Dino cancela em 24 horas indicação de diretor-geral da PRF que defendeu prisão de Lula

Futuro ministro da Justiça citou 'polêmica nas últimas horas' e decidiu nomear novo nome para o órgão

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Brasília

O futuro ministro da Justiça do governo Lula (PT), Flávio Dino (PSB), decidiu cancelar a indicação do policial rodoviário Edmar Camata para o comando da PRF (Polícia Rodoviária Federal).

Como mostrou a coluna da Mônica Bergamo, o servidor foi no passado um entusiasta da Lava Jato e da atuação de Sergio Moro, hoje senador eleito pela União Brasil-PR. Camata também usou as redes sociais para manifestar, na época, apoio à prisão do petista, ocorrida em 2018.

O então procurador Deltan Dallagnol e o policial federal rodoviário Edmar Camata fazem selfie durante palestra, em julho de 2017 - Edmar Camata no Facebook

Dino divulgou a anulação a jornalistas nesta quarta (21), 24 horas após ter anunciado a escolha, na terça (20).

"Tivemos uma polêmica nas últimas horas e o meu entendimento e da nossa equipe é que seria mais adequado proceder a essa substituição", disse.

Segundo o futuro ministro, a decisão foi baseada em uma avaliação "puramente política". "Preciso de uma equipe que, além de unida, tenha todas as condições de levar o seu trabalho adiante. Qualquer que seja o dirigente que esteja cercado de polêmicas, é muito difícil que em uma área sensível, o dirigente consiga se dedicar com a largueza e a profundidade necessária, esta foi a razão da substituição", afirmou.

Dino anunciou que Antonio Fernando Oliveira será o novo diretor da PRF. Ele foi superintendente da corporação no Maranhão. Formado em direito, Oliveira é policial federal desde 1994 e pós-graduado em direito tributário.

Já Camata, que teve a indicação retirada para comandar a PRF, comanda atualmente a Secretaria de Estado de Controle e Transparência do Espírito Santo.

Formado em direito pela UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), ingressou na PRF em 2006. É mestre em políticas anticorrupção pela Universidade de Salamanca, na Espanha, e tem especializações em gestão integrada em segurança pública e Ministério Público e Defesa da Ordem Jurídica, além de MBA em gestão pública.

O futuro ministro comentou que havia feito pesquisa a respeito do passado de Camata, mas que não tomou conhecimento sobre algumas postagens nas redes sociais. O que mais pesou, segundo ele, foi a defesa que o policial fez de que Lula fosse preso.

"O fato, hoje, é que Lula está preso. Também estão presos Cabral, Cunha, Geddel, Vaccari, André Vargas, Henrique Alves, Palocci, Gim Argelo… todos presos. Todos inocentes? Todos sem provas? Lula não foi o primeiro. Ao contrário, sua prisão foi cercada de precauções, para muitos, desnecessárias", escreveu Camata em uma rede social em 13 de abril de 2018.

Dino afirmou que a decisão de substituí-lo foi "estritamente" pessoal e que não houve pedido de Lula para que ele mudasse a decisão. Tanto o presidente eleito como o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) foram informados da troca.

"Nós fazemos uma pesquisa de todas as pessoas e levamos em conta, menos as visões pretéritas, e mais o presente e o futuro, porque somente os mortos não evoluem. Nós precisamos, ao olhar o futuro, examinar se aquele líder tem condições políticas de conduzir a sua atribuição", disse.

No dia anterior, Dino fez uma série de elogios ao policial. "Faço questão de ressaltar o excelente currículo do Camata. Tudo o que foi dito permanece. Não há julgamento de desvalor, mas apenas uma apuração puramente política", disse.

De acordo com Dino, Camata foi informado da substituição nesta quarta, em conversa com o seu futuro secretário-executivo, Ricardo Capelli. Ele foi comunicado de que, "em face da polêmica, seria melhor para ele próprio, para nós todos, que tivesse uma pessoa que não tivesse os questionamentos [a respeito do passado lavajatista]".

O futuro chefe da PRF substituirá Silvinei Vasques no cargo de diretor-geral da PRF, exonerado nesta terça-feira (20) pelo governo Bolsonaro.

Vasques é investigado por três atos relacionados a um possível favorecimento ao presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições deste ano. Um deles é a suposta leniência de Vasques em lidar com os bloqueios de rodovias organizados por caminhoneiros a partir da declaração da derrota de Bolsonaro pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Dino afirmou na terça que as investigações administrativas e eventuais investigações policiais terão seguimento "nos termos da lei". "

Além da substituição do indicado para comandar a PRF, nesta quarta, o futuro ministro da Justiça anunciou outros cinco nomes que vão compor a equipe.

Ele indicou Martha Rodrigues de Assis Machado para a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; Tadeu Alencar para a Secretario Nacional de Segurança Pública; Elias Vaz, para a Secretario Nacional de Assuntos Legislativos; e o coronel Nivaldo César Restivo para a Secretaria Nacional de Políticas Penais, que vai incorporar o Depen (Departamento Nacional Penitenciário).

Além deles, Roseli Faria será diretora de promoção de Direitos, e Jonata Galvão, diretor de Acesso à Justiça e Mediação de Conflitos.

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