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Eleições 2022

Caso Paraisópolis traz debate nacionalizado de volta à vida real

Encontro, por vezes, parecia uma disputa pelo Palácio do Planalto, não para o dos Bandeirantes

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São Paulo

"Supera, Haddad", disse Tarcísio de Freitas (Republicanos) em determinado momento do debate na TV Globo, sobre a derrota que o adversário teve para o presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018.

A ideia era criticar o petista por estar obcecado em trazer temas nacionais ao evento, mas a recomendação valeria também para o próprio ex-ministro da Infraestrutura.

O encontro por vezes parecia uma disputa pelo Palácio do Planalto, não para o dos Bandeirantes, como mostra uma rápida lista dos temas tratados pela dupla: Auxílio Brasil, reajuste do salário mínimo, Pix, independência do Banco Central, falta de oxigênio em Manaus, vacinação contra a Covid, sigilos de documentos, transposição do rio São Francisco, confiabilidade das urnas eletrônicas.

Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas no debate - Reprodução/TV Globo

Em outros momentos, os embates lembraram um seminário de faculdade de humanidades, com discussões sobre o papel do Estado, eficácia do setor privado, intervencionismo e ideologias. O estilo professoral de ambos, que têm imagem mais técnica do que a média dos políticos, colaborou para a percepção.

O problema é que se tratava de um evento, teoricamente, para discutir problemas concretos do estado de São Paulo, e esses sofreram na retórica dos duelantes.

De um certo modo, o tom nacionalizado e acadêmico é algo compreensível. Com o país viciado em polarização e a tensão na corrida presidencial dominando o debate público, resta aos candidatos a governos tentar pegar uma carona no sentimento geral da nação.

É uma relação de mão dupla. Tarcísio e Haddad sabem que precisam grudar suas campanhas nas dos padrinhos nacionais, respectivamente Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E, ao grudarem, acabam fazendo um certo "serviço sujo" para eles.

O ex-ministro da Infraestrutura era um virtual desconhecido dos paulistas até seis meses atrás, e sua única opção é assumir-se como coadjuvante de Bolsonaro, o que traz as vantagens e desvantagens de uma associação total ao presidente. Subiu rápido nas pesquisas, mas herdou também sua rejeição.

Haddad, por sua vez, faz a aposta na reprodução em nível estadual do cenário nacional, e busca ser arrastado para a vitória por inércia ao colar no sucesso de Lula.

Por isso, tome cobrança de Tarcísio sobre o ministro da Fazenda de Lula e de Haddad sobre os planos do presidente para o salário mínimo.

Essa foi uma das razões pelas quais temas que falam ao dia a dia dos paulistas acabaram muito pouco explorados, quando não omitidos por completo. Pedágios, qualidade das escolas, preservação ambiental, saneamento, turismo, entre outros, sumiram. Mesmo a sempre palpitante segurança pública teve menos destaque do que se poderia esperar, apesar da polêmica sobre as câmeras das fardas de policiais.

O debate já se encaminhava para o final quando finalmente entrou em cena o tema mais quente deste final de campanha, a revelação, feita pela Folha, de que um integrante da equipe de Tarcísio mandou um cinegrafista apagar imagens de um tiroteio na favela de Paraisópolis.

A campanha de Haddad sentiu cheiro de queimado no campo adversário ao tratar de um episódio ainda mal explicado, e relacionado a uma área preferencial da direita, a segurança pública. A Tarcísio restou acusar o adversário de sensacionalismo barato na exploração do tema.

A entrada tardia no debate de um pouco de "vida real", ainda que em um episódio violento como o da favela paulistana, lembrou a todos o que está em jogo na disputa paulista. É certamente algo mais do que as obras do PT em Cuba, ou a maneira pela qual oxigênio foi enviado para Manaus.

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