Múcio, ex-ministro do TCU, é convidado para transição e cotado para o comando da Defesa

Convite é para que ele integre área da Defesa; ex-ministro tem previsão de conversa com Lula

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Brasília

A equipe de transição de Lula (PT) convidou José Múcio Monteiro, ex-ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), para integrar o grupo que tratará de temas ligados à área da Defesa.

O convite foi feito por integrantes da cúpula do PT em nome do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ainda na semana passada.

Auxiliares de Lula dizem que o ex-integrante da corte de contas é cotado para comandar o ministério ao qual estão subordinadas as Forças Armadas.

O futuro mandatário prefere um civil na pasta, a exemplo do que ocorreu em seus dois primeiros mandatos. Estratégia replicada por sua sucessora, Dilma Rousseff (PT).

O ex-ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) José Múcio Monteiro. - Pedro Ladeira/Folhapress

Antes de o nome de Múcio aparecer nas conversas da cúpula petista, há cerca de 15 dias, aliados de Lula conversaram com o ex-ministro Nelson Jobim, que já comandou a Defesa e auxilia a transição nos temas ligados à área. Ele, porém, tem dito não querer assumir a pasta e vê com simpatia o nome do ex-ministro do TCU.

Até a semana passada, Múcio indicava resistir à possibilidade de comandar o ministério e apontava o ex-ministro Aldo Rebelo (PDT) como uma opção palatável para o setor. Aldo tem boa relação com os militares, mas se afastou do PT e não tem apoios na cúpula do partido, o que dificulta a escolha de seu nome.

Embora tivesse dado sinais de que resistia a assumir um ministério, após ser convidado para integrar o grupo da Defesa, Múcio conversou com alguns ex-comandantes, entre eles o da Aeronáutica, Juniti Saito.

Aliados de Lula veem o ex-ministro do TCU como uma solução para pacificar as Forças Armadas pela alta capacidade de articulação. Mesmo sendo amigo do petista, Múcio também manteve bom relacionamento com o presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo.

A expectativa entre pessoas próximas a Lula é que ele sonde o ex-ministro para chefiar a Defesa em conversa prevista em Brasília nesta semana.

A composição do grupo técnico responsável pela Defesa —setor fortemente associado ao bolsonarismo e que tem resistências ao PT— é um dos assuntos que esperam definição.

Os grupos de trabalho de Defesa e Inteligência estão atrasados em relação aos demais. O governo de transição já anunciou 30 colegiados técnicos e mais de 400 pessoas para compô-los.

Uma parte da equipe de transição avalia que o ideal seria haver o anúncio do ministro e dos comandantes das Forças para que eles toquem a transição no lugar de criar um grupo formado por ex-integrantes das Forças para isso.

Amigo de Lula, ele integrou o TCU de 2009 a 2020. Foi indicado para o tribunal pelo petista, então em seu segundo mandato. Na ocasião, o ex-ministro era um dos auxiliares do petista no Palácio do Planalto, no comando da Secretaria de Relações Institucionais.

Além da confiança de Lula, Múcio tem boa interlocução com partidos –foi deputado quase 20 anos– e setores da máquina administrativa. Foi filiado ao antigo PFL, ao PSDB e ao PTB de Pernambuco. Presidiu o TCU entre 2019 e 2020, primeiros anos da gestão de Jair Bolsonaro (PL), e se aposentou antes do prazo compulsório, de 75 anos. Ele tinha 72 anos na ocasião.

As nove pessoas aparecem em pé, vibrando, em uma sala com carpete azul e uma mesa ao centro
O presidente eleito Lula, a futura primeira-dama Rosângela e os integrantes da equipe de transição assistem ao jogo do Brasil nesta segunda-feira (28) - Cláudio Kbene/Divulgação

Em dezembro de 2020, durante o 4º Fórum Nacional de Controle, evento que ocorreu via internet e contou com a participação do chefe do Executivo, Bolsonaro afirmou que Múcio, a que se referiu como amigo, tem comportamento conciliador e que busca consensos.

"Eu sou apaixonado por você, José Múcio. Gosto muito de Vossa Excelência", disse o presidente, que lamentou a aposentadoria precoce do então ministro, e afirmou que o ex-colega de Câmara seria bem-vindo se quisesse trabalhar no governo. Bolsonaro indicou o então ministro da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Oliveira, para o lugar de Múcio.

A equipe da transição tem tratado com discrição os assuntos relacionados às Forças Armadas, para não aprofundar a crise na relação com os militares.

Na última semana, os comandantes da Marinha, Aeronáutica e Exército decidiram dar a Lula a possibilidade de antecipar a indicação dos oficiais-generais que devem comandar as Forças no início de seu governo.

O assunto foi discutido com Bolsonaro na última quinta-feira (24). No encontro, segundo relatos de militares com conhecimento do assunto, o presidente teria aceitado assinar o decreto com as mudanças –sejam elas a nomeação dos indicados pela transição ou dos escolhidos internamente pelas Forças.

A ideia é nomear os novos indicados na última quinzena do ano.

O principal fiador da proposta é o comandante da FAB, Baptista Júnior. Ele determinou a auxiliares que organizem a passagem do comando para o dia 23 de dezembro. Não há confirmação de data nas outras duas Forças.

A expectativa de oficiais-generais da Aeronáutica é que, caso a equipe de transição não antecipe as indicações, Baptista Júnior deixe o cargo para que o tenente-brigadeiro mais velho da ativa assuma temporariamente as funções.

Integrantes da transição consultados pela Folha viram com estranheza a sugestão dos comandantes das Forças Armadas. No Exército, generais do Alto Comando avaliam que não há nenhuma mudança acertada até o momento, apesar da proposta apresentada aos aliados de Lula.

Um general afirmou, sob reserva, que a transição é assunto de governo e deveria envolver somente o Ministério da Defesa. As mudanças nas Forças Armadas, pela avaliação desse oficial, deveriam ocorrer após a posse –como ocorreu em todos os governos desde a redemocratização.

A equipe de Lula decidiu não fazer mudanças bruscas nas Forças Armadas. Para isso, os nomes que devem ser escolhidos são de oficiais-generais com mais tempo de carreira.

No Exército, os principais cotados são os generais de Exército Tomás Miguel Paiva, Julio Cesar de Arruda e Valério Stumpf.

Na Marinha, são avaliados os nomes dos almirantes de Esquadra Aguiar Freire, Marcos Sampaio Olsen e Marcelo Francisco Campos. Na FAB, o principal cotado é o tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno.

A equipe de transição de Lula tem o desafio de arrefecer os ânimos em uma área que, sem precedente desde a redemocratização, entrou no centro do debate político.

Capitão da reserva, o mandatário transformou a sua relação com os militares em capital político. O presidente usou as Forças Armadas em sua estratégia para questionar a segurança e a eficiência do sistema eletrônico de votação.

Após a derrota de Bolsonaro, os quartéis do Exército se tornaram local de peregrinação e de manifestações de seus apoiadores, com pedidos de intervenção federal.

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