Descrição de chapéu Eleições 2022

Lula mira lacunas do Sudeste e Bolsonaro, visitas à periferia no 2º turno

Campanha petista inclui até conversa informal com Cláudio Castro (PL), enquanto estratégia do presidente é atrair eleitores mais pobres

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São Paulo e Brasília

Para o segundo turno, o comando da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja um movimento mais radical para o centro, incluindo até a abertura de diálogo com políticos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PL). A estratégia tem o objetivo de conquistar espaços no Sudeste.

O petista teve neste domingo (2) 48,43% dos votos válidos, ante 43,2% do atual chefe do Executivo. Faltou 1,8 milhão de votos para o petista vencer no primeiro turno.

Já a campanha do presidente Bolsonaro, no dia seguinte ao primeiro turno, falou em ampliar a presença em agendas na periferia. A avaliação é que o adversário ainda lidera entre os mais pobres e que será preciso dialogar mais com esse segmento.

No primeiro turno, ele priorizou agendas com apoiadores e motociatas. Neste momento, precisa se aproximar dos que representam a maior parcela dos eleitores, que ganham até dois salários mínimos.

Montagem com fotos de Lula e Bolsonaro, lado a lado, sorrindo; Lula aplaude na foto, enquanto Bolsonaro faz um coração com as mãos
Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro - Reuters

O movimento da campanha de Lula, por sua vez, mira, entre outros locais, Minas Gerais. No estado, para alargar a vantagem de votos obtida no primeiro turno, os petistas pretendem reabrir conversas iniciadas na pré-campanha com o governador Romeu Zema (Novo), reeleito neste domingo.

À época, desenhava-se um pacto de não agressão apelidado de "Luzema". Pelo acordo em discussão na pré-campanha, o PT lançaria apenas o deputado federal Reginaldo Lopes para o Senado, liberando seus eleitores na disputa ao governo. Lula, no entanto, foi convencido da necessidade de um palanque para governador e apoiou o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD).

Hoje integrantes da cúpula da campanha dizem que Lula foi induzido a erro. Agora a ideia é propor a Zema um acordo informal, segundo o qual ele apoiaria Bolsonaro sem fazer uma campanha apaixonada pelo presidente.

Em reunião nesta segunda-feira (3), Lula afirmou que a busca por apoios não será "ideológica".

"Agora vamos conversar com todas as forças políticas que têm voto, que tenham representatividade e significância política neste país, para que a gente consiga somar num bloco os democratas contra aqueles que não são democratas", disse no encontro com coordenadores da campanha e partidos que o apoiam.

O ex-presidente também afirmou que haverá "menos conversa entre nós e mais conversa com o eleitor". "Não precisa conversar com quem a gente já conhece e sabe que já votou e vai votar na gente. Aqueles que parecem que não gostam da gente, que não votam na gente, que não gostam dos nossos partidos, é com esses que vamos conversar."

Durante a reunião, o vice da chapa, ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), também defendeu amplitude nas negociações políticas. Segundo participantes, Alckmin afirmou que "as eleições estão nas mãos do centro e da centro-direita".

No encontro, o candidato do PT ao Governo de São Paulo, Fernando Haddad, se comprometeu a procurar o governador Rodrigo Garcia (PSDB), que foi derrotado e não disputará o segundo turno. Haddad irá disputar o segundo turno com Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é apoiado por Bolsonaro.

A campanha de Lula inclui até mesmo uma conversa informal com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), reeleito no domingo. No estado, a ideia é pedir uma oposição respeitosa, com a promessa de relação amistosa caso Lula seja eleito. O presidente da Assembleia do Rio, André Ceciliano (PT), seria porta-voz da oferta.

Enquanto isso, a campanha de Bolsonaro aposta que os programas eleitorais serão ainda mais relevantes no segundo turno —nesta etapa, os dois candidatos à Presidência têm o mesmo tempo de rádio e TV. Para reforçá-los, a leitura é que o presidente precisará gravar mais fora do estúdio, como foi na primeira fase da eleição.

Aliados do chefe do Executivo veem que o eleitorado do presidente está fidelizado e que ele precisa conquistar votos fora da bolha.

Já participantes da reunião petista em São Paulo apontaram o desempenho nas redes sociais como um dos principais problemas da campanha. A ideia é investir mais em impulsionamento na internet.

Em conversa com jornalistas na noite de domingo, após o resultado das urnas, Bolsonaro admitiu a perda de voto da população mais vulnerável e atribuiu isso à queda do poder aquisitivo.

"Entendo que teve muito voto que foi pela condição do povo brasileiro que sentiu o aumento dos produtos, em especial da cesta básica. Entendo que é uma vontade de mudar por parte da população, mas tem certas mudanças que podem vir para pior", disse, referindo-se a Lula e à esquerda.

Bolsonaro também disse que sua mensagem não chegou a toda a população. "A gente tentou durante a campanha mostrar esse outro lado, mas parece que não atingiu a camada mais importante da sociedade", completou.

O presidente atribuiu a perda no poder aquisitivo à condução da pandemia por estados e municípios, que realizaram o isolamento social. Sem vacina, à época, era a única forma de tentar impedir o avanço do vírus, mas Bolsonaro era contrário.

Como um gesto aos eleitores mais pobres, a Caixa Econômica Federal anunciou nesta segunda-feira a antecipação, do dia 18 para dia 11, do pagamento do Auxílio Brasil e do Auxílio Gás.

A medida já havia ocorrido em agosto, mas em setembro, não. Integrantes do governo disseram que, mesmo antes do primeiro turno, já estava prevista a antecipação e há a intenção de manter no começo do mês o pagamento dos benefícios.

Enquanto o chefe do Executivo foi o mais votado nas regiões Sul, Centro-Oeste e em três estados do Sudeste, Lula liderou no Nordeste, por 66,9% contra 26,8% de Bolsonaro.

A região é a que mais tem famílias beneficiárias do Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família e uma das principais apostas do presidente desde o princípio da campanha.

Aliados, no início do ano, chegaram a defender que o valor fosse de R$ 800, mas ganhou a proposta de R$ 400 da equipe econômica. Diante da alta inflação e pressionado pelo calendário eleitoral, o governo decidiu conceder o benefício de R$ 600 até dezembro.

Apesar de Bolsonaro já ter dito que o valor seguirá o mesmo no próximo ano, a proposta não consta no orçamento de 2023. Ela terá de ser enviada ao Congresso em novembro.

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