela também uma das idealizadoras da "superlive" da campanha ocorrida na segunda-feira (26), tendo convidado, pessoalmente, artistas e influenciadores.

Desde o casamento, Janja vem ganhando cada vez mais notoriedade dentro e fora do comitê eleitoral do petista. Pessoas de seu entorno a descrevem como uma mulher com brilho próprio, de conteúdo, com personalidade forte e amorosa.

O protagonismo da socióloga, como a Folha mostrou, traz elogios, mas também provoca incômodos entre aliados do presidenciável.

Nascida em União da Vitória, no Paraná, Janja é filiada ao PT desde 1983 e formada em sociologia pela Universidade Federal do Paraná.

Na gestão do petista, foi indicada em 2003 para um cargo na Itaipu Binacional, onde trabalhou por quase 15 anos. De 2012 a 2017, atuou na Eletrobras, no Rio, após ter sido requisitada. E se aposentou em 2020.

Figurinha carimbada da Vigília Lula Livre, montada em frente à sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba enquanto Lula esteve preso, Janja visitou o ex-presidente com frequência.

Ela escrevia cartas diariamente a Lula (que estão guardadas) e, às vezes, preparava refeições que eram levadas ao petista. Janja chegou a ler uma dessas cartas no lançamento de um livro que reuniu alguns dos textos, em maio.

Desde que o ex-presidente deixou a cadeia, o casal vive junto. No começo do ano, mudaram-se para a capital paulista, onde moram com suas duas cachorras de estimação, Paris e Resistência.

Janja se casou com Lula no dia 18 de maio deste ano em cerimônia com cerca de 150 convidados, entre eles familiares, políticos e artistas.

A bênção foi dada por dom Angélico Sândalo Bernardino, e a noiva usou um vestido da estilista Helô Rocha. Segundo relatos, Lula e Janja choraram em diversos momentos da cerimônia.

Após a cerimônia religiosa, o casal foi à pista de dança e falou poucas palavras, agradecendo aos convidados pela presença —o tom não foi político.

Lula lembrou que eles trocaram cartas diariamente por 580 dias enquanto ele esteve preso e disse que Janja o rejuvenesce. Ela disse que aquele era o dia mais feliz da vida dela.

O ex-presidente tem frequentemente citado seu casamento com a socióloga em seus discursos —trechos da cerimônia também foram exibidos em peças da campanha.

Em encontro com representantes de movimentos e associações de idosos e aposentados no último dia 22, por exemplo, citou a data da cerimônia para mostrar que ele não sente o peso da idade.

"Eu sinceramente não estou vendo a idade passar, ela ainda não pesou no meu corpo. Para provar isso, eu casei dia 18 de maio outra vez. Ó o menino que está aqui", disse.

Em visita à fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo no primeiro dia oficial da campanha eleitoral, Lula chegou a citar Janja e disse, em tom de brincadeira, que ela foi a primeira pessoa a quem ele pediu voto.

"Só hoje à meia-noite que eu pude acordar e falar para a Janjinha: 'Janjinha, vota em mim'. Até ontem eu não podia. Tive que acordar e pedir o meu primeiro voto só hoje."

A participação ativa de Janja, por outro lado, tem causado ciúmes e incômodo em petistas que acreditam que ela comete "excessos".

Da cor do material de campanha à comida a ser servida na cozinha da Fundação Perseu Abramo, a socióloga é ouvida sobre cada detalhe da rotina do ex-presidente.

Ela sempre mantém por perto uma garrafa de água para oferecer ao marido durante os atos políticos. Na pré-campanha, chegou a repreender agentes responsáveis pela segurança de Lula. Também já reclamou a assessores do excesso de sessões de fotos a que ele se submete.

Janja tem dito a pessoas próximas que quer "ressignificar" o papel de primeira-dama. Ela tem defendido pautas como combate à fome, soberania alimentar e defesa dos direitos das mulheres.

A socióloga busca participar de todas as reuniões da cúpula da candidatura petista e de encontros reservados de Lula com interlocutores chave. Esteve inclusive naquelas que antecederam a escolha do publicitário da campanha e opina sempre que julga necessário.

Janja também defende a cultura e tem grande articulação com o mundo artístico.

Foi iniciativa de Janja reeditar o jingle da campanha presidencial de 1989 "Lula lá", que foi mostrado com um videoclipe no ato de lançamento da candidatura de Lula em maio.

A socióloga foi uma das três pessoas a falar na cerimônia. Além dela, discursaram o próprio Lula e o seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).

Desde então, a socióloga canta o jingle na maioria dos atos públicos de Lula —sempre antes de o ex-presidente discursar.

Segundo petistas, Janja fala o que pensa, mas não impõe a própria visão. As intervenções geram críticas de uma ala da campanha, que reclama de ela ser "invasiva".

Em agosto, a socióloga foi às redes em defesa do marido após a primeira-dama Michelle Bolsonaro divulgar vídeo no qual Lula assistia a uma cerimônia de umbanda. "Isso pode né! Eu falar de Deus não", publicou a esposa de Jair Bolsonaro (PL).

E Janja respondeu: "Eu aprendi que Deus é sinônimo de amor, compaixão e, sobretudo, de paz e de respeito. Não importa qual a religião e qual o credo. A minha vida e a do meu marido sempre foram e sempre serão pautadas por esses princípios".

A espontaneidade da reação alimentou, entre integrantes do comitê eleitoral, o receio de que a superexposição de Janja pudesse ser usada por Bolsonaro ao longo da disputa.

Segundo aliados, a mulher de Lula abordou religião, um tema sensível, sem que a cúpula da campanha fosse avisada da publicação.

A socióloga também fez-se ouvir no almoço em que foi discutida a retirada da candidatura de Márcio França (PSB) em apoio a Fernando Haddad (PT) como candidato ao Governo de São Paulo. Janja se apresentou à mulher de França, Lúcia, como fiadora do acordo.

Em agosto, a socióloga tornou públicos seus perfis nas redes sociais, nos quais exibe cenas da vida do casal. Naquele momento, no Instagram, ela reunia cerca de 70 mil seguidores —atualmente, esse número é de mais de 226 mil.

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