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Lupa: Bolsonaro repete informações falsas sobre corrupção e preço da gasolina no 7 de Setembro

Em clima de palanque eleitoral, presidente ainda distorceu fatos sobre ferrovias e invasões de terra

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Agência Lupa

Neste feriado de 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou as comemorações do bicentenário da Independência como palanque eleitoral. Ele discursou em duas ocasiões: pela manhã, logo após o desfile militar na Esplanada dos Ministérios em Brasília, e durante a tarde, em um evento em Copacabana, no Rio de Janeiro.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) durante evento de 7 de Setembro em Brasília - Gabriela Biló/Folhapress

A Lupa checou algumas das frases ditas pelo presidente durante os eventos. A assessoria do candidato foi contatada, e essa reportagem será atualizada caso haja resposta. Confira:

(...) [No momento, o Brasil está] com uma gasolina das mais baratas do mundo (...)

Jair Bolsonaro (PL)

presidente da República

FALSO

O Brasil não tem uma das gasolinas mais baratas do mundo. A plataforma Global Petrol Prices, que analisa o preço de combustíveis em diversos países, indica que os três países com a gasolina mais barata são Venezuela (US$ 0,02 por litro), Líbia (US$ 0,03) e Irã (US$ 0,05). O Brasil aparece na 36ª posição, com o preço médio do combustível avaliado em US$ 1,02. Os dados são referentes ao dia 5 de setembro.


O nosso governo ressuscitou o modal ferroviário no Brasil

Jair Bolsonaro (PL)

presidente da República

FALSO

Segundo dados da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), a movimentação ferroviária (toneladas úteis transportadas - TU) e a produtividade (tonelada por quilômetro útil - TKU), principais métricas de produção do setor ferroviário de carga brasileiro, tiveram crescimento ininterrupto de 2013 a 2018.

Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, e em 2020, o setor apresentou baixa nos dois indicadores. Houve recuperação em 2021, mas ainda abaixo dos patamares de 2017 e 2018.

Em 2018, foram registrados 569,4 milhões de TU e 407,1 bilhões em TKU. Esses valores caíram para 494,5 milhões de TU e 366,4 bilhões em TKU em 2019. Em 2020, a redução foi para 489 milhões de TU e 365 bilhões em TKU em 2020. Já em 2021, os indicadores subiram para 506,8 milhões de TU e 371,4 bilhões de TKU.


[Estamos há] 3 anos e meio sem corrupção

Jair Bolsonaro (PL)

presidente da República

FALSO

O governo de Jair Bolsonaro (PL) é alvo de diversas acusações de corrupção. Neste ano, por exemplo, veio à tona que dois pastores evangélicos controlavam a agenda e a liberação de verbas do MEC durante a gestão de Milton Ribeiro. Reportagens mostraram que os dois pediam propina para os municípios terem acesso a verbas da pasta. O ex-ministro chegou a ser preso por causa desse caso. Um dos pastores visitou o Palácio do Planalto em pelo menos 35 oportunidades —e Bolsonaro decretou sigilo sobre essas visitas.

No ano passado, o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias foi acusado de pedir propina para autorizar a compra de vacinas pelo governo. Conforme a denúncia, divulgada pela Folha em junho de 2021, Dias teria condicionado a aquisição de imunizantes da AstraZeneca ao recebimento ilícito de US$ 1 por dose.

Já o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles é investigado por facilitar venda exportação ilegal de madeira. O ex-ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio foi denunciado em outubro de 2019 pelo esquema de candidaturas-laranjas do PSL, no ano anterior.

Há, ainda, o chamado "orçamento secreto" —emendas parlamentares cuja destinação não é divulgada publicamente, que chegaram a R$ 16,5 bilhões somente em 2022. Também existem diversas suspeitas de corrupção envolvendo emendas do orçamento secreto, incluindo a compra irregular de kits de robótica superfaturados em escolas de Alagoas e Pernambuco e fraudes no SUS.


Nosso governo botou fim nas invasões do MST

Jair Bolsonaro (PL)

presidente da República

FALSO

De acordo com o Incra, o número de invasões de terra caiu significativamente entre os governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Durante o governo Bolsonaro, a tendência de queda se manteve. Portanto, não é correto dizer que o governo Bolsonaro "botou fim" às invasões de terra no país.

Durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula (2003-2010), a média anual de invasões de terra era, respectivamente, de 305 e 246. No final do governo Dilma, esse número começou a cair significativamente. Foram 182 invasões em 2015, 57 em 2016 —ano no qual ela sofreu impeachment e foi substituída por Temer—, 40 em 2017 e 14 em 2018.

Em 2019, primeiro ano de Bolsonaro, a tendência de queda continuou: foram apenas oito invasões em 2019. Nos anos seguintes, o número voltou a crescer, mas ainda distante do patamar pré-2015: nove em 2020, 12 em 2021 e 17 até maio de 2022.


Defenderei até o último momento o direito de imprensa livre para que possa levar informações para vocês

Jair Bolsonaro (PL)

presidente da República

CONTRADITÓRIO

Apesar de dizer que defende a "imprensa livre", ao longo de seu mandato, Bolsonaro já ameaçou dificultar a renovação da concessão de transmissão da TV Globo e sugeriu o fechamento da Folha e de outros veículos. Além disso, com bastante frequência, ele ataca jornalistas e órgãos de imprensa. Um dos casos mais recentes foi o ataque feito à jornalista Vera Magalhães, durante o debate eleitoral do dia 28 de agosto.

A TV Globo é um dos principais focos de ameaça do presidente. Em diversos momentos, ele sugeriu que poderia criar barreiras para a renovação da concessão de transmissão da emissora, que vence no próximo mês de outubro. "A Globo tem encontro comigo ano que vem. Encontro com a verdade", disse em novembro de 2021. Bolsonaro costuma argumentar que é perseguido pelo jornalismo do canal. "Com todo respeito, eu sou um herói nacional. Sempre disseram que ninguém resiste a dois meses de Globo. Eu estou resistindo", declarou em fevereiro.

Em suas publicações ou declarações públicas críticas à imprensa, Bolsonaro já sugeriu em diversos momentos o fechamento de veículos. Em junho, por exemplo, durante um evento no Palácio do Planalto, o mandatário citou dois deles em específico. "Se for para punir por fake news a derrubada de páginas, fechem a imprensa brasileira, que é uma fábrica de fake news. Em especial, [TV] Globo, Folha", disse.

Com frequência, Bolsonaro ataca jornalistas e veículos de imprensa. Ao longo de 2021, o mandatário atacou a imprensa em 42 das 49 transmissões realizadas em suas redes sociais —86% do total, apontou um levantamento da Lupa. Em sua conta no Twitter, o presidente fez 34 publicações e republicações com uma postura antagônica em relação à imprensa entre janeiro de 2021 e maio de 2022, segundo estudo da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Bruno Nomura , Gabriela Soares , Iara Diniz , João Heim e Nathália Afonso
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