Lula adota senha para escolha de ministros: 'Vou precisar de você'

Presidente eleito diz ter 80% do ministério 'na cabeça', mas que só vai anunciar nomes após ser diplomado

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Brasília

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem enviado sinais que tornam alguns de seus aliados quase confirmados na futura equipe de ministros do novo governo, mesmo sem necessariamente saber em qual pasta.

De acordo com pessoas ouvidas pela reportagem, a senha é dada pelo petista quando ele avisa que vai "precisar" do político.

Ao menos três pessoas receberam o código: Flávio Dino (PSB-MA), Rui Costa (PT-BA) e José Múcio Monteiro, ex-ministro do TCU (Tribunal de Contas da União).

Os três ouviram de Lula, em diferentes momentos, que ele precisará deles, numa sinalização de que devem integrar o ministério.

O presidente eleito disse a jornalistas na sexta-feira (2) que tem 80% do ministério "na cabeça", mas que só vai anunciar os nomes após ser diplomado, em cerimônia marcada para 12 de dezembro.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante entrevista no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil)
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante entrevista no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) - Evaristo Sá/AFP

Lula fez um gesto público a Dino ainda em setembro, na campanha. Durante um comício em São Luís, o então candidato disse ao ex-governador do Maranhão que se preparasse, pois ficaria pouco tempo como senador, cargo para o qual foi eleito.

"Esse Flávio Dino, ele que se prepare. Ele vai ser eleito senador, mas não será senador por muito tempo. Se prepare, porque vai ter muita tarefa neste país", afirmou Lula. Dino é dado como certo no Ministério da Justiça, que provavelmente englobará também a Segurança Pública.

Embora o presidente eleito tenha prometido que criaria uma pasta própria para tratar de temas ligados à segurança e ter sob o guarda-chuva as polícias, entre elas a Federal, Dino e outros aliados de Lula defendem que tudo fique num ministério só. O ex-governador não gostaria de ocupar uma pasta esvaziada.

Já Múcio recebeu a senha na semana passada. Amigo de longa data de Lula, ele foi líder do governo do petista, ministro das Relações Institucionais e indicado ao TCU pelo próprio presidente eleito.

Lula e o ex-ministro do TCU tiveram uma reunião semana passada com o general Gonçalves Dias, que foi segurança de Lula no passado, o general Enzo Peri, ex-comandante do Exército, o brigadeiro Juniti Saito, ex-comandante da Aeronáutica, os brigadeiros Nivaldo Rossato e Ruy Chagas Mesquita, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e o ex-ministro Aloizio Mercadante.

Múcio foi convidado para participar do grupo que discute temas ligados à Defesa.

Numa conversa a sós com Lula, porém, o petista disse que gostaria de trabalhar com ele e que precisaria de Múcio, sem indicar exatamente para qual cargo. O ex-ministro do TCU respondeu, dizendo que Lula poderia contar com ele para o que precisasse.

Agora, pessoas próximas de Múcio usam uma analogia para ilustrar a situação atual. Dizem que o amigo de Lula já tirou a carteira de motorista, mas falta o departamento de trânsito entregá-la.

Ou seja, falta Lula anunciar o nome do ministro ou ter uma nova conversa com o convite formal para ele chefiar o Ministério da Defesa. Enquanto isso, Múcio foi ao Recife, na quinta-feira (1º), encerrar sua empresa de consultoria. O retorno dele está previsto para este domingo (4).

Além disso, Lula acatou uma sugestão feita pelo ex-ministro do TCU sobre a transição na área.

Múcio avaliou que, no lugar de constituir um grupo com ex-comandantes para fazer a transição na área, o ideal era indicar logo o ministro e os comandantes das respectivas Forças Armadas para que o processo seja tocado por aqueles que assumirão a pasta.

Por isso, Lula desistiu de anunciar um grupo de trabalho dedicado à Defesa, como tem feito com outras áreas, para fazer a escalação do time titular da área. Nesta semana, Lula ouviu elogios a Múcio em encontros com ministros do Judiciário e atores políticos.

Outro aliado do petista que recebeu a senha foi Rui Costa (PT), governador da Bahia.

Em viagem de alguns dias no estado para descansar, Lula disse que precisaria do aliado. Como fez com outros, não especificou para o que precisaria dele. Mas desde então, Costa tem recebido sinais de que Lula gostaria de conversar com ele, em gesto de que será convidado para ser ministro.

O governador da Bahia tem preferência por comandar pastas que demandem mais gestão do que articulação política necessariamente.

Ele é hoje o nome mais cotado para assumir a Casa Civil de Lula. Numa reunião com petistas na semana passada, o presidente eleito afirmou que, para ele, é mais fácil desfalcar governadores do que senadores eleitos, porque precisará de um Senado forte.

A fala foi interpretada por senadores como um indicativo de que ele formalizará o convite a Costa, que encerra seu segundo mandato na Bahia em 31 de dezembro.

Em outra frente, Lula tem testado Fernando Haddad como ministro da Fazenda.

Na entrevista que deu na sexta, o presidente eleito não apontou quais ministérios devem ser recriados, mas disse que o desenho da Esplanada será similar ao de seu último mandato.

"A base do meu ministério será a base dos [ministérios] que eu tinha no segundo mandato, com uma coisa acrescida, o Ministério dos Povos Originários. Que ainda não sei se de cara será ministério ou uma secretaria especial ligada à Presidência."

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