Descrição de chapéu transição de governo

Lula culpa Bolsonaro e bolsonaristas raivosos ao justificar uso de jato de empresário

Presidente eleito diz que precisa cuidar de sua segurança e indica que poderá usar aeronave emprestada mais vezes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Lisboa

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) responsabilizou nesta sexta-feira (18) Jair Bolsonaro e apoiadores "raivosos" do atual presidente para a utilização do jato de um amigo em viagem ao exterior.

Em Lisboa, Lula disse que "um presidente responsável teria oferecido avião da FAB" para ele ir à COP27, no Egito, de forma que não precisasse utilizar a aeronave de um empresário.

O petista afirmou ainda que precisa cuidar da sua segurança diante de "bolsonaristas raivosos se espalhando pelo mundo afora". E indicou que poderá usar a aeronave emprestada mais vezes antes de assumir a Presidência.

Lula viajou na última segunda (14) à COP27, em Sharm el-Sheikh, no jato de José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.

O presidente eleito deixou a conferência da ONU sobre mudanças climáticas no Egito e seguiu para Portugal no mesmo jato, evitando comentar nos últimos dias a utilização da aeronave, alvo de questionamentos da oposição a Lula no Brasil.

O presidente eleito Lula ao ser recebido no restaurante Cícero Bistrot, em Lisboa, durante visita a Portugal - Divulgação

Lula afirmou em Lisboa que havia sido convidado por governadores da Amazônia e pelo governo do Egito para ir à COP27, mas que ninguém poderia pagar sua viagem. Disse que, por isso, aceitou a oferta de Seripieri.

"Tinha um amigo que queria ir na COP e tinha um avião. Fui com ele. Um avião novo, de boa qualidade, com muita segurança. É importante lembrar que um presidente eleito tem que cuidar da sua segurança, sobretudo num país em que tem bolsonaristas raivosos se espalhando pelo mundo afora", afirmou.

"Você sabe que segurança é uma coisa séria, e quem tem responsabilidade de cuidar somos nós. Se o Estado brasileiro fosse democrata e a gente tivesse um presidente responsável, quem sabe ele tivesse oferecido um avião da FAB para me levar. Mas não ofereceu. Paciência", completou.

Lula disse ainda que era grato a Seripieri pelo empréstimo do avião. "Espero que ele esteja disposto em outras oportunidades —antes de eu assumir a Presidência, porque depois eu não posso—, se eu tiver alguma viagem e ele quiser me emprestar o avião e ir junto comigo, eu vou agradecer", completou.

Antes de ser questionado pela imprensa sobre a utilização do jato, Lula criticou nesta sexta ataques de grupos bolsonaristas a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) nos últimos dias em evento em Nova York.

"Vi os ataques que alguns ministros da Suprema Corte sofreram em Nova York. Não posso achar que isso faz parte da democracia. A democracia exige compromissos e limites. O país precisa voltar à paz", afirmou.

Em relação ao uso do jato, aliados de Lula reconheceram desgaste político, mas saíram em defesa do presidente eleito sob a alegação de que não há desvio ético nem ilegalidade jurídica.

O constrangimento é exposto pela necessidade de ter que dar explicações públicas e pelas críticas de opositores, embora auxiliares de Lula digam ser uma "crise artificial".

Como revelou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, a aeronave em que viajou Lula é do modelo Gulfstream, com capacidade para transportar 12 pessoas e autonomia para voar direto ao Egito.

Lula e Seripieri são amigos há cerca de dez anos. Durante a campanha eleitoral deste ano, o empresário foi um dos primeiros com quem o petista concordou em se reunir para tratar de suas propostas de governo.

O empresário firmou acordo de delação com o Ministério Público em 2020 e confessou o crime eleitoral de caixa dois em um caso envolvendo o senador tucano José Serra (SP).

Seripieri Filho ficou preso por três dias em julho de 2020 em decorrência da Operação Paralelo 23, que investigou pagamentos para a campanha de Serra ao Senado em 2014.

Ele se tornou réu acusado de corrupção, lavagem e caixa dois na Justiça Eleitoral de São Paulo. O senador também responde ao processo. A investigação ocorreu no âmbito de um conjunto de inquéritos apelidado de "Lava Jato Eleitoral", por envolver desdobramentos de delações enviados a esse braço do Judiciário.

No fim de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso homologou acordo de colaboração de Seripieri firmado com a Procuradoria-Geral da República. O compromisso previa o pagamento de R$ 200 milhões pelo empresário como ressarcimento aos cofres públicos.

Os termos do acordo, assim como detalhes dos depoimentos, permanecem sigilosos até hoje.

Na viagem a Lisboa após participar da COP27 no Egito, Lula se reuniu na noite desta sexta com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa.

Durante a campanha do segundo turno das eleições brasileiras, o premiê socialista gravou um vídeo de apoio à candidatura petista. Ao recepcionar Lula e Janja na entrada da residência oficial do governo, António Costa posou para os fotógrafos fazendo um sinal de L com a mão.

Anteriormente, Lula foi recebido pelo presidente luso, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, sede da Presidência. O encontro foi adiantado em cerca de meia hora para permitir uma breve participação presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, que tivera de uma reunião mais cedo com o chefe de Estado luso.

Após 15 minutos de conversa, o líder moçambicano deixou o local. Lula e Marcelo Rebelo de Sousa continuaram a conversa, que também teve a participação de Fernando Haddad e do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, por mais uma hora e 15 minutos.

Os encontros com as autoridades lusas marcam a primeira agenda bilateral do petista no exterior depois de participar da COP27, no Egito.

Nos dois encontros, houve uma pequena concentração de manifestantes contrários à vitória de Lula, mas também de apoiadores do petista. Os protestos foram pacíficos, mas houve uma espécie de "batalha de gritos" entre os dois lados.

Em alguns momentos de maior exaltação, a polícia portuguesa precisou intervir para delimitar um espaço para bolsonaristas e lulistas.

Antes de cumprir a agenda oficial, Lula almoçou no restaurante Cícero, no bairro nobre de Campo de Ourique. A informação de que o presidente eleito estava no local se espalhou antes que ele terminasse a refeição, e dezenas de apoiadores se concentraram na porta do estabelecimento para saudar o petista.

O restaurante tem como um dos sócios o economista Paulo Dalla Nora Macedo. O ex-banqueiro, que já foi um ferrenho defensor da terceira via, participou de uma intensa mobilização para convencer empresários a abraçarem a campanha petista.

O estabelecimento foi fechado para a comitiva e para um pequeno grupo de convidados, entre os quais o ministro do STF Gilmar Mendes.

Antes de retornar ao Brasil, Lula vai se reunir, na manhã de sábado (19), com representantes de movimentos políticos e sociais brasileiros em Portugal.

Nos dois turnos, Lula venceu Jair Bolsonaro (PL) em todas as três cidades portuguesas onde os brasileiros votaram.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.