É falso que site noticiou aumento de patrocínio a Neymar após vídeo com apoio a Bolsonaro

Posts com conteúdo falso sobre o jogador viralizaram nas redes

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São Paulo

É falso post com imagem que seria a captura de tela de uma notícia do portal GE, da Globo, com o título "Puma aumenta patrocínio de Neymar após hit no TikTok".

Em uma das publicações há uma legenda em que o autor afirma: "A mídia podre está tentando cancelar o Neymar e prejudicar o contrato com a Puma. Só que a Puma adorou a visibilidade. Golaço! #VaiSerNoPrumeiroTurno" referindo-se ao vídeo publicado pelo jogador no TikTok em 29 de setembro, no qual ele declara apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial.

Como verificado pelo Projeto Comprova, um outro post viral não usa a imagem com a falsa notícia do GE, mas afirma que "Neymar assinou o contrato de patrocínio individual mais caro do esporte (U$ 30 milhões/ano). Puma aumentou o patrocínio do brasileiro após hit no Tiktok".

A imagem da "notícia" apresenta um layout semelhante ao utilizado pelas publicações do portal GE. Contudo, ao pesquisar pelo título da suposta notícia no Google não há retorno para nenhum conteúdo publicado em qualquer site com esse teor.

Neymar está de casaco preto com "Puma" em amarelo estampado no peito. Ele faz o número 2 com cada uma das mãos. Está de boné escuro
Captura de tela do vídeo em que Neymar declara voto em Bolsonaro - Reprodução/Twitter

Procurada, a equipe de comunicação do site de notícias esportivas afirmou que "essa matéria não existe no GE". A assessoria de imprensa de Neymar não quis comentar, disse apenas "não ter nada a declarar sobre um absurdo desses".

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação

Até o dia 2 de outubro, a postagem no Twitter somou 6,5 mil compartilhamentos e mais de 38,9 mil curtidas. Outro tuíte, que reproduziu o conteúdo da suposta notícia, somou 442 compartilhamentos e 8 mil curtidas.

No Facebook, a publicação tinha mil curtidas, 243 compartilhamentos e 103 comentários.

O que diz o autor

A reportagem enviou mensagem privada para um dos perfis do Facebook que compartilhou o print com a manchete falsa, mas não houve retorno até a publicação da verificação.

Já o perfil do Twitter @genioneymarjr1, que em sua postagem não usou o print da notícia falsa, disse que usou como fonte para a publicação uma outra postagem da rede social, feita em inglês.

Esse post, no entanto, não menciona qualquer aumento concedido pela Puma a Neymar. Em tradução livre, o tweet, feito pelo usuário "@slashviolence", diz apenas: "Estou curioso se a @PUMA, que assinou com @neymarjr o contrato de patrocínio individual mais caro do esporte’ (U$ 30 milhões/ano), se sente confortável em ter sua marca sendo exibida enquanto ele declara apoio a uma campanha racista, homofóbica de um candidato presidencial de extrema direita no Brasil."

O perfil do Twitter que respondeu a verificação também citou como fonte para a publicação o print da suposta matéria do GE sobre o tema, e disse que o site teria apagado o conteúdo após publicá-lo.

Como verificamos

O primeiro passo foi fazer uma busca no site do GE com o título que aparece nos posts falsos. Como a pesquisa não trouxe nenhum resultado, a reportagem falou com a área de comunicação do veículo via mensagem de WhatsApp.

Também pelo aplicativo, contatou a assessoria de imprensa do jogador. Por e-mail, tentamos falar com a Puma, mas recebemos uma resposta automática informando que a equipe só retorna ao trabalho em 3 de outubro.

Site não publicou matéria

O layout da manchete com a notícia é semelhante ao das publicações do G1 e do GE. Ao fazer buscas de conteúdo no GE a partir das palavras-chave "Neymar" ou "Puma", no entanto, não há qualquer matéria com teor semelhante à afirmação feita na postagem.

Em contato com o Comprova, a assessoria de comunicação do GE afirmou que o conteúdo é falso e que "a matéria não existe no site". Além disso, disse também que não há nenhum repórter com o nome de Fernando Mendes na equipe da editoria de esportes, como aparece na imagem.

Ao fazer buscas pelo nome do repórter no Google, também não há retorno para nenhum conteúdo publicado no veículo jornalístico com essa assinatura.

Além disso, existem outros elementos que indicam que a imagem não foi feita a partir de uma notícia publicada. Nas publicações do portal, logo após a assinatura do nome do repórter há a indicação da cidade e/ou país de onde o conteúdo foi escrito, o que não acontece no print da desinformação.

Ao lado da assinatura das matérias publicadas no GE, também estão os ícones das redes sociais Facebook, Twitter e WhatsApp para compartilhamento do material. No print da notícia falsa estão o logo de mais duas redes sociais: LinkedIn e Pinterest, outro indício de que o conteúdo verificado não é verdadeiro.

O patrocínio

O acordo entre Neymar e Puma foi anunciado pelo jogador em 12 de setembro de 2020. Em um vídeo no Twitter, Neymar, já no time francês Paris Saint-Germain, dizia querer que "a [chuteira] King reine em campo novamente e inspire gerações". Até 2 de outubro, o post tinha 152,2 mil curtidas e mais de 18,1 mil compartilhamentos.

Na época, a revista Veja informou que "a remuneração do craque chegaria a 25 milhões de euros anuais", valor superior aos recebidos por Cristiano Ronaldo com a Nike e Lionel Messi com a Adidas. Segundo a revista, o patrocínio da Puma a Neymar seria o maior acordo individual de patrocínio esportivo da história do futebol. A informação também foi repercutida pelo site do canal ESPN.

O contrato se iniciou logo após a Nike romper com Neymar, em agosto daquele ano, encerrando uma parceria que começara antes mesmo de ele se tornar jogador profissional do Santos. De acordo com o UOL, o motivo foi a falta de um acordo sobre valores de uma renovação.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre eleições, políticas públicas e a pandemia. O conteúdo suspeito verificado diz respeito a uma suposta consequência após a divulgação de apoio político de uma figura pública, no caso o jogador de futebol Neymar Jr, ao candidato presidenciável, Jair Bolsonaro. O conteúdo falso envolve ainda uma das maiores marcas de artigos esportivos do mundo.

Neste fim de semana, a equipe do Comprova se uniu a outras seis iniciativas de checagem de fatos no Brasil para verificar conjuntamente desinformação sobre as eleições. A parceria reúne Comprova, Lupa, AFP, Aos Fatos, Boatos.org, E-Farsas e Fato ou Fake.

A investigação desse conteúdo foi feita por Folha de S.Paulo, piauí, SBT, Estadão e UOL  e publicada em 2 de outubro pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 43 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por A Gazeta, imirante.com, Correio do Estado, O Povo, Correio Braziliense, SBT News e O Popular. 

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