Descrição de chapéu Eleições 2022

Campanha de Bolsonaro quer menos motociatas e mais idas a periferias no 2º turno

Avaliação é de que ex-presidente Lula ainda lidera com folga entre os mais pobres

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Brasília

No dia seguinte ao primeiro turno, a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) já fala em ampliar a presença do mandatário em agendas de periferia como forma de melhorar o desempenho eleitoral entre os eleitores de baixa renda.

A avaliação é a de que o adversário, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda lidera com folga nas camadas mais pobres e que será preciso dialogar mais com este segmento para vencer o segundo turno.

Para isso, uma tese defendida pela campanha é mudar o perfil das agendas e viagens de Bolsonaro para conquistar eleitores indecisos e que não compõem a base bolsonarista.

A estratégia passa por reduzir o número de motociatas, cultos evangélicos e comícios voltados a eleitores que já defendem o presidente.

No lugar disso, o entorno do mandatário afirma que ele precisa ocupar mais espaço em mídias regionais e fazer agendas que deem visibilidade para realizações do governo.

Presidente Jair Bolsonaro e Tarcísio, candidato ao governo do estado de São Paulo, participaram de motociata na capital paulista - Adriano Vizoni/Folhapress

Aliados também apostam que os programas eleitorais serão ainda mais relevantes nesta etapa e acreditam que o presidente precisará gravar mais fora do estúdio, como foi na primeira etapa da eleição. No segundo turno, os dois candidatos à Presidência têm o mesmo tempo de rádio e TV.

Os detalhes de como isso será feito ainda não foram definidos. Integrantes da campanha se reuniram ainda nesta segunda-feira (3) em Brasília. Todas as ideias precisam ainda passar pelo crivo do chefe do Executivo.

A expectativa é a de que Bolsonaro comece a priorizar a parcela do eleitorado em que tem menor aceitação, uma vez que integrantes do comitê veem como indispensável melhorar o desempenho eleitoral entre os eleitores de baixa renda para vencer o pleito.

Para isso, é necessário falar diretamente para o público que ganha até dois salários mínimos. Uma das ideias é que Bolsonaro compareça, por exemplo, a casas de beneficiários do Auxílio Brasil ou ande de transporte público.

Como forma de tentar aproximar Bolsonaro desse eleitorado, o governo lançou duas propostas para beneficiários do programa sucessor do Bolsa Família.

A Caixa Econômica Federal anunciou nesta segunda-feira a antecipação, do dia 18 para dia 11, o pagamento do Auxílio Brasil e do Auxílio Gás.

A medida já havia ocorrido em agosto, mas em setembro, não. Integrantes do governo disseram que, mesmo antes do primeiro turno, já estava prevista a antecipação e há intenção de manter no começo do mês o pagamento dos benefícios.

Além disso, Bolsonaro divulgou em suas redes sociais que o governo vai anunciar o pagamento do 13º do Auxílio Brasil para as mulheres.

O mandatário não deu detalhes sobre a ampliação do benefício, por exemplo, quando será anunciado oficialmente e começará a ser pago. Apenas publicou uma imagem em que está dito que o presidente efetuará o anúncio.

Lula teve 48,43% dos votos válidos no domingo (2), contra 43,20% de Bolsonaro. Faltou 1,8 milhão de votos para o petista levar a fatura no primeiro turno.

Apesar de o desempenho eleitoral de Bolsonaro ter sido superior ao que indicavam as pesquisas, os números estavam mais próximos dos levantamentos da campanha, que já apostavam no segundo turno.

Bolsonaro, por sua vez, teria ficado surpreso e chateado. Segundo relatos, ele acreditava na possibilidade de levar em primeiro turno a disputa —na tese apelidada por ele de Datapovo, para desacreditar pesquisas eleitorais.

O chefe do Executivo conversou com jornalistas no Palácio da Alvorada, na noite de domingo, após o resultado das urnas. Ele admitiu a perda de voto da população mais vulnerável e atribuiu isso à perda do poder aquisitivo.

"Entendo que teve muito voto que foi pela condição do povo brasileiro que sentiu o aumento dos produtos, em especial da cesta básica. Entendo que é uma vontade de mudar por parte da população, mas tem certas mudanças que podem vir para pior", disse, referindo-se a Lula e à esquerda.

Bolsonaro também reconheceu que sua mensagem não chegou a toda a população. "A gente tentou durante a campanha mostrar esse outro lado, mas parece que não atingiu a camada mais importante da sociedade", completou.

O presidente atribuiu a queda no poder aquisitivo do país à condução da pandemia da Covid-19 por estados e municípios, que realizaram o isolamento social. Sem vacina, à época, era a única forma de tentar impedir o avanço do vírus, mas Bolsonaro era contrário.

"Tenho certeza que vamos poder mostrar para essa parcela da sociedade que a mudança que porventura alguns querem pode ser pior", disse.

Entretanto, Bolsonaro afirmou ter confiança total no segundo turno e criticou institutos de pesquisa.

Enquanto o chefe do Executivo foi o mais votado nas regiões Sul, Centro-Oeste e em três estados do Sudeste, Lula liderou no Nordeste.

O atual mandatário teve 47,6% dos votos do Sudeste, região mais populosa do Brasil e foco principal das campanhas.

Ele também ganhou o Sul, historicamente bolsonarista, e Centro-Oeste. Nas duas regiões, teve mais de 53% dos votos.

Já Lula ganhou no Nordeste por 66,9% contra 26,8% de Bolsonaro. A região é a que mais tem famílias beneficiárias do Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família e uma das principais apostas do presidente desde o princípio da campanha.

Aliados, no início do ano, chegaram a defender que o valor fosse de R$ 800, mas ganhou a proposta de R$ 400 da equipe econômica.

Diante da alta inflação e pressionado pelo calendário eleitoral, o governo decidiu conceder o benefício de R$ 600 até dezembro.

Apesar de Bolsonaro já ter dito que o valor seguirá o mesmo no próximo ano, a proposta não consta no orçamento de 2023. Ela terá de ser enviada ao Congresso em novembro, analisada e aprovada pelos parlamentares.

Em uma de suas primeiras manifestações, nesta segunda, Bolsonaro pediu para que seus apoiadores "mantenham o foco" e disse que um dos mais difíceis objetivos já foi alcançado. O mandatário também disse já ter o necessário para "libertar o Brasil do autoritarismo".

"Mantenham o foco! Um dos principais e mais difíceis objetivos foi alcançado ontem. Nós já temos o que é necessário para libertar o Brasil do autoritarismo, da chantagem e da injustiça que tanto nos indigna. A mudança mais profunda do país já começou! Não é o povo que deve temer", escreveu em suas redes sociais.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, também se manifestou nesta segunda. Ele disse que o primeiro turno da eleição foi um "plebiscito" e, para ele, o Brasil escolheu a derrota de Lula.

"Lula foi o grande derrotado do primeiro turno e o Brasil disse em voz alta e clara: queremos ouvir o que o presidente Bolsonaro tem a dizer! Queremos olhar para o futuro e não voltar para o passado", completou o ministro nas redes sociais.

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